Nos últimos anos houve um grande avanço na medicina veterinária e, com isso, os tutores passaram a ter uma maior preocupação em proporcionar melhor qualidade de vida aos seus animais de estimação, mantendo vacinas, vermífugos em dia e visitando o médico veterinário ao menos uma vez ao ano.
Entre os cuidados com a saúde dos pets, e que muitos tutores talvez não saibam, está também os cuidados com o coração. Assim como os seres humanos, cães e gatos podem sofrer com doenças cardíacas, e algumas raças são mais propensas do que outras.
Cavalier King Charles Spaniel , Doberman , Golden Retriever , Labrador Retriever , Maltês , Pinscher , Poodle , Rottweiler , Schnauzer e Yorkshire Terrier estão entre as que mais sofrem com problemas ligados ao coração.Algumas doenças são mais comuns em determinadas raças, também de acordo com o porte do animal.
De acordo com o médico veterinário Carlos Augusto Carvalho, as doenças cardíacas mais comuns entre os cachorros são as valvares mixomatosas , mais conhecidas como “doenças valvares”. Estas podem comprometer as válvulas que separam o átrio do ventrículo (valvas atrioventriculares) e, com isso, acontece uma “regurgitação do fluxo”, que pode desenvolver complicações ao paciente que sofre de insuficiência cardíaca congestiva (ICC).
“Existem doenças que são mais específicas de acordo com o porte ou raça do animal”, diz o cardiologista ao Canal do Pet. “Animais de menor porte, como o Pinscher, o Yorkshire Terrier, o Maltês e o Poodle, por exemplo, têm maior predisposição a desenvolver doenças valvares.”
A doença valvar mixomatosa é classificada em quatro estágios diferentes, chamados de “Estágio A”, “Estágio B”, “Estágio C” e “Estágio D”. São eles:
- Estágio A: quando o paciente apresenta predisposição a desenvolver uma doença, mesmo que ele não a apresente em nenhum momento durante a vida. “O Cavalier [King Charles Spaniel], por exemplo, já nasce com essa predisposição. Mesmo que ele não tenha a doença, ele se enquadra nessa classificação”, afirma o especialista;
- Estágio B1: quando o paciente já tem a doença, mas não apresenta nenhuma sintomatologia clínica e não tem nenhum comprometimento funcional do coração;
- Estágio B2: quando o paciente tem a doença e apresenta certo remodelamento cardíaco. “Remodelamento é quando acontece um aumento de volume das câmeras, ou hipertrofia de musculatura. Quando o coração já está sofrendo com alterações morfológicas”;
- Estágio C: quando o paciente já tem a doença, com o remodelamento, e já está em um estágio de congestão. O animal terá insuficiência cardíaca congestiva, o que agrava o quadro de saúde do paciente.
- Estágio D: quando o paciente é considerado refratário, apresentando um estado mais crítico. “Quando dificilmente conseguimos tirar o paciente do estado de congestão, porque o coração dele já está severamente comprometido.”
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Já os cães de grande porte, como o Golden Retriever, Rottweiler, Pastor Alemão e Doberman, têm maior predisposição a desenvolver a cardiomiopatia dilatada, doença que faz com que o coração tenha maior dificuldade em bobear o sangue pelo corpo e que pode levar o animal ao óbito de forma muito semelhante ao infarto.
“Os cachorros dificilmente vão sofrer infarto”, esclarece o cardiologista. “No entanto, acontece algo semelhante em doenças como a cardiomiopatia dilatada, que pode levar o animal a ter uma morte súbita.”
Nesses casos, segundo o especialista, o pet pode ter uma parada cardíaca e não resistir. “Não significa que ele teve um infarto, a morte súbita pode ter sido causada por algum problema que não foi descoberto ou que se agravou mesmo com o animal em tratamento.”
Raças braquicefálicas têm mais problemas de coração?
De acordo com o médico, não há uma relação direta entre a braquicefalia (focinho curto) e problemas cardíacos.
“ Pugs e Buldogues , por exemplo, têm predisposição a sofrer com doenças respiratórias , havendo maior comprometimento das vias aéreas. Esses problemas respiratórios, no entanto, podem comprometer as vias pulmonares que têm ligação com o coração, apresentando quadros de hipertensão pulmonar , o que aumenta a gravidade das doenças cardíacas”, esclarece o cardiologista.
Gatos também podem sofrer com problemas cardíacos
Os gatos também apresentam predisposição a determinadas doenças cardíacas, como a cardiopatia hipertrófica felina e, até mesmo, a cardiomiopatia dilatada. O cardiologista alerta que, no caso dos felinos, é preciso uma maior atenção, porque eles não costumam desenvolver sintomas visíveis.
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“Eles [os gatos] têm uma progressão muito silenciosa da doença. Por isso é importante que se faça o check-up anual dos animais de estimação, principalmente dos gatos, que tendem a ser mais silenciosos”, diz Augusto, que aponta ainda que os cães também têm fases mais silenciosas, em que não apresentam sintomas, porém é mais comum diagnosticar doenças nos caninos.
A médica veterinária Joana Portin, da Petlove, aponta que raças felinas como o Ragdoll e o Maine Coon têm maior predisposição em algumas doenças, como a cardiomiopatia hipertrófica.
“A cardiomiopatia hipertrófica felina tem o fator genético e racial envolvido, portanto, para evitar o desenvolvimento é necessário evitar o cruzamento de gatos com essa condição. Uma vez que o gato tem o gene, poderá desenvolver. A obesidade também agrava a condição cardíaca dos gatos, assim como as situações de estresse”, complementa Joana.
Problemas desde o nascimento
Entre os problemas cardíacos mais comuns, o cardiologista destaca as chamadas doenças congênitas, em que o animal já nasce com algum problema no coração.
“Morfologicamente falando, a doença acaba comprometendo a hemodinâmica do coração. Então é aquele filhote que começa a apresentar sintomas, sinais de desmaio, de tontura, e até mesmo morte súbita”, pontua Augusto.
“É importante ressaltar também que, quando se fala em doenças cardíacas, é comum achar que somente animais mais velhos apresentam sintomas. Mas não, mesmo os filhotes já podem nascer com algum problema no coração”, alerta o especialista, que destaca entre as raças mais comuns a terem problemas congênitos estão o Spitz Alemão , o Maltês e outras raças consideradas “mais puras”.
Exames cardíacos ajudam também a detectar problemas relacionados
Os exames, no entanto, são importantes também para identificar outros problemas que podem ou não estar relacionados ao coração, como é o caso da Nina, uma Yorkshire Terrier que realiza check-up anualmente com uma cardiologista.
“Nos exames cardiológicos – no ultrassom – a veterinária notou uma manchinha, no formato de uma bolha”, conta Patrícia Camargo, de Santos, no litoral paulista, tutora da Nina.
A “bolha”, explica Patrícia, estava localizada entre o coração e uma veia pulmonar. “Foi por meio dos exames cardiológicos que ela [veterinária cardiologista] conseguiu verificar essa manchinha. E, a partir daí, nós fizemos uma série de exames para tentar descobrir o que era.”
Nina foi encaminhada para um cardiologista em São Paulo, onde, após uma série de exames, foi descoberto por meio de uma tomografia que se tratava de um aneurisma.
“O aneurisma não é necessariamente um problema cardiológico, mas foi graças ao check-up com a cardiologista que nós descobrimos esse aneurisma entre o coração e a via pulmonar.”
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Desde que foi descoberto o problema, em janeiro de 2022, os cuidados com Nina foram redobrados, explica Patrícia. Foi preciso evitar ao máximo esforços excessivos, como passeios mais longos.
Graças aos exames preventivos, apesar do susto inicial, a cachorrinha pode levar uma vida normal, inclusive viajando com a família – com direito a uma viagem para os Estados Unidos , que ocorrerá em outubro deste ano.
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