A criação de cães ou gatos de raça pura não é problema quando feito de forma ética e responsável, visando a saúde e qualidade de vida dos animais
Blue Bird/pexels
A criação de cães ou gatos de raça pura não é problema quando feito de forma ética e responsável, visando a saúde e qualidade de vida dos animais

A criação de animais de raça tem desde o seu início o objetivo de atender funções específicas, muitas vezes técnicas, como ter um cão mais apropriado para funções como a o rastreio e a caça, o pastoreio, tração e carga, entre muitas outras.

Porém, muitas raças já se desprenderam de suas funções iniciais e passaram ser desejadas apenas pelo seu padrão estético – longe do natural – e que, muitas vezes, não têm tanta preocupação com a saúde do animal e se importa unicamente com sua aparência “fofa”.

Em países da Europa, como a Noruega , a criação de  raças braquicefálicas e propensas a problemas genéticos passaram a ser proibidas nos últimos anos. Entre elas, os Pugs, já foram apontados como cães “não naturais” , devido à sua saúde muito fragilizada.

Problemas como os apontados e, especialmente pelo grande número de animais abandonados, surgiu a famosa frase “não compre, adote”, que é defendida por grande parte dos protetores e ativistas da causa animal.

A comercialização de animais é um grande problema quando feita de forma irresponsável, por isso é sempre indicado que os tutores procurem por criadores responsáveis e éticos, que atendam a todas as exigências e tenham a documentação completa de seus cães.

A médica-veterinária Monique Rodrigues fala ao Canal do Pet sobre os princípios éticos na criação de cães de raça. Ela explica que essa criação é baseada na seleção genética dos animais com suas características ideais “como temperamento, movimentação, beleza, aptidão para o trabalho, esporte ou lazer”.

“A ética na criação deve levar em consideração as características ideais de cada raça, evitando-se animais com defeitos físicos, problemas hereditários e congênitos, além da individualidade de cada ser, matriz (fêmea) ou padreador (macho).”

Uma prática que, de certo modo, prejudica a imagem de criadores responsáveis, são as conhecidas “fábricas de filhotes”, que visam unicamente o lucro, em detrimento da saúde e bem-estar dos animais, principalmente das matrizes, que vivem presas apenas aguardando o próximo cio.

“Criadores mal-intencionados, interessados apenas no lucro e na rentabilidade da venda dos filhotes não se preocupam com a seleção de matrizes e padreadores saudáveis, bem alimentados, com vacinações e tratamentos em dia ou com acasalamentos programados”, pontua a veterinária. “Isso sim é um verdadeiro problema, estimulando as ‘fábricas de filhotes’, em que o índice de doenças e problemas genéticos aumentam muito".

Monique enfatiza que a responsabilidade na criação de animais é sempre do ser humano, que faz as escolhas, e não é ideal que os animais sofram ou paguem por decisões infelizes e cruéis daqueles que deveriam cuidar.

Além das mais apontadas, como  Buldogues e Pugs , Monique alerta que outras raças também sofrem com as mudanças não naturais, o que fragiliza a saúde desses pets. “Hoje as principais raças em que vemos essa ação humana são o Shi-TzuLhasa Apso e Maltês . Entrando na moda também hoje temos o Spitz Alemão ”, aponta.

Os problemas de saúde mais comuns em cães da raça Shih-Tzu

Lulu Pomerânia
Pixabay
Lulu Pomerânia

“Também não podemos generalizar que todo criador é ruim, aliás, a maioria não é, fazendo um bom trabalho, registrando seus animais em Clubes Cartoriais de Registro homologados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com controle de ninhadas e limites na criação”, afirma Monique.

A veterinária esclarece que, embora se apoie a adoção, os animais de raça são necessários e não devem ser “condenados” por isso. Ela lembra que o trabalho de certas raças em diferentes áreas como esporte, lazer, caça, companhia, beleza, policiamento, deve ser considerado.

“Como seria nosso policiamento sem a ajuda importante dos Pastores ( Alemão ou Belga ), Beagles , Labradores , Goldens , Cockers , Bloodhounds , entre outros... todas as raças foram criadas com uma função e devem ser mantidas, independentemente de amarmos também os lindos cães sem raça definida, nossos brasileiríssimo Vira-Latas .”

O aperfeiçoamento genético das raças

Após o cruzamento, é preciso estar pronto para cuidar de ninhada e oferecer tudo que precisam
reprodução shutterstock
Após o cruzamento, é preciso estar pronto para cuidar de ninhada e oferecer tudo que precisam

Muitos dos problemas genéticos fazem parte das raças, porém os problemas hereditários (passados de uma geração para a outra) podem e devem ser evitados pelos criadores, selecionando os animais mais saudáveis para a procriação e preservando os que possam ter algum problema de saúde.

Parte desses problemas de saúde, muitas vezes, vêm da procriação de animais de uma mesma família, o que deve ser evitado pelos criadores.

“A criação de cães de mesma linhagem não significa o acasalamento entre parentes até terceiro grau. Isso deve ser evitado sempre”, pontua a veterinária.

Monique explica que as raças possuem padrões pré-definidos por sua utilidade, fazendo com que apresentem características específicas. A criação meramente em busca de aspectos físicos (por estética) se torna um problema.

“O exagero nessas formas também é desfavorável e compromete a criação. Exemplos são raças com problemas nos olhos por acasalamentos que gerem animais com olhos verdes ou azuis, dificuldade respiratória em cães braquiocefálicos por acasalamento de cães portadores de problemas respiratórios.”

O problema das "fábricas de filhotes"

As ditas “fábricas de filhotes” caracterizam criadores que mantêm seus animais presos em jaulas minúsculas, sem qualquer liberdade ou afeto, vivendo apenas para a procriação, até que estejam com uma idade avançada ou adoeçam, sendo então descartadas.

Monique ressalta que o grande problema está na falta de escrúpulos na seleção, manutenção, alimentação e cuidados veterinários, fazendo com que os animais vivam em cubículos, sendo maltratados, mal alimentados e sem liberdade.

Contudo, a veterinária frisa que esse não é um padrão. “Existem ótimos criadores, que tratam seus animais com respeito e amor e que, ainda bem, são maioria”.

Os custos para se manter um animal de estimação

Muitas pessoas sonham em ter um pet de uma determinada raça, por terem algum tipo de ligação, ou simplesmente por acharem fofos, mas nem sempre pensam no ônus que um animal de estimação pode trazer. O que acaba resultando nos casos de negligência e abandono.

Independentemente se foi comprado ou adotado, um animal de estimação traz responsabilidades e, entre elas, os custos para manter sua saúde e qualidade de vida.

“O custo na manutenção de um cão é muito parecido, independentemente de ser de raça ou não”, aponta Monique. “Um Vira-Lata também precisa de vacinas, vermífugos, espaço carinho da mesma forma”.

Como uma das idealizadoras do " Castra Móvel ", dedicado a atender animais carentes, Monique aponta que nas campanhas realizadas cerca de 30% dos animais atendidos são das mais variadas raças puras. “Eles também estão sujeitos ao abandono e à falta de empatia do Homem”, afirma.

Os custos com a manutenção de um pet, como explica a veterinária, dependem de vários fatores, como o tipo de pelagem, porte da raça, ambiente onde vive, entre muitos outros.

“Pode variar muito até mesmo pela localização, como bairros ou cidades. Os gastos básicos são com alimentação manutenção, vacinas anuais, vermífugos e acessórios para manter a saúde mental, psicológica e física do pet podem ir de R$ 200 a R$ 1,7 mil por mês.”

Como cruzar o seu pet de forma ética e segura

A procriação descontrolada traz problemas de saúde para os animais
Agutti/Pixabay
A procriação descontrolada traz problemas de saúde para os animais

Para quem tem um animal de estimação e, por qualquer motivo, preferiu não castrar e deseja que o pet - macho ou fêmea - tenha filhotes, é preciso pensar em alguns pontos importantes.

“Só acasale seu cão se realmente quiser essa ninhada”, alerta a veterinária. “É trabalhoso, oneroso e por um período de, pelo menos, dois meses será necessário vigilância constante.”

Monique aponta que o ideal é castrar o animal o mais jovem possível, independentemente de raça ou sexo.

“A fêmea não precisa ficar gestante nem uma vez, [essa é] uma observação ultrapassada. Quanto mais jovem a cirurgia para esterilização, melhor a qualidade de vida do cão ou gato”, afirma.

Para ter uma boa criação, é preciso respeitar os limites dos animais, que não devem reproduzir em todos os períodos férteis.

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“As cadelas podem apresentar de dois a três cios por ano, com intervalos que variam de quatro a seis meses, dependendo do ciclo estral da cadela”, diz Monique. “O sangramento dura de sete a 11 dias, seguido de cerca de sete dias de período fértil, quando deve ser acasalada”.

A veterinária ressalta que os acasalamentos devem ser feitos com apenas um padreador, evitando o contato com outros machos durante o período fértil.

“A escolha do casal reprodutor deve seguir o padrão das raças e observar as limitações, como o acasalamento entre diferentes cores, por exemplo – em algumas raças é permitido e em outras não, dependendo do que isso pode gerar.”

“Se desejar realmente acasalar seu cão, procure um criador ético e atento ao padrão da raça e as suas particularidades. Estude o padrão, os prós e os contras desse ato. Só faça se tiver certeza de que tem condição física e financeira de iniciar esse projeto. Lembre-se que são vidas que durarão no mínimo 10 anos. Muitas vezes não conseguimos colocá-los em lares como eles merecem. Pense nisso”, finaliza a profissional.

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