Os cachorros podem perder a audição por diferentes motivos, ou mesmo já nascerem parcial ou completamente surdos
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Os cachorros podem perder a audição por diferentes motivos, ou mesmo já nascerem parcial ou completamente surdos

Cães e gatos também podem perder a audição por diversos motivos, como infecções ou envelhecimento e se os sinais forem ignorados, os pets podem ter problemas graves — principalmente porque deixarão de notar muito do ambiente ao seu retor.

Caso esteja desconfiando que o animal de estimação está perdendo a audição, o tutor pode fazer alguns testes para se certificar de que o cão ou o gato pode estar com algum problema.

Neste 10 de outubro, Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, a médica e professora de  medicina veterinária Aline Ambrogi, da Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), explica que uma tática interessante é fazer sons sem vibração para averiguar se o animal percebe algo.

“Ele [o pet] precisa responder imediatamente ao estímulo. [Por exemplo] quando estiver dormindo, [deve] acordar com um barulho alto. Caso ele não perceba esses estímulos, pode ser que tenha [ocorrido] perda total ou parcial da audição”, diz a médica ao Canal do Pet .

Quais possíveis causas da surdez em animais?

Aline explica que as causas mais comuns de surdez em animais são as otites  e a idade avançada . “Porém, qualquer alteração no conduto auditivo pode levar a deficiência auditiva como, por exemplo, o estreitamento do conduto ou até mesmo neoplasias [massa anormal de tecido].”

Portanto, a veterinária alerta que, quando o pet apresentar casos recorrentes de otites ou uma otite muito séria, o indicado é avaliar se houve perda auditiva após os tratamentos.

Outra possibilidade bem comum se deve à idade avançada do animal: “Se o seu pet tem mais de 10 anos, também pode apresentar uma perda desse sentido”, diz a especialista.

Exames necessários que o pet surdo ou com baixa audição pode fazer

Caso perceba qualquer sinal fora do normal, como cor, cheiro ou excesso de cera, leve o pet ao veterinário imediatamente
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Caso perceba qualquer sinal fora do normal, como cor, cheiro ou excesso de cera, leve o pet ao veterinário imediatamente

“Existem exames para avaliar a função auditiva e fechar o diagnóstico de surdez em animais, porém, não são exames de rotina e fáceis de se encontrar”, esclarece Aline, que explica que esses exames mais específicos são realizados por médicos-veterinários especialistas na área.

“É necessária uma avaliação clínica completa, incluindo exames complementares como raio-X de crânio, tomografia computadorizada, timpanometria e exames eletrofisiológicos”, pontua.

Existem tratamentos para surdez causada por problemas de saúde?

É necessário saber a causa exata do problema para poder tratá-la da forma mais adequada
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É necessário saber a causa exata do problema para poder tratá-la da forma mais adequada

“O problema de saúde mais comum que leva à surdez em animais é a otite. Caso o animal apresente secreções, incômodo ou qualquer alteração no conduto auditivo, precisa passar por uma avaliação com um médico-veterinário de confiança”, diz a veterinária.

Ela continua: “Caso seja confirmada a otite, normalmente são receitados antibióticos, mantendo o local sempre limpo, seco e higienizado da maneira correta. Em casos mais sérios, pode ser indicada a cirurgia.”

Dicas para a adaptação de um pet surdo

“A melhor maneira de adaptação é a comunicação com o pet por meio dos sinais . Como eles são muito inteligentes, conseguem responder a comandos ensinados. Um médico-veterinário especialista em comportamento animal pode ajudar nessa questão”, completa Aline.

Como é a vida com um pet surdo?

Dalila, uma Lhasa Apso de 12 anos, foi resgatada da rua quando ainda era uma filhote
Bianca Canoletti/Arquivo Pessoal
Dalila, uma Lhasa Apso de 12 anos, foi resgatada da rua quando ainda era uma filhote

Bianca Canoletti é tutora da Dalila, uma Lhasa Apso de 12 anos que está na família desde filhote, quando foi encontrada perdida pela rua.

“A história da Dalila começa em uma noite de chuva. Estávamos ajudando na mudança da minha sogra e eu estava na calçada para cuidar do caminhão que estava aberto. Foi quando eu a vi caminhando na rua, sozinha. Eu me abaixei, ela veio correndo e pulou no meu colo”, conta Bianca, ao Canal do Pet.

No momento, um vizinho passava pela rua, e a primeira conclusão foi de que a cachorrinha perdida seria dele. “Eu falei: ‘Nossa que linda é a sua cachorra’. Mas ele respondeu que não era dele”, relembra a tutora, acrescentando que procurou para ver se encontrava alguém que pudesse estar acompanhando a cachorrinha perdida. Como não encontrou ninguém, decidiu acolher a filhote.

“Eu a acolhi na certeza de que eu não queria cachorro, de que a gente tinha uma vida muito boa para incluir um cachorro. Então eu a deixei com a minha sogra e começamos a avisar pelo comércio do bairro, caso alguém estivesse procurando por uma cachorrinha perdida”, continua Bianca.

No dia seguinte, a família levou a Lhasa Apso ao pet shop para um banho e ao veterinário, que estimou que a cachorra teria cerca de oito meses de vida, na época. “Ela ficou em casa e depois de 15 dias a gente já tinha decidido que, mesmo que aparecesse um novo [que nunca apareceu], a gente não ia devolver”, conta Bianca

Com a convivência, a cachorrinha recebeu o nome de Dalila. Mas havia algo de diferente nela. “No início, ela não atendia quando era chamada, então acreditamos que ela já deveria ter outro nome. Mas ela não reagia a nenhum outro estímulo auditivo, nenhum barulho. Às vezes, quando tinha um trovão muito forte, daqueles de tremer a casa, ela dava apenas uma olhadinha, meio desconfiada do que tinha acontecido”, continua a tutora.

“Quando chegávamos em casa, ela não percebia se estivesse dormindo de costas para a porta. Então nós começamos a desconfiar e a levamos ao veterinário. Ele fez vários exames, usando até aqueles apitos para adestramento de cães , e ela não reagia. Foi aí que concluímos, com total certeza, de que ela era surda — já que os cães reagem aos estímulos auditivos por instinto.”

“Foi então que nós percebemos que ela não havia se perdido naquele dia, ela foi abandonada porque era surda. Já que ela não interagia, deve ter sido deixada pela antiga família”, conclui Bianca.

Os cuidados com um pet surdo

“A Dalila nunca sai de casa sem coleira e guia, e a gente só vai a lugares fechados, com portão e tudo cercado. Porque, se ela se perder, ela não ouve, e se ela sair na rua, não ouve os carros. A gente precisa ficar sempre atento a isso”, conta Bianca, que aponta esses como os “cuidados mais importantes”, já que em casa Dalila leva uma vida perfeitamente normal e feliz.

Dalila ao lado de suas novas irmãs caninas
A falta de audição não atrapalha a vida de Dalila
Dalila, uma Lhasa Apso de 12 anos, foi resgatada da rua quando ainda era uma filhote

“Nós desenvolvemos um sistema de comunicação com ela, por meio de gestos. Então ela entende quando a gente faz um ‘Não!’ com a mão, entre vários outros gestos, é quase como se fosse uma linguagem de sinais. Já, para chamar quando ela está desatenta, a gente assopra. Então, só conseguimos chamá-la quando estamos perto, por isso ela nunca pode sair sozinha.”

Outros cuidados que Bianca considera importante são as idas ao petshop, sendo importante escolher um local que tenha vidros, para que se possa observar enquanto o pet toma banho. “Mas esses são cuidados que devemos ter com qualquer animal”, pontua.

“A Dalila tem uma vida completamente independente e autônoma dentro de casa. Como ela já está velhinha, não sobe mais escadas ou pula na cama, mas ela fazia de tudo”, diz a tutora que aponta, na sequência, outros detalhes interessantes no comportamento de Dalila.

É quase sobrenatural

“Eu tive duas gestações, eu tenho dois filhos, a mais recente foi há cinco meses. E a Dalila percebe muito, ela tem outros sentidos muito apurados, é quase sobrenatural”, comenta a tutora.

“Ela soube que eu estava grávida antes de mim. Quando ela muda o comportamento, eu sei que alguma coisa que está acontecendo”, diz Bianca, contando que, ao notar a mudança em sua cachorrinha, decidiu fazer um teste de gravidez.

“Ela mudou o comportamento na minha primeira gestação e, apesar de ela não ouvir, quando o meu filho mais velho chorava, ele chorava junto no quarto. Se  eu estivesse na cozinha, por exemplo, a Dalila corria até mim e começava a latir, era como se dissesse: ‘Você não vai lá? Ele está chorando!’. Então ela consegue perceber muitas coisas do ambiente, ainda que não escute”, afirma a tutora.

A convivência com outros animais também é tranquila, destaca Bianca. “Ela é uma cachorra muito carinhosa, muito amorosa, a gente ama demais, eu não a trocaria ela por nenhum cachorro que escuta. Eu tenho mais duas em casa: uma Bernese e uma São Bernardo, que chegaram recentemente. A Dalila manda nas duas, ela é a dona da casa!”

A vida com gatinhos surdos

Preferido, 7 anos
Ana Paula Ruiz/Arquivo Pessoal
Preferido, 7 anos

Ana Paula Ruiz é tutora de Preferido e Cristina, dois gatos brancos de sete anos de vida cada. “A maioria dos gatos brancos são surdos, e eu tenho dois que já nasceram completamente surdos”, aponta a tutora, que tem, no total, 18 gatos e dois cachorros, além de um tanque com carpas.


Ela conta que a família percebeu a falta de audição dos pets quando os dois ainda eram filhotes. “Os gatos costumam vir quando nós chamamos para comer, aqui todos eles vinham, menos os dois”, conta a tutora ao Canal do Pet.

“Então a gente começou a perceber. São vários sinais, e um deles é esse, eles não respondem quando você chama ou faz algum barulho”, Ana Paula continua. “Quando eles dormem, por exemplo, não importa o barulho, ou se cai alguma coisa, eles não percebem.”

Cristina, 7 anos
Ana Paula Ruiz/Arquivo Pessoal
Cristina, 7 anos

Ao contrário dos outros gatos da casa, Preferido e Cristina costumam miar mais alto, “eles gritam muito, já que não ouvem. Eles têm um comportamento bem diferente”. Ana Paula ainda aponta que alguns animais costumam perder a audição conforme envelhecem, algo que já ocorreu com outros pets que teve no passado.

Adaptação e cuidados com os felinos

Como os gatos são escaladores, a tutora destaca que é importante tomar cuidados com objetos que eles possam derrubar. “A gente tem que cuidar se eles ‘aprontam’. Se derrubam as coisas, se alguma coisa quebra, eles não escutam e podem se machucar. Se eles estão em alguma situação de perigo, não vão perceber se você tentar chamá-los.”

Ana Paula diz que, como os gatos já nasceram surdos, não foi necessária nenhuma adaptação para essa condição, ou mesmo uma socialização diferente com os outros animais de estimação.

“Um detalhe que acho interessante é que eles não costumam ficar ‘em turma’ com os outros gatos, são mais individuais e ficam mais isolados. Mas, no geral, todos eles se dão muito bem.”

A tutora acredita que a única diferença no tratamento para seus gatos surdos, em relação aos outros felinos, é a atenção que deve ser maior em diversos aspectos, como alimentação e segurança — evitando ainda mais as “voltinhas” que gatos costumam dar quando vivem em ambientes abertos.

“Eu moro em um condomínio, então a minha casa é aberta. A gente não costuma deixar que os gatos saiam, mas eles [Preferido e Cristina] realmente não mostram nenhum interesse nisso. [De qualquer maneira] estamos sempre muito atentos. Apesar de terem liberdade, eles não vão sair”, diz, alertando que tutores de gatos com audição reduzida não deixem que seus pets saiam para passear: “Eles não vão ouvir o barulho de um carro, por exemplo.”

Preferido, 7 anos
Cristina, 7 anos
Preferido, 7 anos
Cristina, 7 anos
Cristina, 7 anos
Cristina, 7 anos
Preferido, 7 anos
Cristina, 7 anos
Cristina, 7 anos
Cristina, 7 anos

“Nós ficamos mais atentos para ver se eles comeram. Se eles estão dormindo e precisamos mexer, encostamos de leve e eles miam bem alto”, conta a tutora. “Os dois nasceram na mesma época, e convivem super bem. Não há nenhuma diferença [com outros gatos], são apenas um pouco mais individualistas”, finaliza Ana Paula.

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