É relativamente comum de ver pela internet vídeos e fotos de tutores de coelhos que levam seus animais de estimação para passeios, fazendo o uso de guias e coleiras, em ambientes variados, como parques e até na areia da praia.
Em setembro a foto de uma banhista carioca se tornou viral nas redes sociais ao aparecer com um coelho branco em uma praia do Rio de Janeiro. A imagem foi compartilhada nas redes sociais pela fotógrafa Ana Carolina Fernandes, e gerou diversas dúvidas e críticas por parte dos internautas.
Em um dos comentários, a tutora afirmou “conhecer os limites” do coelho de estimação e que não expõe o pet ao calor intenso ou a locais muito barulhentos, saindo para passear somente em horários mais calmos. Mas passear com coelhos de estimação é realmente recomendável?
De acordo com a médica-veterinária Aline Ambrogi, para saírem para passear os coelhos precisam gostar e estarem habituados, mas não é uma atividade recomendada.
“A grande maioria dos coelhos não se acostuma com essa atividade e se estressa muito, podendo até vir a óbito por conta do estresse”, diz a especialista ao Canal do Pet .
Já Fabíola Soldado, bióloga especialista em coelhos, é mais enfática ao dizer que “coelhos não são cães” e que é muito perigoso levar um pet da espécie para passear.
“Coelhos são presas na natureza, portanto podem ficar traumatizados, se assustar e se estressar com barulhos, movimentos bruscos, odores, presença de humanos e de animais de outras [espécies] e, até mesmo, da mesma espécie”, diz a bióloga, que é tutora de um coelho de 8 anos da raça Lion, chamado Biolinho.
Fabíola explica que os níveis de estresse em coelhos podem ser altamente prejudiciais à saúde deles, “podendo afetar o sistema gastrointestinal [coelho pode desenvolver um quadro de estase intestinal], baixar a imunidade [desencadeando diversos problemas caso o coelho seja portador de algumas doenças] e até mesmo problemas cardíacos, podendo levar o coelho a óbito”, reforça a especialista.
Sobre os passeios ao ar livre, como no caso de praias e parques, Aline acrescenta: “Outra questão muito importante é o calor. Esses animais não suportam temperaturas muito elevadas e podem morrer em situações como passeios em locais quentes e estressantes.”
Além disso em ambientes externos “os coelhos podem se infectar por microrganismos presentes no ambiente, causando graves doenças”, reforça Fabíola.
Como identificar se o coelho está estressado ou com medo?
A bióloga aponta que é possível identificar estresse e medo em um coelho por meio de sua linguagem corporal. Segundo ela, o coelho pode paralisar, ficar com as pupilas dilatadas, narinas abertas com respiração ofegante, parte branca do olho exposta, orelhas fechadas e rentes ao corpo e agressividade.
O uso de coleiras em coelhos é seguro?
“Para levar um coelho de um lugar para outro, deve-se usar caixas de transportes porque eles se sentem mais seguros”, comenta Aline.
Fabíola reforça que coleiras e passeios em ambientes externos, não são recomendados para coelhos. “Este tipo de atividade não é um enriquecimento ou uma opção de entretenimento, uma vez que não está dentro do manejo adequado da espécie”. Além disso, ela aponta que coleiras no pescoço não trazem nenhuma segurança e podem causar graves acidentes.
“Quando o tutor precisar transportar o coelho de um local para outro, como ir ao veterinário, por exemplo, deve utilizar caixas ou bolsas de transportes ideias para o pet”, pontua a bióloga.
Fabíola ainda destaca que espécies diferentes têm necessidades distintas e é importante entender isso: “Que saibamos respeitar a natureza de cada uma delas. Coelhos não são cães. Coelho feliz é solto dentro de casa, livre de gaiolas, cercados, viveiros e coleiras.”
Ambientes seguros para um coelho
“O melhor ambiente para um coelho é onde ele se sente seguro e confortável”, diz Aline. “Em casa, o indicado é que ele tenha um local bem arejado e com brinquedos que enriqueçam o ambiente para ele não se estressar. Além de ter o local espaçoso para que ele possa correr e brincar.”
Fabíola diz que, para casas maiores, com quintal ou jardim, não há problema em deixar o coelho solto para uma voltinha, desde que ele esteja protegido contra possíveis predadores e, de preferência, sob a vigilância do tutor. “E nunca deixar o coelho dormir do lado de fora, além de predadores, o coelho não deve ficar exposto ao vento e a chuva”, acrescenta.
A convivência com outros pets é possível, embora também não seja recomendada. “Não aconselho a convivência com cães e gatos”, diz Fabíola. “Já vimos muitos ataques de cães em coelhos. E gato tem uma bactéria nas unhas e se arranhar o coelho, causa a doença popularmente conhecida como arranhadura do gato.”
Para tutores que tenham pets de diferentes espécies, o ideal é que fiquem em ambientes separados, como o caso do coelho Nicolas Tomilho.
Enriquecimento ambiental para coelhos
Embora o pet não deva sair para passeios em ambientes externos, como parques, praças ou areia da praia, não significa que ele não possa ter entretenimento para uma vida saudável e sem tédio.
“Uso de tocas e canos de PVC grandes são ideais para eles se sentirem seguros”, aponta Aline, que ressalta que por serem são presas na natureza os coelhos “se sentem ameaçados o tempo todo”.
“Os coelhos precisam ser estimulados, mantidos física e mentalmente ativos, a fim de não terem problemas de comportamento e saúde. O enriquecimento ambiental é importante para o local mais agradável, aconchegante, menos estressante, de forma segura, com muita diversão e despertando a curiosidade do coelhinho”, diz Fabíola.
Proprietária da Coelhoucos, especializada em artigos para coelhos, a bióloga explica ainda que é importante que o pet seja livre para explorar a casa. No entanto, os tutores devem ter atenção em detalhes, para garantir a segurança do animal, como usar organizador de fios e não deixar objetos, como chinelos, espalhados pelo chão.
“Eles roem tudo o que pode causar obstrução intestinal, além de levar choque”, aponta a especialista, que lista algumas dicas para um melhor enriquecimento ambiental para coelhos dentro de casa, especialmente para os que vivem em apartamento.
- Túneis e Tocas: coelhos adoram esconderijos e passagens em diferentes lugares. Para isso, o ambiente natural de um coelho pode ser imitado, fornecendo tocas e túneis. Também servirá de abrigo e/ou um esconderijo para os momentos que ele quer ficar quietinho, sem ser incomodado e até mesmo quando se sentir ameaçado por algo;
- Brinquedos de madeira de pinus: mantêm os animais ativos; evita o estresse, tédio e a depressão; ameniza o instinto de mastigar e roer mantêm os dentes limpos e auxilia no desgaste dos dentes;
- Dispenser/comedouro de ração ou petiscos interativos: promove alimentação de forma pausada e descontraída; diminui o estresse; desperta a curiosidade e é um excelente aliado para passar o tempo, fazendo o que o coelhos mais gostam: comer;
- Porta feno: excelente para estimular o coelho a comer mais feno. Alguns são interativos, mantendo-os fisicamente ativos.
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“Alterne os brinquedos e acessórios sempre que puder, a fim de manter o interesse e a curiosidade do seu coelho”, completa Fabíola.
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