Tutores podem ter direito a um dia de licença luto após morte de animal de estimação, conforme projeto de lei
Martina Lepore/Pixabay
Tutores podem ter direito a um dia de licença luto após morte de animal de estimação, conforme projeto de lei

Perder um animal de estimação é como perder um membro da família, e a experiência gera um grande sofrimento para o tutor do pet que se vê perdido após a partida de seu cão, gato ou outro animalzinho.

Por isso, assim como ocorre quando um familiar humano se vai, existe um desejo para que quem perdeu seu amado animal de estimação possa tirar uma licença das atividades de trabalho, para que consiga se recuperar e viver o momento de luto, muito importante na recuperação, especialmente, da saúde mental. Inclusive, algumas empresas estão considerando a medida.

A licença luto pet, como é chamado o benefício, ganhou mais visibilidade durante o ano de 2023, devido ao Projeto de Lei nº 221/2023, que tramita na Câmara Federal. O PL tem como objetivo alterar o artigo 453 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), para permitir a "ausência ao serviço no caso de falecimento de cão ou gato de estimação. Os principais autores do projeto são os deputados federais Fred Costa (Patriota – MG) e Bruno Lima (PP – SP).


Embora o PL ainda esteja em tramitação, e portanto ainda não reconhecido como lei no Brasil, a licença já é concedida por algumas empresas. Heitor de Oliveira Arriero Amaral, coordenador de pesquisa clínica da MSD Saúde Animal, perdeu uma de suas gatas de estimação recentemente, e pôde fazer o uso do benefício na empresa.

Ele relata sobre a importância de poder dedicar esse dia à sua família, formada por sua esposa e seus outros animais de estimação. O tutor conta que Peach, sua gata que morreu, já estava doente havia algum tempo, e sofria de infecção nas vias aéreas superiores, com suspeita de tumor.

“Foram alguns meses de muitas idas ao veterinário, exames e cuidados diários com ela em casa. De certa forma, isso acabou até aumentando a minha conexão com a Peach, que já tinha uma certa idade”, comenta.

Apesar de todos os cuidados, o caso de Peach se agravou com o tempo, o que levou Heitor a precisar tomar uma decisão difícil, para que sua amada gatinha de estimação não sofresse mais.

“Entre muitas conversas com a profissional, optamos pela eutanásia . Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida, que impactou bastante meu psicológico e da minha esposa.”

Após o momento de dor, Heitor pôde dedicar um dia de licença, ficando ao lado de sua família multiespécie . Algo que, segundo ele, foi muito importante.

 “A possibilidade de tirar um dia para colocar a cabeça no lugar foi muito importante para nós, pois pudemos passar um tempo juntos e dar atenção aos nossos outros gatos. Foi muito válido porque, além de não ter cabeça para conseguir trabalhar no dia, pude focar no meu processo de luto e no da minha esposa, além de auxiliar na logística do dia, que foram as atividades ao adeus a Peach”, diz Heitor, que afirma ainda que se sentiu respeitado e respaldado em seu momento difícil.

Como funciona a licença luto pet?

A perda de um pet reflete sobre a saúde mental do tutor
reprodução shutterstock
A perda de um pet reflete sobre a saúde mental do tutor

A licença luto pet funciona da seguinte maneira: os colaboradores que perderem um cachorro ou gato podem acionar diretamente o seu gestor e alinhar a sua ausência, sem necessidade de comprovação do falecimento do animal.

Essa iniciativa começou a ganhar força nos últimos meses e ainda não é obrigatória, mas já é um benefício concedido pelas divisões de saúde humana e animal da farmacêutica MSD — empresa em que Heitor trabalha — desde o começo deste ano.

Larissa Poltronieri, líder de Recursos Humanos da MSD, explica que a companhia já oferece o benefício há cerca de um ano. Ela fala ainda que esse é um benefício importante não só para os funcionários, mas também para toda a companhia, uma vez que diz respeito à saúde mental dos colaboradores.

“É preciso, acima de tudo, que a companhia tenha empatia e cuide desse colaborador no momento de dor, para que o retorno às atividades possa acontecer de forma gradual e mais confortável para ele”, enfatiza Larissa.

Para a gerente sênior de remuneração e benefícios da empresa, Camila Zanatta, sentir que a dor é reconhecia pela empresa, pode ajudar até mesmo que o funcionário tenha uma melhora significativa em seus resultados.

“De certo modo, até mesmo os colegas de trabalho, ao presenciar tal reconhecimento, podem valorizar mais o trabalho, sabendo que, caso passem pelo mesmo, terão esse respaldo”, aponta Camila ao Canal do Pet.

Ela continua: “Cães e gatos fazem parte da família dos nossos colaboradores e oferecer esse respaldo nesse momento doloroso é essencial para que esse colaborador possa processar esse luto e se restabelecer para voltar bem às suas atividades profissionais”.

Uma necessidade real

Sentir que sua dor é reconhecida pode aumentar desempenho de colaboradores em empresas
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Sentir que sua dor é reconhecida pode aumentar desempenho de colaboradores em empresas

Heitor, o coordenador de pesquisa que utilizou o benefício na empresa, reflete ainda sobre essa necessidade parecer um “exagero” para muitas pessoas. “Acredito que é muito importante, mesmo para aqueles que nunca tiveram um animal de estimação, terem empatia pelo sentimento das pessoas que perdem seus animais.”

Ele finaliza: “Criamos ligações muito fortes com os nossos bichinhos, que estão ali em todos os momentos, sejam eles de alegria ou de tristeza. Eles não cobram nada além de cuidado e atenção, trazendo em troca muita alegria, e perdê-los é um momento de muita dor que só quem passa entende.”


Para muitas pessoas, perder um pet é como perder um membro essencial da família
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Para muitas pessoas, perder um pet é como perder um membro essencial da família

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