Sofia Portela, de Amarante, em Portugal , criou seu primeiro grupo de proteção animal quando tinha apenas 13 anos. Hoje, aos 21, ela é presidente da Associação Missão Animal, que busca arrecadar alimentos, cuidados veterinários e encontrar novos lares a gatos abandonados.
Ao Canal do Pet , a jovem, que é estudante de medicina veterinária, conta o porquê decidiu se dedicar aos cuidados com os animais em situação de vulnerabilidade ainda tão jovem, e como iniciou seu projeto de cuidado animal em 2015.
“Desde sempre eu quis ‘ajudar os animais’. Quando cresci e comecei a vê-los magros, doentes e morrendo nas ruas, não conseguia entender por que ninguém os ajudava!”, conta a estudante. “Aos poucos, fui começando a fazer o possível para melhorar a vida destes animais: recolher alimentos, desparasitar e a juntar dinheiro para tratar as suas doenças.”
Sofia continua: “A minha família me ajudou, pessoas que conheceram o meu projeto online também! Passo a passo, já resgatamos mais de 700 animais, assegurando um final feliz para três em cada quatro animais resgatados.”
Como tudo começou
O grupo Missão Animal se consolidou como uma associação juvenil, aceita pelo IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude), em 11 de setembro de 2020, tendo como objetivo, além do resgate e reabilitação dos animais, a sensibilização da população para a causa animal.
Sofia afirma que o processo para se transformar em uma associação foi bastante burocrático: “A legalização de uma associação, em Portugal, representa muitas obrigações e cumprimento de regras. Mas é um esforço recompensador!”
Dificuldades financeiras
A princípio o objetivo era atuar no resgate de cães e gatos, porém, por falta de condições financeiras, precisaram voltar seus esforços exclusivamente para os gatos . Devido a essas dificuldades, inclusive, a Associação Missão Animal já precisou fechar as ports por duas vezes, ser ter condições de atuar.
Porém, graças a ajuda de doações, conseguiram retomar os trabalhos e seguem atuando na recuperação de centenas de gatos abandonados na região de Amarante. O abandono, porém, é um problema presente em todo o país.
“Portugal ainda está longe de resolver a problemática do abandono, mas têm sido tomadas medidas positivas no sentido da sua resolução”, diz Sofia. “Atualmente, o apoio do governo é muito limitado, mas existe! Temos esperança num futuro com mais abertura ao apoio aos animais vulneráveis.”
Apoio externo
“Temos protocolos com várias clínicas veterinárias de modo a prestar um cuidado médico veterinário de excelência e em nada menor do que o prestado a um animal ‘com tutor’”, afirma Sofia, reforçando que “apesar dos preços mais ‘simpáticos’, os gastos médicos ainda são esmagadores”.
Atualmente são cerca 200 gatos sinalizados que vivem em colônia, além dos que estão no abrigo à espera de um lar. A jovem explica que, com a ajuda de voluntários, a equipe consegue fazer um controle desses animais carentes com castrações ao estilo CED .
“Infelizmente, estar na rua é sempre um risco para um animal e não existe uma forma de mitigar a 100% esse risco”, diz a presidente da associação. “No entanto, em colaboração com a população, prestamos cuidados a animais doentes e realizamos centenas de esterilizações, diminuindo o flagelo que se faz sentir nas colônias de gatos de rua.”
Apoio interno
Por ter iniciado ainda jovem boa parte do ajudantes de Sofia, todos voluntários incluindo familiares, têm uma faixa etária entre 15 e 30 anos. Eles auxiliam nos resgates e cuidados dos felinos que, muitas vezes, são retirados das ruas em más condições de saúde.
“Atualmente, somos cerca de 30 [voluntários], quase todos com menos de 30 anos! Alguns de nós são de áreas geográficas mais distantes e, ainda assim, prestam um grande apoio a nível logístico e digital.”
A ligação com os animais
Sofia não se tornou uma protetora animal tão jovem sem motivo, desde criança ela convive com animais e, segundo seus pais lhe contaram, sua primeira palavra na vida foi o nome de sua cachorra à época, Gui.
“Cresci rodeada por animais, a minha cadela foi a minha primeira companheira quando eu era bebê. A minha família sempre teve e cuidou de animais e me educaram de maneira correta para cuidar, amar e estimar”, diz a jovem ativista.
“A minha primeira palavra foi ‘Gui’, o nome da minha cadela, e, ainda bebê, era fascinada pelos animais acima de tudo. Sempre disse que queria ser ‘vetiana’ [veterinária]. Ainda que não tivesse a fala completamente desenvolvida, sabia o que queria!”
Ela continha: “Dediquei todo o meu desenvolvimento acadêmico a conseguir entrar no curso superior de Medicina Veterinária, o que, em Portugal, exige esforço e sucesso escolar para ser aceita. Consegui cumprir esse sonho! Estou, atualmente, na reta final do curso.”
Hoje a futura médica veterinária é tutora de quatro gatos e um cachorro, todos resgatados de abandono e maus-tratos, que se recuperaram graças ao amor e dedicação de sua família.
“Dos gatinhos, a mais velha é a Curie que foi abandonada com horas de vida e junto a cinco irmãos num saco de lixo amarrado”, conta ela. Curie teve uma série de problemas de saúde, como infeções e até uma parada cardíaca, relembra Sofia. “[Ela] sobreviveu contra todas as probabilidades e soube que não poderia encontrar outro lar que não o meu.”
O segundo felino é Barry que chegou até a jovem dois meses depois e foi adotado, em um primeiro momento, como lar temporário . Contudo, o novo membro da família se apegou tanto a Curie que se tornou impossível separá-los.
“Mais tarde, o meu irmão resgatou três gatinhos de uma estrada, dois amarelos e um escurinho. Não faltaram candidatos para os amarelinhos, mas para o mais escurinho nem um único candidato. E assim demos as boas-vindas ao nosso Kai, o gato mais meigo e mimado, uma perda para quem o rejeitou pela sua cor”, afirma a protetora.
A última gatinha a integrar a família foi Franklin, que foi resgatada em péssimas condições. “Ela estava extremamente subnutrida e, no seu período de recuperação”, diz Sofia.
Apesar de ter seu atual foco nos felinos, Sofia não pôde deixar de ajudar um cãozinho necessitado, que foi literalmente jogado no lixo por caçadores.
“Meu cão não teve uma história mais feliz”, inicia ela. “Ele foi abandonado ainda bebê, por caçadores, por ter sarna. Atiraram ele no lixo. Ainda hoje tem os seus traumas, culpa do seu cruel abandono.”
Para aqueles que amam os animais, mas que sentem que não podem ajudar, seja de Portugal ou do Brasil, a protetora finaliza deixando uma mensagem: “Gostaria apenas de dizer algo muito simples: não há desculpas e eu sou a prova disso! Todos podemos fazer algo para mudar o mundo, mesmo pequenos gestos fazem a diferença. Não podemos apenas apontar os problemas na nossa sociedade e esperar que os ‘outros’ os resolvam. Nós somos esses outros!”.
Acompanhe o Canal do Pet também nas redes sociais: Instagram, X (Twitter) e Facebook.