Cães e gatos são muito mais do que simples animais de estimação. Para muitas pessoas eles são como melhores amigos, até mesmo filhos, e servem como companheiros de vida, ajudando seus tutores a passarem por momentos difíceis. Por isso, é natural que os humanos desejem tê-los por perto em momentos especiais e únicos da vida, como uma viagem, uma formatura ou um casamento.
Para isso, mais do que a vontade, é importante ter preparação, avaliar o comportamento do pet e, principalmente, a saúde do animal, já que ocasiões como estas geralmente fogem do que os bichanos estão acostumados e podem gerar estresse, medo ou ansiedade, devido a movimentação atípica.
Para esclarecer possíveis dúvidas e trazer dicas de como preparar o animal de estimação para uma celebração de casamento, o Canal do Pet conversou com os adestradores Richardson Zago, especialista em comportamento canino, e Wagner Brandão, preparador de cães para atividades especiais.
Qual é a idade mínima para um cão participar de uma cerimônia de casamento?
Segundo Richardson, mais importante do que a idade é levar em consideração o ciclo completo de vacinação do cachorro. E, além disso, “depende do que o cachorro vai fazer e qual será sua participação no evento; se ele vai no chão, sozinho, treinado para isso, entre outras questões.”
O profissional avança e diz que, para além do ciclo vacinal completo, a maturidade do cão também conta na hora de incluí-lo na celebração matrimonial.
“Se ele precisar ser treinado para entrar em algum lugar, é melhor esperar que ele esteja um pouco mais maduro, acima de um ano ou um ano e meio”, orienta o adestrador. “Por outro lado, se ele apenas precisa estar presente, como entrar no colo de alguém, não há problema desde que o ciclo vacinal esteja completo.”
Caso o pet esteja “cru” e precise de um treinamento anterior para que tudo ocorra da melhor forma, o especialista orienta que é interessante que o adestrador saiba qual será a participação do cachorro e o que será exigido dele.
Além do treinamento para exercer suas funções, como ser pajem/dama de honra, acompanhar as “floristas” (crianças que jogam flores no caminho até o altar), é importante que o cão seja bem socializado, ou seja, acostumado com a presença de outras pessoas e a locais mais movimentados.
“O treinamento do cão é focado em comandos e socialização, para que ele se acostume com muitas pessoas, barulhos e movimentação. Ele também precisa aprender a carregar coisas na boca [caso vá desempenhar alguma função específica], como uma cestinha com alianças, por exemplo”, diz.
As funções de um cachorro no casamento
Entre todas as possibilidades de participação de um cãozinho em uma cerimônia de casamento, Richardson aponta que ser o "padrinho" é a menos estressante para o animal, “pois é apenas um passeio em que o cachorro passará por uma passarela, andará e ficará sentado ao lado da pessoa. Portanto, é um movimento mais comum para o cachorro que está acostumado a passear.”
“Já treinei 28 cães para cerimônias de casamentos. O que pedem mais é para os cães levarem as alianças aos noivos, sozinhos ou conduzidos por alguém especial. Neste caso, costumamos ir à cerimônia para dar um suporte a mais ao casal e para que o cão saiba que tem alguém de confiança por perto”, acrescenta Wagner.
Richardson alerta que é importante que o cachorro não possa comer o que está carregando.
"Uma dica fundamental é que a aliança nunca esteja com o cachorro, pois é imprevisível o que pode acontecer. A aliança deve estar na mão do noivo, do padre, do pastor ou de quem for realizar a cerimônia. Apenas a caixinha deve ser levada pelo cachorro para representar, pois já houve casos de alianças perdidas por cachorros pulando e brincando.”
Uma companhia para o cachorro
No dia especial é importante que alguém fique responsável por acompanhar o animal durante toda a participação do pet na cerimônia e/ou na festa, e que seja de preferência alguém próximo ao convívio do cachorro.
“Ter uma pessoa para acompanhar o cachorro é importante, pois seus tutores estarão em um dia muito especial, focados em aproveitar cada segundo”, diz Wagner, que indica que se tenha ao menos um cuidador responsável pelo pet, que pode ser o próprio treinador.
“Com certeza é importante ter alguém na festa que não sejam os noivos, nem o pessoal diretamente envolvido com o casamento, para cuidar do cachorro e permitir que ele aproveite”, complementa Richardson.
Contudo, ainda que o animal possa aproveitar o evento, é importante que o pet tenha um refúgio, onde possa descansar ou volte para casa, para evitar que ele se estresse.
“Nem todos os rituais e tradições da festa são adequados para um animal de estimação, então é essencial ter alguém responsável por ele. Pode ser que o cachorro não se sinta confortável em um ambiente agitado e barulhento, então é importante garantir que ele seja levado para casa após a cerimônia”, indica Richardson.
Caso a cerimônia ou festa aconteça em um lugar que o cachorro já conheça, como na casa dos noivos, ou em um sítio da família, por exemplo, ou se o animal já estiver acostumado com visitas ou grande movimentação de pessoas, ele não ficará estressado nesse momento, ainda que com algumas ressalvas.
Richardson ressalta que, no caso de um ambiente familiar ao cão, sua permanência não é um problema, "embora não seja a melhor recomendação, porque alguém pode dar comida da festa, doces, bolo... Várias coisas podem acontecer. Ele pode pular em alguém que está com vestido branco [por exemplo]. Então, o ideal mesmo é que ele vá lá, cumpra as suas funções e volte para casa, para um lugar seguro onde ele esteja acostumado a ficar.”
Local da cerimônia deve ser petfriendly
Importante ressaltar que nem todos os lugares aceitam a entrada de animais, portanto é indicado consultar as regras do espaço escolhido para a cerimônia com antecedência e planejar tudo com calma, para evitar qualquer transtorno e o estresse do pet.
A cachorrinha Kiara foi dama de honra e teve participação essencial no casamento de seus “pais humanos”, a advogada Camilla Marques e seu marido, Eduardo Kunigami. A cerimônia foi realizada em um buffet, na cidade de Santos , no litoral de São Paulo , em outubro de 2022.
Como a presença de sua amada cachorrinha de estimação era indispensável, Camilla afirma que sequer cogitou se casar em uma igreja, para não correr o risco de ter a entrada da pet banida.
‘Ela era o amor da minha vida’
Camilla conta ao Canal do Pet que adotou Kiara em um momento delicado, o que a fez se apegar demais a pet: “Nos tornamos inseparáveis, ela era a minha alma gêmea!”
“Quando conheci meu marido, a Kiara tinha pouco mais de 2 meses, e ela cresceu como nossa filha”, diz a advogada. “Desde que éramos namorados, sempre falei que se a Kiara não participasse do nosso pedido de casamento, eu não aceitaria, e que só casaria se ela levasse as alianças. E assim meu marido fez tudo [risos].”
E, como sua tutora desejava, Kiara participou de todas as etapas importantes, como o pedido, o pré-casamento e a cerimônia. Camilla destaca ainda que, para o dia do casamento, nem foi preciso ensaiar com antecedência, ou mesmo ter qualquer tipo de treinamento para que a pet fosse a dama de honra, pois a cachorrinha sempre foi “muito educada e obediente”.
“Nossa ligação sempre foi muito forte, então eu sempre tive a certeza de que ela viria para a gente, ela sempre foi muito ‘lady’”, conta Camilla. “Infelizmente, a vida dela foi muito curta, devido a diversos problemas de saúde que ela tinha.”
Kiara morreu aos 7 anos de idade, mas, para sua tutora, “foi tempo mais do que o suficiente para ser o grande amor da minha vida e realizar o meu sonho!”. Hoje a advogada é tutora de Bella, Zara e Shadow, mas ainda leva Kiara junto de si: “Carrego ela comigo, tatuada na pele e em um pingente de colar.”
Adaptações no local do evento
É importante ter em mente as necessidades do cachorro e dar a ele tempo para se adaptar. De acordo com o adestrador Richardson Zago, “algumas adaptações podem ser feitas no local da cerimônia para reduzir o estresse do animal”.
Caso o casamento ocorra em um ambiente novo para o cão, é fundamental que os tutores o levem ao local algumas vezes antes do dia do evento, para que ele possa fazer um “reconhecimento” do local.
“O evento em si já é estressante, então é importante minimizar as informações e estímulos para o cachorro. Dependendo do local da cerimônia, como praia, sítio ou igreja, é importante que o cachorro já tenha boas experiências nesses ambientes para facilitar a adaptação”, diz o especialista.
Ele acescenta que o modo como a cerimônia será realizada também é um ponto crucial para a participação do animal: “Não adianta fazer um treinamento em um local isolado e tranquilo, sem estresse nenhum, e depois o cão ter que se apresentar em um ambiente completamente diferente. É importante tentar reproduzir o mais próximo possível da situação real.”
No tão esperado dia, os tutores/noivos, devem estar preparados para todo tipo de situação que possa ocorrer e saber como agir para que tudo saia da melhor maneira possível, tanto para eles, quanto para o cachorro que, naquele momento, será a grande estrela e terá todas as atenções voltadas para si.
“Dependendo do estímulo, o cachorro pode reagir de diversas formas, como ficar bravo, com medo ou feliz. Por isso, é importante conhecer bem a preparação do cachorro antes de incluí-lo na cerimônia”, afirma o adestrador.
Para Wagner, o tempo mais indicado para se começar a treinar o pet é de dois a três meses antes do casamento, embora muitos tutores pensem em chamar um especialista faltando poucos dias.
“Já tive pedidos em cima da hora, como 15 dias antes do evento e deixei o cachorro pronto. Mas o ideal é que os noivos comecem a treinar bem antes que isso."