A convivência entre crianças e animais é assunto de diversos estudos científicos que comprovam que a interação traz diversos benefícios — seja em questões de saúde física, como diminuição da probabilidade de alergias e fortalecimento do sistema imunológico; como nas questões emocionais, diminuindo o estresse e até o risco de depressão nos pequenos.
Crianças precisam de atividades diferentes para se manterem alertas, curiosas e criativas, auxiliando em seu desenvolvimento , especialmente no caso das portadoras de necessidades especiais (PNE), que têm 9/12 como data que celebra o Dia Nacional da Criança com Deficiência.
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Os cães se comunicam com o olhar, com latidos e com a toda sua expressão corporal, como a cauda balançando. Essas características, durante brincadeiras, estimulam os sentidos dos pequenos.
Crianças com deficiências motoras, por exemplo, têm no cão um ajudante fofo e carismático que atua no condicionamento físico, seja por meio de brincadeiras ou até mesmo em um passeio, que pode ser encarado como um exercício de força, equilíbrio e coordenação.
Os autistas também amam a companhia canina, que é um elo entre relacionamento social e empatia. Ter um amigo canino por perto também aumenta os níveis de endorfina no organismo, que ajuda a reduzir quadros de depressão.
Uma equipe canina para ajudar
Com o objetivo de ajudar crianças com essas necessidades, Silvio Guilarducci, morador da cidade de Mairinque, no interior de São Paulo , decidiu criar uma “equipe canina” com seus animais de estimação, e realizar visitas a ONGs que atuam no tratamento de crianças carentes.
A Forever Dog é composta por sete cães, cada um com sua própria personalidade. “Grandes, peludos, engraçados e fofinhos. São eles: Aika, uma linda Bernese de 5 anos; Zeus, um carismático Samoieda de 4 anos; Odin, Eros e Aton, os Malamutes brincalhões de pouco mais de 1 ano; Loki, um doce Yakutian Laika de 1 ano; e Thor, o encantador Terra Nova de apenas 6 meses”, descreve o tutor.
Ao Canal do Pet , Silvio esclarece que os cães não receberam nenhum treinamento especial para as visitas, no entanto, são acostumados à convivência com o público desde filhotes.
“Eu sempre tive esse cuidado, com os meus cachorros. Sempre levei para passear em locais públicos, com os devidos cuidados [em relação às vacinas]. Eu costumo passear com eles em parques e até shoppings, ao menos duas ou três vezes por semana.“
Segundo o tutor, a ideia do projeto surgiu para proporcionar momentos alegres e divertidos, — diferentes das brincadeiras tradicionais —, para as crianças que precisam de um cuidado extra. Silvio explica que a ideia o ocorreu quando estava passeando e uma mãe o perguntou se o filho dela, uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), poderia se aproximar dos cachorros.
“Esse tipo de situação é quase diária, e eu faço questão desse contato, não somente de crianças, como de adultos também. Por fazer isso desde muito cedo, ajudou com que os cães tivessem essa docilidade”, conta o tutor. “Além disso, eles associam esse contato [até mesmo alguns puxões leves de crianças] a coisas boas, pois sempre acontece seguido de algo bom, como o próprio passeio e brincadeiras.”
Silvio também afirma que, mesmo que sejam cães muito dóceis, devido ao grande porte das raças, eles precisam de supervisão constante, para evitar possíveis acidentes durante as brincadeiras.
“A visita dos cães da Forever Dog é totalmente gratuita, pois nossa missão principal é levar alegria e conforto para quem precisa. Acreditamos no poder terapêutico dos animais de estimação e na importância de compartilhar amor e compaixão com aqueles que enfrentam desafios diários”, diz o tutor.
“As visitas são gratuitas, com uma duração de até 3 horas, em ONGs e instituições que atendem crianças com necessidades especiais, com o objetivo de proporcionar momentos felizes e estimulantes”, complementa.
Há lados positivos e negativos na relação
Procurada pelo Canal do Pet , a psicóloga Tayane Teizen aponta que, apesar de os benefícios dessa relação realmente acontecerem, é necessário ter cuidados e que ainda há muito a ser explorado sobre o tema.
“Pensar nos pets como um suporte terapêutico é de grande discussão e que merece cada vez mais estudos e investigações no campo científico, porém vale lembrar do quanto o cuidado com os pets não pode ser esquecido”, diz Tayane.
No caso de crianças muito pequenas, como os bebês, por exemplo, ainda não há imunidade o suficiente para lidar com todos os vírus que estão presente no ambiente, seja nas pessoas, nos objetos ou nos animais.
Por isso, Tayane afirma que “o ideal é que a exposição seja feita gradativamente e entendendo os limites, percebendo as reações do bebê e/ou crianças. Ou seja, pode ser que o contato com um cachorro leve a reações cutâneas ou espirros e essas reações precisam ser observadas e cuidadas, a fim de zelar pelo futuro dessa relação bebê/criança e animal.”
Ela reforça que, além dos limites físicos, é preciso pensar nos limites comportamentais. “O bebê nasce com o reflexo de agarrar [...] Como ficaria o cachorro mais dócil desse mundo com uma mão grudada no pelo dele? Pelo menos um certo estranhamento acontecerá.”
A especialista acrescenta: “Com isso, recomendaria que as interações cachorro e criança acontecessem de forma supervisionada até que a criança possa entender os limites de si e do pet, sendo recomendado que esse contato autônomo acontecesse somente após os 4 anos. Lembrando que antes disso não é ‘errado’ o contato, mas é recomendado que ocorra sempre com supervisão.”
No estudo “Posse de animais de estimação e qualidade de vida: uma revisão sistemática da literatura”
, de 2021, os resultados se mostraram variáveis e não apoiaram totalmente os benefícios dos animais de estimação na saúde mental, porém, fala-se do bem-estar que a interação entre pets e humanos proporciona.
“Mais resultados positivos foram encontrados [do que negativos], mas o fato de haver dados significativos negativos não traz uma confirmação absoluta”, aponta a psicóloga.
“Acredito que os dados negativos podem existir pela dificuldade de estabelecer limites, o que é difícil para uma das partes: o cachorro”, avalia a especialista. “Nós podemos ter muitos ganhos na relação com os pets, mas precisamos cuidar para que essa relação seja positiva. Pets têm muito amor para dar e podemos ajudá-los a nos dar da melhor maneira, protegendo e cuidando das duas partes.”
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* O Canal do Pet tentou contato com algumas das ONGs que recebem os cães da Forever Dog, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.