A jiboia é um réptil comum em quase todos os biomas brasileiros. Apesar de ser um animal bastante famoso, é cercado por mitos que despertam medo em muitas pessoas — o que leva a muitas mortes de animais por puro desconhecimento.
Atualmente, são catalogadas 11 diferentes subespécies de jiboias pela América Latina, sendo que apenas duas delas estão no Brasil, e podem ser encontradas em ambientes como os da Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
Apesar dessa variedade de subespécies, todas elas contam com características bem parecidas, como corpo cilíndrico, cabeça retangular e olhos com pupilas na vertical.
A jiboias brasileiras são conhecidas como a jiboias amazônica, chamada de Boa Constrictor Amarali (BCA) e a jiboia comum, chamada de Boa Constrictor Constrictor (BCC). Em sua grande maioria, apresentam cabeça achatada e uma coloração que varia entre tons de cinza e marrom.
Algumas, no entanto, podem ser mais coloridas, como é o caso da jiboia Árco-Íris, que, quando sob a luz do sol, sua pele reflete todas as cores do arco-íris. Além disso, existem as jiboias amarelas e as jiboias albinas, sendo que essas são as mais raras.
A jiboia não é uma ameaça
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a jiboia não é um animal perigoso. A menos que seja ameaçada, não oferece nenhum risco a seres humano. Até mesmo para outros animais (presas), ela só atacará para se alimentar, evitando qualquer outro tipo de conflito para poupar energia.
Apesar de ser um animal dócil, podendo ser um ótimo companheiro como animal de estimação, jamais se deve mexer com uma jiboia em seu habitat natural.
A forma legal de comprar uma jiboia
“Primeiro de tudo, para adquirir uma jiboia é preciso estar de acordo com as leis brasileiras”, diz a médica-veterinária Maria Ângela Panelli, de Barretos, Sâo Paulo, ao Canal do Pet.
Assim como qualquer animal silvestre ou exótico, é necessário procurar um criador responsável e licenciado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
“Sempre adquirir uma jiboia de um criatório legalizado, com ela microchipada e com toda a documentação, para que você esteja legal perante as leis”, complementa a veterinária.
O adestrador de animais Adilson Tosi, de Jaborandi, interior de Sâo Paulo, é tutor de duas jiboias, uma fêmea do tipo Arco-íris, chamada Isis, e um macho BCC, chamado Rambo.
“Eu as adquiri em um criatório que fica em Cornélio Procópio, no Paraná. As jiboias já vêm microchipadas e com nota fiscal, com todos os dados do comprador e do animal”, conta o tutor ao Canal do Pet, lembrando que é necessário passar um leitor para verificar se as informações do chip estão de acordo com a nota fiscal.
“O animal só pode ser retirado junto com toda a documentação. E é papel do criatório fornecê-la”, afirma.
“As jiboias são animais de sangue frio , portanto seu ambiente deve ter uma temperatura que varia entre os 24 e 34°C (em diferentes pontos)”, explica Maria Ângela.
Além disso, de acordo com a veterinária, sempre deve haver uma fonte de umidade, como uma banheira, na qual o animal possa tomar banho, e uma casinha que, geralmente, fica dentro do terrário. “O terrário pode ser feita de vidro ou MDF, com o tamanho correto para o tamanho da jiboia, lembrando que um animal adulto pode atingir de 140 até 240 Cm, dependendo da espécie.”
“No ambiente deve haver um ponto de aquecimento, para que a jiboia possa escolher o melhor local, em que ela se sinta mais confortável, de acordo com a temperatura”, complementa a veterinária. Além disso, o terrário não pode ser completamente isolado. “Tem que ter ventilação e umidade, e o tutor deve sempre ter muito cuidado com esses pontos, para que não propicie o aparecimento de fungos e bactérias.”
A convivência com uma jiboia como pet
Adilson é tutor de duas jiboias, uma fêmeas do tipo Arco-íris, chamada Isis, e um macho BCC, chamado Rambo. “Elas foram adquiridas em junho de 2023, quando tinham apenas 90 dias de vida”, conta.
“A convivência com jiboias como animais de estimação é tranquila. São animais que não dão muito trabalho”, diz Adilson. “Na idade que elas estão hoje (8 meses), elas comem uma vez por semana e não fazem nenhum barulho. Elas não ficam ansiosos esperando o dono chegar em casa, como o cachorro ou o gato. Caso a pessoa precise viajar e ficar uma semana fora, não será um problema.”
O tutor explica que o comportamento desses animais em ambiente doméstico é tranquilo e é preciso ter certos cuidados ao manuseá-los, especialmente após as refeições.
“Elas têm o terrário, e ficam lá na maior parte do tempo. Eu as tiro para manuseio [cuidados com o animal] com uma certa frequência, quando elas comem. Durante cinco ou seis dias, dependendo do tamanho do alimento que elas consumiram, não se pode pegá-las na mão para fazer manuseio”, diz Adilson.
Na fase da vida em que estão se alimentando apena suma vez por semana, Adilson explica que espera que elas façam a digestão e aí tem dois dias para fazer o manuseio, que devem ser rápidos — cerca de 20 minutos.
“Quando eu estou em casa eu as pego de três ou quatro vezes ao dia, por uns 20 minutos, durante dois dias. Aí eu faço o trato delas de novo, e elas ficam mais cinco dias quietinhas”, pontua o tutor, que acrescenta: “É necessário deixá-las no lugar delas, porque elas podem vomitar o alimento e gerar uma gastrite, ou trazer outros problemas para a saúde delas.”
“Quando elas regurgitam, o animal [alimento] volta ao contrário, as machucando por dentro, podendo causar vários problemas. Por isso é melhor que não se mexa com elas depois que são alimentadas.”
É preciso fazer adaptações no ambiente
“O principal é comprar um terrário. Hoje, no mercado, se você procurar por ‘terrários para serpentes’ você encontrará vários modelos que vão se encaixar com o animal que você comprou”, diz Adilson. Ele ainda alerta que é importante pensar no tamanho que o pet vai ficar quando estiver adulto, não se deve comprar o terrário tendo como base apenas o tamanho do animal filhote.
“A maior parte do tempo elas ficam no terrário. Eu as tiro para o manuseio, mas, especialmente quando elas ainda são filhotes, se o tutor deixar que elas fiquem soltas pela casa, as chances de acontecer algum acidente são altas”, alerta o tutor. “Elas vão entrar em qualquer buraco que elas encontrarem para se esconderem, como em um sofá, em uma parede, atrás de uma geladeira, entre outras.”
Adilson lembra que é possível, sim, deixar que fiquem soltas por um tempo, mas sempre com o devido monitoramento do tutor. “Após isso, o mais seguro é voltar para o terrário!”
Cuidados com uma jiboia pet
Alimentação: “As jiboias se alimentam de pequenos mamíferos, como ratinhos, ou mesmo de aves, como pintinhos. E sempre devem ser servidos já abatidos”, destaca Maria Ângela.
“Ela [a cobra] vai se acostumar a comer a presa já abatida, e sempre no momento certo, que depende da idade: pode ser uma vez por semana, uma vez a cada 15 dias ou, até mesmo, uma vez por mês.”
O ideal é que o tutor peça a orientação de um médico-veterinário especializado, para determinar a quantidade e tempo ideal para alimentar sua jiboia de estimação, seguindo o peso e idade do pet.
Adilson reforça que é importente sempre oferecer um alimente de boa qualidade, com um bom valor nutricional para a jiboia.
“As minhas comem camundongos, por exemplo. Então um alimento de boa qualidade são camundongos que sejam bem tratados. Se as presas não foram bem cuidadas, e bem alimentadas, elas não vão fornecer os nutrientes e vitaminas que a cobra precisa.”
Para quem pensa em ter uma jiboia como pet, mas acredita que não se daria bem ao oferecer uma presa viva ao pet, Adilson lembra que é possível encontrar o alimento congelado no mercado, em lojas especializadas. Embora seja uma opção uma pouco complicada, ele admite.
“No meu caso, eu crio [as presas]. Porque é difícil para eu conseguir comprar, devido a distância. Então, principalmente por ser congelado, fica complicado para que eu consiga fazer esse transporte”, diz Adilson, que tem uma criação de ratinhos da raça Twister, que servem de alimento para suas jiboias.
Além de oferecer um alimento de qualidade, o tutor deve ter atenção ao peso, já que a cobra deve comer a quantidade adequada, para que ela possa passar todo o seu período digestivo bem alimentada.
“A cada 30 ou 40 dias, eu faço a pesagem. Porque o alimento tem a ver com o peso delas, não podendo passar 15% a 20%, pois pode fazer mal para o fígado”, alerta o tutor, que exemplifica: “Se for uma cobra de 100g, o camundongo deve pesar entre 15 e 20g, e devem ser oferecidos uma vez por semana.”
Higiene e limpeza do ambiente: “Eu faço a limpeza do ambiente ao menos uma vez por semana”, explica o tutor. “Elas fazem pouco cocô, na verdade. Quando eu dou o ratinho, elas demoram cerca de uma semana para fazer a digestão, então elas só vão fazer as necessidades uma ou duas vezes, quando já estiver perto de fazer o tratamento novamente.”
É necessário deixar um recipiente com água limpa e fresca sempre disponível, do qual a troca é feita a cada dois dias. “Esse recipiente é para a higiene delas, por isso deve ser de um tamanho que a cobra caiba confortavelmente [e consigam entrar e sair com facilidade]”, explica.
“Elas mesmo entram na água, e ficam por horas”, diz o tutor. Por isso, elas podem ficar de dois a três dias sem usar, mas é importante que a água esteja sempre a disposição. “Elas decidem quando é hora de entrar na água, que deve estar sempre limpa!”
Troca de pele: Quando são filhotes, e estão em fase de crescimento, podem realizar a troca de pele mensalmente, até atingirem a fase adulta.
“Depende do filhote”, explica o tutor. “Tem filhote que come mais do que outro — a gente trata uma vez por semana, mas, às vezes, pode acontecer de ele não querer comer. Então, quando eles estão em fase de crescimento, a troca de pele acontece, aproximadamente, uma vez por mês. Já na fase adulta, ocorre cerca de cinco vezes ao ano.”
Idas ao veterinário para consultas de rotina
Para Adilson, o adequado é adequado é levar a jiboia ao menos uma vez por ano, em um veterinário especializado, para fazer o check-up completo. Além disso, “é importante estar sempre monitorando o peso, verificar se estão comendo no dia em que recebem o alimento. E sempre anotar esses dados, para que o veterinário possa consultar e garantir que está tudo bem com o animal”.
“É importante fazer esse acompanhamento, para perceber qualquer alteração no comportamento do animal” diz o tutor. “Se oferecer comida e ele não comer, se ficar muito tempo sem se alimentar, alguma mudança de rotina, tem que levar ao veterinário. Isso é importante!”
“Há cerca de 12 dias eu as levei para o consultório da Dra. Maria Ângela para monitoramento. Mesmo estando tudo bem com elas”, conta.
Problemas de saúde
Assim como qualquer animal de estimação, as jiboias também podem sofrer com doenças comuns, ligadas à espécie. “As doenças mais comuns, nós chamamos de tríade, que são: dermatite, pneumonia e dermatite”, pontua a veterinária.
“Essas doenças são provocadas por fungos e bactérias. Por isso, não se pode deixar de levar o animal de estimação ao veterinário, mesmo que esteja tudo aparentemente bem, para consultas regulares ao menos duas vezes ao ano.”
Maria Ângela, no entanto, destaca: “Caso note qualquer comportamento incomum, o tutor deve levar o pet ao veterinário o mais rápido possível, antes que o problema se complique.”
Outra doença que pode afetar as jiboias é a paramixovirose, causada por um vírus altamente contagioso que afeta, principalmente, as aves.
“Então é importante sempre ficar de olho em mudanças de comportamento, ou no aparecimento de algumas feridas na pele, ou na boca do animal”, afirma a veterinária. “O tutor deve ficar sempre atento e ter sempre um veterinário especialista para auxiliar nos cuidados da jiboia de estimação”, finaliza Maria Ângela.
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