A perda de um tutor ou tutora tem impactos visíveis no humor e no comportamento dos cães, pois eles são “facilmente condicionados a pessoas, estímulos e ambientes”, como explica Dimas Meinerz, veterinário e especializado na psicologia da relação homem-animal. “Eles associam esses estímulos a pessoas queridas. Quando alguém próximo morre, ele talvez demore a entender o motivo pelo qual essa pessoa não aparece mais dentro do contexto aprendido, e isso, muitas vezes, deixa o animal confuso”.
Para entender de que forma os cães reagem a essas perdas e quais são os possíveis sinais de alerta durante o luto, é importante ter em mente que a reação varia de animal para animal, de acordo com Meinerz, ou seja, não existem manifestações padronizadas e sim uma série de comportamentos que podem ou não ser observados. Fabiana Macharelli, veterinária, elenca alguns fatores mais comuns que os cachorros apresentam perante à perda de um tutor ou de alguém querido.
“Falta de interação social, ansiedade, estresse, perda de apetite, fazer as necessidades no lugar errado, vocalização excessiva, agressividade, beber ou comer mais do que o normal, dormir demais e ganho ou perda de peso muito rápido. Os cães são muito apegados aos tutores”, explica ela. “Quando eles o perdem, o animal demonstra apatia, que é bem comum durante o processo de depressão e tristeza”.
“No primeiro momento, o cãozinho pode ficar mais eufórico, latindo”, adiciona Dimas. “Ele pode choramingar e buscar pelo tutor ausente. Em um segundo momento, eles costumam ficar mais quietos, menos dispostos a brincadeiras. Dentro de alguns dias, a situação pode ocasionar a queda de imunidade”. Porém, como dito pelo especialista anteriormente, o quadro nem sempre é o mesmo para todos os animais.
“Alguns podem passar pela fase do luto sem alterações significativas, já outros podem desenvolver sintomas mais sérios, como a própria recusa em se alimentar e indisposição para manter a rotina que tinha com o tutor anteriormente”, explica.
Fabiana complementa que um animal que está há um ano com o tutor pode não sentir muito a separação, mas um que estava há 13 anos com a mesma pessoa vai sentir muito mais. Ela levanta a questão de como o meio no qual o cachorro está inserido interfere na forma como ele reage à situação.
“Os cães são muito sensitivos e reativos”, explica. “A tristeza dos membros da família irá potencializar a reação do cachorro. O ideal é manter a rotina de alimentação e passeios e, se possível, aumentar a atenção direcionada ao pet com brincadeiras e interações, sobretudo quando ele se mostrar animado”.
Ambos os especialistas respondem positivamente quando questionados se existe a possibilidade do animal se adaptar a um novo tutor, mas há alguns pontos a serem considerados. Macharelli, por exemplo, destaca que é importante ir com calma.
“Para que o processo [de readaptação] ocorra, o animal precisa se sentir acolhido, receber carinho. Uma ideia é ir oferecendo petiscos, levar para passear, dar brinquedos e, se necessário, fazer uso de medicamento floral para estresse e medo, ou até tentar manter a rotina que ele tinha com o ex-tutor até que se adapte”, aconselha.
“A maioria dos animais ficará bem próxima da pessoa que ficar responsável por suprir suas necessidades básicas de alimentação, carinho e passeios”, continua Dimas. “Alguns animais mais inseguros tendem a levar mais tempo para construir um laço de confiança e, nesses casos, a ajuda de um profissional especializado em comportamento canino pode ser bastante útil”.
Reflexos da falta de cuidado
Assim como os seres humanos, os animais sentem e processam traumas e perdas de forma muito particular. O luto em geral é um período difícil, e os cachorros precisam de tempo para processar. “É necessário dar ao animal o tempo que ele necessitar”, sublinha Fabiana. “Fique atento aos sinais que ele mostrar, dê carinho e não quebre a rotina dele”.
De acordo com Dimas, a falta de atenção a este momento sensível e o desapego com as reações dos cães contribuem diretamente para o adoecimento do pet. “Animais que não têm suas necessidades atendidas podem sofrer por muito mais tempo e até mesmo desenvolver alguma doença. A alimentação inadequada e queda de imunidade proporcionam ou aceleram o surgimento de doenças sistêmicas (doença respiratória, ocular, claudicação, linfadenopatia e lesões cutâneas proliferativas). É importante se atentar a quaisquer alterações e comunicar o veterinário em questão”.
Justamente para evitar o sofrimento do cãozinho ao máximo, o especialista indica alguns comportamentos que permitem que o animal enfrente essa fase difícil de maneira menos intensa e com menos respaldo para o desenvolvimento de transtornos, sejam eles emocionais ou não.
“Melhorar a qualidade dos passeios é um dos caminhos mais adequados”, pontua. “Passear por locais diferentes e aumentar o tempo e a frequência ajudará muito. Essa quebra de rotina irá auxiliar o cão a passar pelas mudanças, além de aumentar o laço de afeto com o novo tutor. É preciso ser paciente; alguns cães podem demorar mais para desenvolver carinho pelo novo responsável, mas uma vez superado esse processo, o amor é enorme. Cães que gostam de brinquedos podem ganhar alguns novos, lembrando que o foco em novidades ajudará o animal a superar a falta do tutor anterior”, conclui.
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