Seguir uma rotina é importante para a saúde dos animais de estimação, isso vale para as brincadeiras, passeios e, é claro, para a alimentação. O cachorro deve ter horários determinados para suas refeições, que devem ser oferecidas em uma quantidade adequada, para que o pet fique bem alimentado e tenha uma boa qualidade de vida.
Quando o pet come demais, há um problema, pois pode sofrer com problemas de obesidade, assim como comer de menos também deve ser evitado. Caso o tutor perceba que o animal está comendo pouco, ou perdeu o interesse pelo seu alimento tradicional (a ração), o tutor deve saber identificar o motivo pelo qual o animal não está comendo normalmente, podendo assim encontrar a melhor forma de resolver.
O que pode levar a falta de apetite no animal de estimação
“Primeiramente é preciso pensar que existem causas patológicas e não patológicas que podem fazer com que o animal não se alimente, como, por exemplo, uma inapetência causada por uma doença ou a simples falta de atratividade de um alimento para o animal”, observa o médico e professor de medicina veterinária Paulo Gabriel Pereira da Silva Junior.
Ao Canal do Pet, ele explica que é possível “testar o apetite” do animal com um alimento que ele gosta, mas não tem acesso diariamente. O tutor pode oferecer um alimento que o cachorro ou o gato goste, que não seja o alimento que ele recebe em sua alimentação tradicional - seja ração ou alimento natural fresco.
“Se o pet não se interessar por esse alimento [como um petisco, ou sachê] que geralmente ele gosta, é importante procurar a ajuda de um veterinário para identificar qual é a causa”, orienta o professor.
A especialista em nutrição animal, Carla Maion, explica que a falta de apetite em cachorros pode ser causada por diversas razões, como doenças físicas, distúrbios gastrointestinais e problemas de comportamento - sendo extremamente importante que os tutores se atentem ao bem-estar físico e psicossociológico dos pets.
“Doenças físicas são frequentemente responsáveis, incluindo problemas orais e dentários, como gengivite ou dentes fraturados, que tornam a mastigação dolorosa”, comenta Carla ao Canal do Pet. “Distúrbios gastrointestinais, como infecções, inflamações (gastrite ou pancreatite), obstruções intestinais ou parasitas, também podem levar à redução ou à anorexia. Doenças sistêmicas, como insuficiência renal, cardiopatia e tumores, muitas vezes apresentam perda de apetite como sintoma marcante.”
A nutricionista pet acrescenta que problemas de comportamento e estresse são outras causas significativas, que podem ser causadas por mudanças no ambiente, como uma nova casa, a introdução de novos animais ou pessoas na família. “Alterações na rotina diária também podem estressar o cão e afetar seu apetite”.
Carla destaca que a ansiedade de separação é notoriamente conhecida por causar falta ou excesso de apetite em cachorros muito apegados aos tutores. Outro fator é que os cães também podem enjoar da ração. “Alguns são mais seletivos e podem recusar a ração se não gostarem do sabor ou da textura. Em casos extremos, podem se tornar neofóbicos, resistindo a novos alimentos devido a experiências negativas anteriores”, afirma a nutricionista.
A temperatura ambiente também pode influenciar o apetite, diz Carla, “pois em climas quentes os cães podem reduzir a ingestão de alimentos devido ao desconforto e ao calor, preferindo comer menos até que a temperatura se torne mais amena. A desidratação, que ocorre mais facilmente em temperaturas elevadas, também pode diminuir o apetite”.
Fatores psicológicos e emocionais, como tristeza ou tédio, também podem influenciar significativamente o comportamento alimentar dos cães, aponta a nutricionista. “Cães que não recebem estimulação mental ou física suficiente podem perder o interesse em comer”.
Oferecer um novo alimento também deve ser feito com calma, já que, de acordo com Carla, “mudanças na dieta, como a introdução repentina de um novo tipo de ração, podem resultar em recusa alimentar, pois o sistema digestivo do cão pode precisar de tempo para se adaptar. Além disso, a idade do cão é importante.”
Caso o pet seja um filhote, Carla aponta que eles podem perder o apetite durante a fase de dentição devido à dor, ainda que seja pouco comum, enquanto cães mais velhos podem ter condições crônicas que afetam o apetite. “Medicamentos, tanto os prescritos para condições crônicas quanto para doenças agudas, podem ter efeitos colaterais que incluem a diminuição do apetite ou desconforto digestivo”, destaca a nutricionista.
Como o tutor pode identificar o problema?
Paulo Gabriel reforça que observar o interesse do pet por alimentos que, geralmente, chamam sua atenção quando oferecidos é um fator importante para identificar se há um problema. “Ao fazer isso, o animal certamente irá demonstrar interesse. Caso não o faça, o recomendado é procurar ajuda de um veterinário.”
Segundo Carla Maion, o tutor pode identificar o problema observando mudanças no comportamento alimentar do pet. “Sinais incluem a recusa persistente de comida, perda de peso, letargia, vômitos ou prostração. Mudanças no comportamento, como aumento da agressividade ou retraimento, também podem indicar que algo está errado”, afirma a nutricionista, ressaltando a importância de se consultar um veterinário para determinar a causa subjacente.
“Exames físicos, laboratoriais e de imagem podem ser necessários para diagnosticar corretamente a condição do cão”, acrescenta Carla. “Observar a frequência e a quantidade de comida consumida, as sobras, além de monitorar a hidratação e o comportamento geral do animal, são passos importantes para identificar problemas rapidamente”.
Até quanto tempo é ‘normal’ que o cão fique sem comer?
O ideal é que os cães façam de duas a três refeições diárias, ao observar que o pet pulou uma das refeições, o tutor deve se atentar se ele irá consumir o alimento (total ou parcialmente) na próxima, ou se continuará sem se alimentar.
“Nós temos uma relação entre a frequência e a quantidade de alimentação”, pontua Paulo. “Como o animal está muito próximo ao tutor, ele pode observar a quantidade de ração disponibilizada. É, inclusive, uma orientação: que o tutor siga a quantidade indicada pela [embalagem] ração e pelo veterinário. O animal deve ingerir aquela ração em determinado tempo, e o tutor deve observar essa quantidade ingerida”, afirma o professor, destacando que não se deve deixar o alimento do pet exposto ao longo do dia.
Há um tempo limite em que os cães, por qualquer motivo que não seja a negligência do tutor, podem ficar sem se alimentar. Isso varia de acordo com a idade do animal.
“Filhotes não devem ficar mais de 12 horas sem comer devido à necessidade de calorias para crescimento e desenvolvimento”, complementa Carla Maion. “Cães adultos podem tolerar até 24 horas sem comida, mas não é recomendável prolongar a falta de alimentação, especialmente se houver outros sintomas.”
No caso de cães idosos, a nutricionista explica que eles têm reservas de energia menores e podem ser mais suscetíveis a complicações se ficarem sem comer por mais de 24 horas. “A frequência e a duração da falta de apetite são indicadores importantes para determinar a necessidade de intervenção médica.”
Para Paulo, não é normal que o animal fique sem comer. “Eventualmente, ele pode ingerir uma quantidade menor, mas, se acontecer, se acende um alerta para que o tutor fique atento à próxima refeição. Caso observe que o pet está comendo menos do que o de costume, deve procurar um veterinário”, afirma.
“Não demore [a procurar ajuda], porque isso traz repercussões muito negativas e, quando se fala de alimento, obviamente se deve considerar também a ingestão de água - quantidade e frequência. Tudo deve ser correlacionado também com a frequência e quantidade de micção e defecação do animal”, acrescenta o professor.
Petiscos podem atrapalhar a alimentação adequada dos cães?
Carla diz que os petiscos podem atrapalhar o consumo da ração se forem dados em excesso, pois podem reduzir a fome do animal para a refeição principal.
“A melhor forma de dosar petiscos é utilizá-los com moderação e como parte de um regime de treinamento ou recompensa , não excedendo 10% da ingestão calórica diária total do cão”, orienta a nutricionista.
Ela acrescenta que é crucial escolher petiscos saudáveis e apropriados para a idade e condição de saúde do cão. “Petiscos devem ser nutritivos e adequados, evitando aqueles ricos em açúcares, gorduras ou aditivos artificiais. Manter um equilíbrio entre petiscos e refeições regulares é essencial para garantir uma dieta equilibrada e saudável”, afirma Carla.
Paulo Gabriel destaca ainda que os petiscos devem ser dados em um momento de agrado, de proximidade entre pet e tutor, como uma forma de favorecer essa interação. “Esse petisco deve ser prazeroso para o cão e para o tutor, como uma forma de valorizar esse momento [uma recompensa], não deve ser fornecido em excesso. É uma questão de qualidade, não de quantidade”, diz o professor.
Ele pontua que existem alguns petiscos que também são usados para finalidades específicas, como, por exemplo, ajudar na limpeza dos dentes.
“Ainda assim, não é dado em quantidade suficiente para alimentar completamente o animal, não deve interferir em sua refeição principal.”
Como estimular o apetite do animal
Paulo Gabriel diz que é fundamental investir em um alimento de boa qualidade. “Buscar fontes de boa alimentação, rações de boa qualidade, em quantidades adequadas, mantendo a saúde desse animal. E ninguém melhor do que o médico-veterinário para orientar. Contudo, cabe ao tutor fazer essa solicitação.”
Paulo complementa: “Além do alimento é importante fornecer água fresca, filtrada e em bebedouros sempre higienizados.”
Carla destaca que existem várias estratégias que podem ajudar e aumentar a palatabilidade da comida, como adicionar caldos naturais de carne ou frango, sem sal ou outros temperos, ou mesmo adicionar um pouco de água morna pode tornar a ração mais atraente.
“Uso de ‘topper’ pode auxiliar no melhor e mais intenso perfume da dieta para o cão”, pontua a nutricionista, acrescentando que aquecer ligeiramente a comida também pode liberar aromas que incentivam o cão a comer.
Outra alternativa interessante é oferecer quantidades menores de alimento mais vezes ao dia. “Oferecer pequenas refeições frequentes em vez de uma ou duas grandes refeições pode ser mais manejável para alguns cães. Manter uma rotina alimentar consistente e fornecer um ambiente tranquilo e livre de estresse durante as refeições também é importante", continua.
“Em casos em que a perda de apetite persiste, suplementos ou medicamentos prescritos por um veterinário podem ser necessários para estimular o apetite. Estimulação física e mental, como exercícios e jogos, pode aumentar o apetite e auxiliam nos reforços positivos”, finaliza a especialista em nutrição pet.
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