Para os seres humanos pode ser algo simplesmente impensável e repugnante pensar em se alimentar com a carne de um igual, especialmente se tratando do próprio filho, mas na natureza isso não é tão incomum e existe uma explicação perfeitamente aceitável para isso.
Ao contrário dos humanos que, geralmente, têm apenas um filho por vez, muitos animais podem ter até 10 filhotes em uma única ninhada, algo impensável para quem precisa sobreviver na natureza, procurando por recursos escassos e se protegendo de eventuais predadores.
Primeiramente, as fêmeas podem se alimentar de um filhote que tenha nascido com alguma deficiência e que naturalmente não conseguiria sobreviver por muito mais tempo. Outro ponto é que a fêmea pode não conseguir alimentar tantos filhotes de uma só vez, algo que a enfraqueceria e prejudicaria de forma geral a própria sobrevivência da mãe e de toda a ninhada. Ao se alimentar dos filhotes, ela garante nutrientes necessários para se fortalecer e aumentar as chances de sobrevivência dos filhotes remanescentes.
Quanto aos predadores, muitas vezes as fêmeas podem preferir elas mesmos se alimentarem dos filhotes, do que dar a chance a um predador de fazê-lo, e se fortalecer ainda mais por isso, ou apenas abandoná-los, para que possa sobreviver e, dessa forma, garantir que haja novas ninhadas no futuro.
Vale pensar que, caso a mãe morra, as chances de sobrevivência dos filhotes na natureza é quase zero, mas com a sobrevivência da mãe, novas ninhadas poderão nascer no futuro – e, consequentemente, a sobrevivência da espécie.
Um exemplo bem comum são os hamsters, que as fêmeas têm, em média, oito filhotes e podem comer dois deles. Testes feitos em laboratórios constataram que, ao retirar alguns filhotes após o nascimento, esse canibalismo era cessado, mas ao acrescentar mais filhotes, o comportamento aumentava.
Em ambiente doméstico
Uma vez que se considere a questão de sobrevivência de animais na natureza, o que levaria a animais domésticos a comerem os próprios filhotes após o nascimento? Para isso, também existem explicações e não é algo pelo qual os tutores devam repreender seus animais de estimação.
Segundo a médica veterinária Salua Cataneo, essa é uma questão instintiva e não tem relação com o ambiente onde as cadelas residem e pode acontecer caso a fêmea perceba que algum animal da ninhada não irá sobreviver. “Normalmente nascem mais filhotes do que a mãe pode cuidar, se a mãe sente que o filhote tem dificuldade para se alimentar e está muito fraco, ela tem esse comportamento. Pode acontecer, mas não é tão comum”, explica.
Para Juliana Damasceno, mestre em psicobiologia e especialista em comportamento felino, essa questão, além de filhotes que já nascem sem chances de sobrevivência, pode estar atrelada à inexperiência das fêmeas para a maternidade e a situações de estresse vivenciadas pela fêmea durante a gestação, embora, ela afirma, sejam casos mais raros.
“Quando os filhotes nascem natimortos, esse é um comportamento adaptativo que acontece na maioria dos animais, como reaproveitamento energético e também como limpeza do local, por assepsia”, explica a bióloga.
Questões de saúde
Salua Cantaneo explica que o comportamento de comer os filhotes não está diretamente ligado à mãe, mas ao perceber que um filhote não tem chances de vingar. No caso de um filhote debilitado, mas ainda vivo, a veterinária orienta que as fêmeas podem ter um parto assistido e o tutor pode retirar esse filhote da ninhada e cuidar dele separadamente, já que as chances de um filhote menor e mais fraco são maiores, sendo importante notar se, como mãe, a fêmea assumiu um comportamento mais agressivo e a forma como ela lida com os filhotes, nem sempre estando ligado diretamente aos instintos da fêmea.
Ao se alimentar dos filhotes mais debilitados, a fêmea também está garantindo a sobrevivência dos filhotes mais fortes, pois o animal mais fraco pode também debilitar aqueles com mais chances de sobrevivência.
Como explica Juliana Damasceno, quando as fêmeas dão à luz, elas se alimentam da placenta, higienizando os filhotes, quando um filhote natimorto (quando morre ainda dentro do útero), a fêmea tem o impulso de se alimentar desse filhote, como uma forma de higiene e recuperação de energia, essenciais para a sobrevivência do restante da ninhada.
Estresse, depressão ou traumas do passado
Para Salua, não se deve confundir estresse e depressão com esse comportamento, para ela é uma maneira antropomórfica de avaliar os animais. “Os animais não são conscientes, isso significa que eles agem pelo instinto, agem pelo que está marcado geneticamente neles”, afirma.
Contudo, para Juliana, ter passado por situações traumáticas ou estresse crônico durante o período de gestação podem acarretar nesse comportamento, assim como questões nutricionais.
Uma fêmea muito agressiva, ou que está se escondendo demais, pode estar passando por um momento de estresse e isso pode acontecer durante a gestação. “Ela [a gata] tende a ficar mais agressiva, principalmente com outros gatos, o que é normal, mas existe um padrão dessa agressividade, quando se vai além desse padrão, é motivo para se preocupar”, explica a bióloga.
Juliana também alerta para questões pré-existentes de comportamento que, muitas vezes, os gatos já passam e, por falta de informação, os tutores não sabem. “Infelizmente, na maioria das casas acontecem situações estressantes, conflitos com outros gatos, presença de outros animais (e dificuldade de socialização com esses outros animais), alterações na rotina. São muitos os fatores que podem influenciar no bem-estar de um gato, o levando a sofrer com o estresse”.
Assim como fatores ambientais, a saúde física do pet também pode gerar esse estresse, da mesma forma que a agitação pode levar a problemas mais sérios de saúde. “O estresse deixa o animal imunossuprimido, ficando mais suscetível a ter alguma intercorrência física”, diz Juliana.
A inexperiência na maternidade
Em muitos casos a fêmea ainda não está preparada para ser mãe, portanto não terá o instinto maternal para cuidar dos filhotes.
“Isso pode acontecer tanto em animais domésticos quanto em animais selvagens. Na primeira cria a fêmea ainda não está plenamente desenvolvida, seja comportamental ou fisicamente, para prover os cuidados maternos”, explica Juliana, que ressalta que é algo raro de acontecer, mas é possível, principalmente em casos de filhotes que nascem com alguma deformidade, ou já sem vida.
A importância do pré-natal
Salua Cataneo destaca que é muito importante que seja feito o pré-natal para se certificar de quantos filhotes a fêmea está esperando, mas que, durante o parto, o recomendado é que o tutor não interfira ou, caso haja necessidade, que interfira minimamente.
“No caso de parto assistido, o ideal é que o tutor esteja apenas amparando, pois isso pode levar a rejeição [da fêmea com o filhote]”, explica a veterinária.
“A mãe irá rasgar a bolsa e lamber o filhote, o que é um processo fundamental. Este ato de limpeza do animal estimula o pulmão, desobstruindo as vias aéreas. Esse é o comportamento esperado e a fêmea precisa passar por isso”, destaca Salua, que acrescenta que, caso se perceba que em um parto que deveriam nascer quatro filhotes, nasceram apenas três, e a fêmea está muito ofegante, ela está passando por complicações no parto e o tutor deve leva-la ao veterinário imediatamente.
“O auxílio do parto só deve ser feito quando necessário, pois este momento é muito da mãe. E caso ela rejeite o filhote ou demonstre que pode ataca-lo, o tutor deve isolar o recém-nascido por um tempo da fêmea”, completa.
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