Bruce, um papagaio da raça Kea que vive sem a parte superior de seu bico, no zoológico da Reserva de Vida Selvagem Willowbank em Christchurch, na Nova Zelândia. O papagaio selvagem chamou a atenção de pesquisadores depois que os tratadores da reserva notaram que a ave tinha habilidades únicas para conviver com a deficiência.
Por não ter parte do bico, Bruce utiliza ferramentas como galhos e pedras para conseguir limpar o bico e ingerir alimentos. De acordo com um relatório de Amalia Bastos, Ph.D. da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, publicado na Scientific Reports, o comportamento do papagaio é considerado único, intencional e inovador.
O padrão de comportamento, ao utilizar os objetos e o modo como ele mostra escolher o ideal para executar o serviço que deseja, segundos os pesquisadores essa é a primeira observação disso em uma ave na natureza, sem que tenha passado por qualquer tipo de treinamento.
Ao longo de nove dias, a equipe de pesquisa observou que Bruce procedeu a se enfeitar 90% das vezes em que pegava uma pedra; e em 95% das vezes, quando Bruce deixou cair uma pedra, ele recuperou ou substituiu por uma nova - tudo isso indica que ele estava intencionalmente procurando a ferramenta certa para fazer o trabalho. Além disso, nenhum outro Kea ao redor dele estava fazendo a mesma coisa.
O mesmo tipo de prática foi observado enquanto Bruce buscava comida. “Ele pega um pedaço de cenoura e empurra contra um pedaço duro de metal ou pedra e usa isso para raspar com seu bico inferior, o que novamente é um comportamento alimentar que não vimos em outras aves”, disse a Amalia ao The Guardian. “Não é o uso de ferramentas, mas é outra maneira interessante que ele se adaptou à sua deficiência”.
Bruce foi descoberto ainda filhote em 2013, já sem a parte superior do bico, os criadores da reserva acreditam que possa ter sido um ferimento causado por uma armadilha de pragas.
“Kea não exibe regularmente o uso de ferramentas em estado selvagem, então ter uma ferramenta individual inovadora usada em resposta à sua deficiência mostra uma grande flexibilidade em sua inteligência”, disse Bastos. “Eles são capazes de se adaptar e resolver com flexibilidade novos problemas à medida que surgem”, completou.