Não é incomum que tutores de cachorros desejem adotar um novo animal de estimação diferente, como um gato ou de outras espécies, como porquinhos da índia, calopsitas e até mesmo galinhas. No entanto, o tutor sabe que, ao trazer um novo pet para casa, é praticamente certo que, ao menor descuido, esse se tornará um alvo fácil para o instinto de caçador do cachorro da casa.
Esse é um comportamento dos cachorros que faz parte da natureza deles, ou seja, não se pode retirar isso deles. Mas é possível ter alguns cuidados para que o pet não impeça o tutor de adquirir um novo animal de estimação para a casa.
O adestrador comportamental André Almeida explica que estes são impulsos dos cães, que são comportamentos de caça ou de defesa. “Lembrando que na natureza eles são caçadores e coletores, comportamentos que eles têm quando há necessidade. Para ‘retirar’ isso do cão depende muito do momento em que ele está e do que essa caça está fornecendo para ele, pois isso pode ser algo recompensador, como um reforço de comportamento”, explica.
Se o cão caça quando tem fome, por exemplo, a caça traz uma grande recompensa para o animal, na natureza nem sempre essa caça é bem sucedida, ou seja, o animal apenas caça, mas não efetivamente come a presa. Na natureza, é algo que define a sobrevivência do animal.
Quando o tutor está passeando e o pet corre atrás de um animal, como um pombo, por exemplo, ele entra no comportamento de caça. “Provavelmente ele entrou nesse comportamento porque aquela atividade que ele estava não estava com a concentração necessária e nem com o reforço de comportamento necessário naquele momento”, descreve o adestrador.
Quando o tutor decide brincar com o cão para ele buscar uma bola ou um disco, essa brincadeira, para ele, é uma forma de caça. Dependendo do ambiente e da situação, outros objetos e odores podem se tornar mais interessantes para o animal e ele partir em direção de algo que ele não deveria, até mesmo o animal de estimação de outras pessoas.
“Para evitar que o cão entre em comportamento de caça, nós utilizamos um trabalho de obediência mais avançado, em que o cachorro deve responder prontamente. Para isso, usamos reforçadores de comportamentos mais altos e, às vezes, com punições de comportamento, com esse reforçador de comportamento que tornará essa resposta mais rápida”, detalha André.
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Existem cães que nascem sem o “drive de caça”, como explica o adestrador. “São os cães que nós não utilizamos para funções de trabalho, como cães de guarda, para proteção de território, proteção de famílias, por exemplo. Para estas funções os cães precisam ter um instinto de caça muito alto”.
Para essas funções, cães com um instinto mais frágil, esses cães não são indicados, pois em uma situação de potencial perigo o animal se vê com duas opções: fugir ou brigar. Se para ele a primeira for a mais interessante, ele abrirá fuga, como em uma situação de nervosismo. “Isso pode ser uma situação de agressão em defesa e não de caça”, nesse caso, nos referimos aos animais de trabalho, como exemplo.
Quando falamos em caça é porque o animal quer. Quando falamos em defesa, ele não tem escolha. “Se um cão está em uma praça e ele quer caçar um gato, por exemplo, ele pode seguir esse comportamento”. André explica que esse comportamento pode ser uma consequência da forma como o cão foi apresentado ao gato e isso pode se tornar algo interessante para o cão. “Pode acontecer também de o gato correr e o cão entender aquilo como diversão e ir atrás do felino, e pegar o animal pode ser algo bom ou ruim para ele”, explica.
Caso o cão entenda que o outro animal é mais forte do que ele, isso pode retirar o interesse em caçar esse animal. “Em uma hipótese de que o cão caçou o gato e o gato ataque o cão de volta, ele perderá o interesse em atacar esse animal (em uma situação de diversão)”, comenta.
“Esses impulsos já nascem com esses animais, o que podemos fazer é direcionar se isso irá ou não ganhar força, e isso é influenciado pelo ambiente e pela apresentação da situação. Vários cães são criados com outras espécies e eles são apresentados para esses outros animais de uma forma que eles não enxerguem a necessidade de caçar”, exemplifica.
O cão entrará em uma situação de caça caso ele entenda que o ambiente esteja dando oportunidades, ou quem está acompanhando o pet não tenha o domínio da situação, assim como falta de treinamento. “Para se ter uma ideia, há cães que fazem trilhas e, quando estão em agrupamento – que se difere do natural de matilha – eles irão se concentrar nas atividades e não pensarão em caçar outros animais, mesmo que tenham alimentos próximos, eles não darão importância”, diz. Um exemplo disso são animais usados em buscas, como em situações desastre ou procura de fugitivos.
Tudo dependerá também do bem-estar do cão, caso ele se sinta bem em determinado ambiente ou situação, ele não se preocupará com outras distrações“. Assim como um cão pode ser estimulado a caçar, ele pode ser condicionado a fazer o contrário. Ele não perderá esse instinto, mas terá mais controle sobre ele.
Quando é um cachorro de estimação caçando, geralmente, é apenas diversão para ele. Ele pode voltar ao chamado do tutor, ou ignorarem, dependendo da situação. Pode ser apenas por gasto de energia e não necessariamente ele irá comer, pois já estará alimentado. “Em uma situação de caça real, é uma situação muito mais tensa para esses animais, é preciso que seja muito recompensador, como conquistar um alimento. Um cão de estimação, geralmente, já está bem alimentado, ele levará apenas como diversão, porém o instinto dele lá”, completa.