Os animais de estimação são seres surpreendentes e contam com sentidos que funcionam quase como “superpoderes” — como olfato e audição muito superiores aos dos seres humanos. No caso da visão, apesar de certas peculiaridades, cães e gatos também podem ter problemas semelhantes aos nossos, como miopia, por exemplo.
Para entender como funciona a visão de cães e gatos, o Canal do Pet conversou com Rodrigo Trolezi, médico-veterinário e docente do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), e as médicas residentes do Hospital Veterinário da UniFAJ, Fernanda Moura, Lara Criveli e Larissa Pio.
Cães sofrem de problemas de visão como os humanos?
“Geralmente, nota-se mais facilmente em animais que desenvolvem atividades específicas ou que exigem um certo grau de acuidade visual, como cães policiais, por exemplo”, diz o veterinário ao Canal do Pet.
Rodrigo acrescenta que é comum que a maioria dos animais tenha algum grau de alteração, porém, “para melhor avaliação desse quadro e confirmação de alguma alteração, o ideal é passar por consulta com médico-veterinário especializado em oftalmologia e realizar exames específicos.”
É possível fazer um exame de vista nos pets?
“Sim, é possível realizar os comumente ditos ‘exames de vida’”, diz Fernanda. “Entretanto, se diferem dos realizados em seres humanos, devido ao animal não conseguir se expressar do mesmo modo.”
“Na veterinária, para avaliarmos as condições visuais do paciente em um todo, partimos primeiramente de uma anamnese, — que consiste em uma entrevista com o tutor do animal, — quando é possível conhecer o histórico e outros sinais clínicos importantes do animal, além de possíveis fatores predisponentes e afins”, continua a especialista. “Na sequência, é realizada a inspeção da morfologia ocular e periocular para se ter mais informações.”
Os principais exames
Lara acrescenta ainda que um exame de vista de grande importância a ser realizado é conhecido como “reflexo de ameaça”, feito com movimento de mão do lado da cabeça do animal.
“Esse movimento tem de ser delicado e não se deve fazer corrente de vento, uma vez que as vibrações do ar podem interferir no teste, fazendo com que o animal pisque os olhos”, continua a especialista.
“Na sequência, temos o reflexo pupilar fotomotor direto e consensual, quando utilizamos um foco de luz em direção ao olho para avaliarmos o reflexo pupilar do animal, podendo ter alguns resultados comuns, como a midríase [dilatação das pupilas], miose [retração das pupilas] ou mesmo a pupila paralisada”, explica.
Um teste a ser realizado, principalmente em raças braquicefalicas, devido a sua pré-disposição a desenvolver alterações, é o lacrimal de Schirmer, “quando é verificada a produção de lágrimas do animal, sendo natural entre 13 e 25 mm/min em cães e de 10 a 20 mm/min em gatos”, acrescenta Rodrigo.
“Há ainda o teste de movimento, sendo mais utilizado em animais curiosos, ou seja, filhotes que não identificam uma ameaça, mas são curiosos; além de gatos”, diz o especialista.
“De grande ajuda na clínica, temos também o exame conhecido como ‘teste de fluoresceína’, que é um corante utilizado para a avaliação da córnea, filme lacrimal e ducto nasolacrimal. Este tem como objetivo principal detectar úlceras de córnea, avaliar a integridade da córnea, determinar a qualidade do filme lacrimal e a funcionabilidade do ducto nasolacrimal. Após esses exames, é possível fazer uma triagem oftálmica e, caso necessário, realizar outros testes mais específicos como a tonometria de aplanação, fundoscopia, gonioscopia, eletrorretinografia, entre outros”, pontua o professor.
Os animais têm visão superior a dos humanos em baixa luminosidade?
Larissa explica que a visão é uma mescla de dois tipos celulares, que são: cones, responsáveis para enxergar cores; e bastonetes, responsáveis por captar luminosidade.
“Os cachorros têm ancestralidade em comum com os lobos, que apresentam hábitos de caça em horários em que há pouca luz e, por esse motivo, a visão noturna desses animais era necessária para sobreviver”, diz a especialista.
Ela complementa: “Mesmo com a evolução, os cães mantiveram essa característica. Sendo assim, os cachorros possuem maior número de células bastonetes, que captam melhor a luz, por isso possuem visão noturna melhor e mais aprimorada do que os humanos.”
Cães e gatos enxergam cores?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam até hoje, os animais não enxergam “em preto e branco”. Os cães, por exemplo, enxergam as cores azul, vermelho e amarelo. Inclusive, é interessante que os tutores ofereçam brinquedos que tenham essas cores aos seus pets.
Conforme explica Rodrigo Trolezi, os cães têm uma visão de cores rudimentar (dicromática), e são sensíveis à luz de ondas curtas (azuladas). “Eles facilmente têm predileção a escolherem objetos cujas cores lhes pareçam mais acentuadas e chamativas, sendo essas o azul, o vermelho e o amarelo. Dessa forma, é de preferência a escolha de objetos nessas tonalidades para se ter como brinquedos para os pets.”
No caso dos felinos, o especialista explica que, cientificamente falando, os gatos têm duas modalidades de cones (células do olho responsáveis por enxergar cores) em sua retina, enquanto os humanos têm três.
“Por essa razão, os gatos não enxergam em preto e branco, como muitos pensam, mas em azul e amarelo. Os cães também têm duas modalidades de cones, porém, captam melhor as cores vermelha, amarela e azul”, afirma.
Os olhos dos gatos se adaptam melhor a diferentes condições de luz
“Os olhos dos felinos são extremamente adaptados a pouca luminosidade por uma questão evolutiva”, afirma Rodrigo. “A estrutura oftálmica responsável pela passagem da luz no globo ocular é a córnea — estrutura curva para auxiliar no foco da luz até a propagação da mesma na retina.”
O especialista acrescenta: “Assim que passa pela córnea, vai para a coroide, estrutura altamente vascularizada dividida em múltiplas camadas, — sendo uma delas denominada de tapete lúcido que, por sua vez, é responsável por auxiliar a visão noturna e tem aparência iridescente e extremamente desenvolvida nos felinos.”
Além disso, diz Rodrigoa, as células do tapete contêm bastonetes cristalinos dispostos de tal maneira que, se há luz incidindo neles, divide-se em seus componentes e resulta na iridescência característica.
Cuidados que os tutores precisam ter com os olhos dos pets
Os olhos dos animais, assim como dos seres humanos, devem ser brilhantes e lisos, orienta o especialista. “Caso o tutor note que estão aparentemente secos, sem brilho, com presença de manchas esbranquiçadas, avermelhados, com a pálpebra inchada ou mesmo piscando constantemente, devem procurar um médico-veterinário”, finaliza Rodrigo.
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