Há pouco mais de um ano começou a se popularizar pela internet um acessório bem particular, popularmente conhecido como “tapete interativo”, que consiste em uma série de botões posicionados lado a lado em que cada um reproduz uma palavra diferente e, ao ser apertado pelo animal de estimação, passa a ideia de que o pet está se comunicando com o tutor.
O exemplo mais famoso, quando se pensa nesse nisso é a cadela Bunny, cadela de estimação da designer de joias Alexis Devine, que se inspirou ao ver pela internet alguns vídeos da fonoaudióloga Christina Hunger, que utilizava desses botões com palavras para ensinar uma nova forma de se comunicar para a cadela Stella.
Utilizando esses botões, os pets podem “dizer” quando querem comer, passear, brincar ou até mesmo transmitir emoções e sentimentos, como dizer “te amo”, para os tutores. Os cães podem decorar um determinado numero de palavras por meio de associações a objetos e ações, como um Border Collie chamado Rico reconhece mais de 200 objetos pelos nomes.
Não apenas os cachorros são capazes, mas os gatos também contam como tal habilidade, como o exemplo da gata Billi, que usa do mesmo método para se comunicar com a dona. Cães e gatos têm os próprios métodos para se comunicar quando precisam transmitir alguma mensagem, utilizando a linguagem corporal – ou mesmo latindo/miando mesmo, dependendo da ocasião. Ainda não há nenhum estudo que comprove que os animais de fato entendem as palavras que os seres humanos estão dizendo, apenas fazem associações de acordo com o que vem depois de determinado som e, conforme a repetição, eles aprendem o que aquilo quer dizer. Mas será que aprendem mesmo?
Como explica a médica veterinária Mayra Susenko, não se pode afirmar que os animais entendem o significado das palavras, mas eles conseguem facilmente relacionar determinada palavra – ou som – à uma ação, por meio da repetição.
“Se o tutor repetir ‘comida’ toda vez que alimentar o pet, ele vai associar a palavra ao pote de ração, se utilizar o ‘passear’ mostrando a guia e a coleira, ele vai associar ao ato de sair de casa. Mas se falar ‘praia’ na primeira vez que levar o pet ao mar, aquela palavra ainda não vai ter significado nenhum pra ele”, exemplifica.
A veterinária explica que é muito difícil que uma associação seja feita com sons desconhecidos do cotidiano do pet, estes podem aguçar a curiosidade natural do animal e ele pode ser influenciado a reagir de alguma forma, assim como acontece quando são usados tons de voz diferentes para falar com eles (mais bravo, nervoso, calmo ou divertido), assim como os gestos que fazemos.
“Mas isso [a reação do pet] não quer dizer que ele entendeu exatamente o que aquela palavra nova quer dizer”, afirma a veterinária.
Os tapetes são bons, mas devem ser usados corretamente
Mayra diz que os tapetes de comunicação são realmente interessantes e divertidos e podem sim ser indicados para os pets, mas como meio de brincadeira e diversão. “Normalmente os pets precisam ser treinados para usar o tapete de forma ‘adequada’, o que é muito mais fácil para um filhote do que um pet mais velho”.
Em resumo, um tutor não deve pensar que ao apresentar esse tipo de brinquedo ao pet ele irá automaticamente conversar com o animal de estimação, é preciso ter paciência e muita repetição, até que o pet associe cada palavra a um certo significado, lembrando que cada animal tem o próprio tempo de aprendizado e o tutor não deve se sentir frustrado quando o animal não corresponder mesmo após algum tempo de brincadeira.
“Os brinquedos interativos servem para estimular comportamentos naturais dos pets, como farejar, localizar e perseguir o alimento. Fazem parte do enriquecimento ambiental para o bem-estar do pet, estimulam o cérebro e o instinto e ajudam a reduzir o ócio, estresse, ansiedade e depressão”, ressalta.
Nos vários vídeos que temos pelas redes sociais, vemos que os animais não apenas apertam um botão com uma palavra que indique qual a intenção deles no momento, como chegam a formular pequenas frases relacionadas a vontade de passear ou a hora de comer, por exemplo.
Mas o que os pets realmente entendem são as palavras chave no meio de uma frase mais complexa. “Eles entendem ‘tem comida pronta’ ou ‘olha só essa comida gourmet quentinha feita especialmente para o pet mais incrível do mundo’ da mesma forma: como ‘comida!’, explica a veterinária.
Mayra ressalta que o conteúdo da frase quase não importa, lembrando que são as “palavra-chave” que serão captadas pelo animal e farão a diferença naquele contexto, valendo para todas as palavras que os animais possam conhecer (algo semelhante é como quando alguém fala palavras aleatórias em meio a uma conversa, para chamar a atenção dos pets, como “parque” ou veterinário”).
“Os cães, e também os gatos, associam palavras à gestos. Na maioria das vezes em que o tutor conversa com o pet, o tom de voz e o gestual do tutor diz muito mais para o pet do que as palavras em si, e gera as reações mais espontâneas do animal”, completa.
O mercado de olho
Esses tapetes podem ser feitos de forma totalmente artesanal, mas visando a tendencia de tutores que desejam ter uma relação cada vez mais próxima aos animais de estimação, empresas lançam produtos que tentam tornar essa possibilidade ainda mais viável, como o FluentPet.
O tapete é semelhante a um quebra-cabeças, que o tutor monta da forma que quiser e posiciona cada palavra da forma como achar melhor.
A própria Stella, cadela da fonoaudióloga Christina Hunger tem a própria linha de produtos. O som também é gravado pelo próprio tutor, fazendo com que o idioma não seja um empecilho para o aprendizado do animal.