O tratamento com células-tronco é popularmente conhecido por ajudar no tratamento de diversas enfermidades em seres humanos, o que pouco se sabe é que esse tratamento também pode ser feito com animais de estimação.
Células-tronco são células embrionárias que dão origem a todas as outras células do nosso organismo. Como explica o médico veterinário Raphael Clímaco, alguns órgãos em especial acabam armazenando essas células durante a fase adulta do ser vivo – animal ou ser humano.
“Foi descoberto que a utilização dessas células-tronco, inclusive na fase adulta, pode dar origem a reparação de tecidos que normalmente não seriam reparados, como um câncer, ou a falência de algum órgão”, explica o veterinário.
Raphael Clímaco explica que as células-tronco funcionam como uma “carta coringa” para o corpo, ajudando a dar origem a praticamente todas as células do organismo. “As células-tronco podem se diferenciar pra uma célula cerebral, para um tecido renal, ou mesmo um tecido ósseo. Então é realmente um ponto muito importante”, explica.
O tratamento pode ser aplicado em tratamentos de diversas patologias, como sequelas neurológicas em decorrência da cinomose, de aplasia de medula (quando a medula para de funcionar corretamente) e até mesmo coadjuvante ao tratamento de câncer.
A célula-tronco se adapta a um determinado tecido, como se fosse “atraída” para o local que está doente. “O protocolo, o tratamento e quantas aplicações serão feitas e a duração do tratamento dependem de diversos fatores, como o estágio da doença, a idade do animal e da raça. Considerando que algumas raças têm predisposição genética para determinadas doenças. Depende muito de cada indivíduo”, explica.
Células-tronco podem ser usadas em tratamentos como:
- Aplasia da medula óssea;
- Insuficiência renal crônica;
- Osteoartrite;
- Displasia Coxofemoral;
- Sequelas devido à Cinomose;
- Lesões na coluna vertebral;
- Ceratoconjuntivite seca.
Apesar de já estar em estudo há alguns anos, as células-tronco para o tratamento em animais só veio a ser aprovado no Brasil em 2020. A demora se deve à necessidade de estudos que comprovem a eficácia dessa técnica também na medicina-veterinária.
“Temos várias técnicas que são utilizadas em seres humanos que não são aprovadas em animais, por não terem o mesmo sucesso. A medicina-veterinária ingressou tarde nesses estudos, então foi liberada apenas recentemente para a utilização nos animais”, conta.
De onde as células-tronco podem ser retiradas
Em animais, como os cães, por exemplo, podem ser encontradas no tecido adiposo removido durante a castração. “A células-tronco podem ser retiradas de vários sítios de doação do organismo. Os principais são sítios de tecido adiposo e da medula óssea, que são locais ricos em células-tronco, nos adultos”, explica.
Para os filhotes de cães e gatos, as principais fontes estão na placenta e no cordão umbilical.
O tratamento deve ser encomendado, as células-tronco serão produzidas para cada paciente em específico, de acordo com a patologia que o animal tem. “As células-tronco para um animal que tem câncer serão diferentes das que receberá um animal com falência renal”, conta o veterinário.
Existem laboratórios que são especializados na confecção de células-tronco e que as comercializam. “Não é um tratamento barato e o preço varia dependendo da quantidade de aplicações que serão feitas e de qual é a origem das células-tronco”, alerta o veterinário.
Até parece milagre
Devido ao alto índice de cura, como animais com sérias lesões dadas como incuráveis e que, após o tratamento com células-tronco, voltam a andar esse tratamento adquire um ar como se fosse algo milagroso e com 100% de chances de cura.
Embora representem uma alta chance de cura para diversas patologias, Raphael explica que não é exatamente assim. “As células-tronco parecem milagrosas, mas não são. Elas são um adjuvante ao tratamento, mas não é garantia de cura”, afirma.
As células-tronco têm vários pontos positivos, mas também pode acontecer de serem rejeitadas pelo organismo. “Se administradas em um determinado organismo, ele pode reconhecer como sendo um agressor externo e ter essa reação, neste caso não teria efeito algum”, continua. “Se fosse dessa forma, já teríamos descoberto a cura de várias doenças, inclusive do câncer, da Aids, entre outras”, finaliza.