A superpopulação é um problema que atinge muitos animais de diversos lugares do mundo, cães e gatos em situação de rua que se reproduzem e aumentam drasticamente esse número anualmente. É de conhecimento popular que o meio mais eficaz para o controle de animais é a castração por meio da esterilização cirúrgica. Contudo, esse processo ainda é relativamente caro e complexo.
A cirurgia pode não ser indicada para alguns animais, por questões médicas, idade ou mesmo medo do tutor. Embora ainda seja um assunto pouco difundido, a castração química surge como uma alternativa para situações em que a cirurgia não possa ser executada – em alguns países, como a Romênia, por exemplo, a castração cirúrgica não é aceita culturalmente.
Outro fato a ser ressaltado é que, por ser uma forma muito mais barata que a esterilização cirúrgica, a castração química pode auxiliar muito em trabalhos de ONGs de proteção animal, que visam ajudar na diminuição da proliferação de animais abandonados.
Como funciona a castração química para animais domésticos no Brasil
Conforme explica a médica veterinária Anne Pierre Helzel, do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), no Brasil, o medicamento licenciado para a castração química é indicado apenas para cães machos, sendo o uso em gatos (machos ou fêmeas) não autorizado no país.
Aplicações hormonais
A regulação hormonal de fertilidade em animais se inicia com um hormônio sintetizado no cérebro chamado hormônio liberador de gonadotrofinas (GnHR). Este é responsável por controlar a liberação de gonadotrofinas e do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH).
O uso de progestágenos mimetiza a ação do hormônio progesterona que ocorre naturalmente durante a gestação das fêmeas de modo geral.
“Uma quantidade aumentada de progestágenos inibe a produção de outros hormônios responsáveis pelo desenvolvimento do folículo ovariano e consequentemente da ovulação e concepção, semelhante à sinalização apresentada por um feto à mãe a fim de inibir a ocorrência de estro durante a gestação ou lactante”, explica a veterinária.
Embora sejam mais conhecidos como um “hormônio feminino”, a progesterona também está presente em machos, mas em um nível bem menor. A progesterona contribui para a formação de esperma, processo chamado de espermiogênese.
A castração química não tira o apetite sexual do animal, apenas o deixará incapaz de se reproduzir.
Aplicação de Imunocontraceptivo
Alguns anticorpos desempenham um papel importante para a reprodução, antígenos que causam a liberação desses anticorpos podem ser usados para causar a infertilidade em cachorros.
“São utilizados antígenos que compõem hormônios e outras estruturas ligadas à concepção para a formulação de vacinas que sensibilizam o sistema imune a estes fatores responsáveis pelo andamento do ciclo reprodutivo dos animais”, explica a veterinária.
São mais comuns o uso desse "hormônio do crescimento", a parte externa do óvulo, conhecido como zona pelúcida.
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Esterilização inorgânico
- Gluconato de zinco neutralizado com arginina.
- Cloreto de cálcio.
- Cloreto de sódio hipertônico.
Segundo Anne Pierre, “a ideia para este método surgiu como alternativa à castração cirúrgica frente ao conhecimento de que testículos são segregados imunologicamente do restante do sistema de defesa dos animais e não são reconhecidos como pertencentes ao corpo”.
O uso dessas substâncias químicas provocam a quebra da barreira imunológica e permitem que o sistema imune induza um processo inflamatório contra as células produtoras de espermatozoides do indivíduo provocou a testagem de vários princípios ativos e combinações.
Em particular, o gluconato de zinco causa a degeneração dos túbulos seminíferos e atrofia do testículo, a aplicação é feita por meio de uma injeção intratesticular no centro do testículo. Consequentemente, a capacidade reprodutiva reduz paulatinamente até sua cessão completa, caso a aplicação tenha sido realizada conforme esperado.
No Brasil, a bula do medicamento indica a esterilização química acima de dois meses de idade, porém em outros países há a indicação de preferência de uso apenas em filhotes, momento em que os testículos estão menos desenvolvidos.
A veterinária adverte que príncipios ativos como cloreto de cálcio e cloreto de sódio hipertônico, que também são apontados como alternativas, não possuem aprovação pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) ou pelo CRMV-SP para o uso, ou mesmo qualquer registro no órgão responsável.
Quando a castração não cirúrgica é indicada
Assim como a esterilização cirúrgica, a castração química causa a perda da capacidade reprodutiva de forma irreversível, porém com maior velocidade de execução e de recuperação do animal, além de ter um custo reduzido. Apesar disso, também existem desvantagens, conforme alerta a veterinária. Caso não seja aplicado corretamente, como em casos de inaptidão do profissional responsável por fazê-la, esta pode provocar o acometimento de tecidos vizinhos.
Outro ponto que gera preocupação é a analgesia necessária ao controle da dor resultante do processo degenerativo. “Usualmente é utilizado um protocolo preventivo e um segundo a ser aplicado durante o período de degeneração testicular”, explica.
Deve-se considerar também a possível necessidade de mais de uma aplicação da medicação para que a capacidade reprodutiva seja reduzida, segundo o protocolo de uso escolhido pelo médico veterinário, tendo em vista o tamanho e idade do animal.
“Reforço ainda que o cálculo da dose deve ser realizado de forma individualizada, sob pena de prejudicar estruturas e tecidos vizinhos, em caso de superdosagem, ou não causar o efeito contraceptivo esperado”, completa a especialista.