
Muitos tutores se preocupam apenas quando seus animais de estimação apresentam sintomas mais evidentes de doença. No entanto, alterações comportamentais discretas, como cansaço excessivo, recusa alimentar e distensão abdominal, podem ser os primeiros sinais de um distúrbio hepático em desenvolvimento.
Segundo a veterinária Elídia Zotelli, do AmarVet’s Hospital Veterinário, ao Canal do Pet, as doenças hepáticas em cães e gatos frequentemente evoluem de forma silenciosa e podem se agravar rapidamente sem o tratamento adequado.
“Sintomas como icterícia e alterações neurológicas geralmente surgem em estágios mais avançados da doença. Por isso, é essencial observar qualquer mudança no comportamento ou na rotina do pet” , explica a especialista.
Entre os sinais clínicos mais comuns estão apatia, emagrecimento, vômitos, diarreia, coloração amarelada nas mucosas, acúmulo de líquido abdominal (ascite), aumento da ingestão de água e da urina, além de episódios de desorientação ou convulsões.
A origem dos problemas no fígado pode ser variada: desde infecções como leptospirose e toxoplasmose, até o uso inadvertido de medicamentos tóxicos ao fígado, como o paracetamol. Fatores genéticos, doenças inflamatórias crônicas e intoxicações por plantas também entram na lista de causas.
A idade do animal é determinante na incidência de determinadas enfermidades hepáticas. Filhotes, por exemplo, são mais suscetíveis a alterações congênitas como o shunt portossistêmico. Já em animais adultos, destacam-se casos de hepatites e intoxicações, enquanto em idosos, surgem com mais frequência doenças degenerativas e tumores hepáticos.
Além da idade, algumas raças apresentam predisposição genética. Terriers como Bedlington e West Highland White , além de Dobermans e Labradores , são mais propensos ao acúmulo de cobre no fígado. Raças como Yorkshire , Maltês e Pug têm maior incidência de anomalias congênitas hepáticas. Já o Cocker Spaniel e o Doberman apresentam maior risco para hepatite crônica de causa desconhecida. Nos felinos, por outro lado, ainda não há dados conclusivos sobre raças com predisposição hepática.
Prevenção
Prevenir é possível e começa com ações simples no dia a dia, como manter a vacinação em dia, evitar o acesso a substâncias tóxicas, oferecer alimentação balanceada e manter o peso sob controle. O controle de verminoses e parasitas também é fundamental para evitar danos ao fígado.
O diagnóstico precoce é decisivo e envolve exames laboratoriais e de imagem. Em casos mais complexos, a biópsia hepática pode ser necessária. “Um bom protocolo diagnóstico inclui hemograma, testes de coagulação, pesquisa de agentes infecciosos e, se necessário, ultrassonografia ou tomografia” , explica Zotelli.
Tratamento
O tratamento depende da origem do problema. Pode envolver desde suporte nutricional com dietas especiais e uso de hepatoprotetores, até intervenções mais complexas, como cirurgias em casos de obstrução biliar ou anomalias congênitas. Quando a doença não é tratada a tempo, complicações graves como encefalopatia hepática, distúrbios de coagulação e falência hepática podem surgir — algumas, infelizmente, irreversíveis.
Após a recuperação, o acompanhamento continua sendo essencial. Dieta específica, uso contínuo de protetores hepáticos e exames periódicos são frequentemente necessários para garantir o bem-estar do pet. “Evitar medicamentos potencialmente tóxicos e cuidar para que o animal não passe por jejuns prolongados, especialmente os gatos, são medidas que protegem o fígado a longo prazo” , orienta a veterinária.
Zotelli reforça a importância dos exames de rotina. “Eles permitem detectar alterações ainda antes dos sintomas aparecerem. Isso aumenta muito as chances de um tratamento eficaz e garante mais qualidade e tempo de vida ao animal” , finaliza.