Apesar de chocante, movimento é um reflexo comum dos cães
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Apesar de chocante, movimento é um reflexo comum dos cães

Com a tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, imagens de resgates de animais chocaram pessoas em todo o Brasil. Animais que passaram dias lutando para sobreviver, até que finalmente fossem encontrados e resgatados.

Entre as imagens que chamaram a atenção estão as de cachorros que, após retirados das águas, ainda no colo de seus salvadores, continuavam um movimento repetidamente, como se estivessem nadando - algo que, para muitos deles, fez toda a diferença para sobreviver durante as enchentes.

O movimento de nadar é instintivo dos cães que, geralmente, já nascem “sabendo nadar” - lembrando que nem todos os indivíduos têm essas habilidades.

O adestrador comportamental André L. Almeida explica que os movimentos repetitivos podem acontecer devido ao trauma causado pela situação e, além disso, a movimentação contínua pode ajudar com que se mantenham aquecidos em casos de hipotermia, causada pela baixa temperatura.

“O estresse causado é muito grande, então a movimentação ajuda a cabeça desse cão a manter um ‘comportamento de protesto’. Ao ser colocado no chão, esse movimento para”, diz André.

Contudo, o adestrador destaca que para entender se esse movimento apresentado faz mesmo parte de uma sequela causada pelo trauma, é preciso mantê-los sob observação por alguns dias, para assim ter um diagnóstico preciso de um especialista.

É comum que cachorros “nadem no ar” após um banho, um passeio de barco ou, até mesmo, ao ouvirem o som de uma torneira aberta. Ainda assim, não se deve abdicar dos cuidados com a saúde mental dos animais de estimação.




Veja alguns exemplos de cães em diferentes situações:


A importância de cuidar da saúde mental dos animais

Assim como os seres humanos, os animais também sofrem com questões psicológicas, como ansiedade e depressão. Passar por um trauma muito forte, como o abandono ou a privação de alimento - como ficar por dias em cima de um telhado, sem água, comida ou abrigo contra o vento e a chuva.

Por isso, além de cuidar da saúde física de animais resgatados, é fundamental dar atenção à saúde mental, sejam cães, gatos, cavalos, entre outros.

“Com o avanço dos estudos em saúde mental, temos cada vez mais evidências da relação íntima entre os problemas emocionais e problemas físicos de saúde”, explica a veterinária comportamental, Marina Meireles.

“Por exemplo, um animal que passe por picos de estresse constantes pode desenvolver alterações gastrointestinais, levando a disbiose e inflamações crônicas”, continua.

“Da mesma forma, um pet com dor articular crônica, por exemplo, pode se mostrar agressivo e sensível à manipulação, e muitas vezes essas alterações comportamentais serão a única manifestação clínica.”

Isso pode explicar porque muitos dos cães acabam demonstrando uma reação agressiva ao serem resgatados, além do medo, podem sentir dores ao serem manipulados.

“Além disso, os animais têm alcançado um lugar cada vez mais próximo das famílias, criando vínculos muito fortes com seus tutores. Essa mudança de percepção [sobre a saúde mental dos pets] trouxe uma maior preocupação não apenas com a saúde física, mas também com as emoções e qualidade de vida desses novos membros da família”, ela acrescenta.

Retirar um animal de uma situação de risco e levá-lo a um abrigo resolve apenas parte do problema. “Não basta apenas garantir que o pet tenha um teto, água e comida, mas também que ele tenha suas necessidades mentais e emocionais atendidas”, destaca a comportamentalista.

Dicas para cuidar da saúde mental do seu pet

Os tutores têm papel fundamental na saúde mental dos animais de estimação
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Os tutores têm papel fundamental na saúde mental dos animais de estimação

Marina afirma que é preciso conhecer as características e necessidades da espécie, raça e do indivíduo, entender como se comunica e como interpretar seu comportamento. “Tudo isso é de suma importância para criar um convívio saudável”, diz.

“Existe muita informação conflitante sobre como criar um pet, e muitas vezes os tutores podem ficar confusos ou frustrados por não saberem como agir da melhor forma em determinadas situações. Por isso, é importante que busquem informações baseadas na ciência, e vindas de profissionais qualificados”, alerta a veterinária.

Como identificar sinais de depressão e ansiedade nos animais?

“A ansiedade diz respeito à antecipação de um medo, ou seja, o pet demonstra sinais de medo sem a presença de um gatilho específico”, explica Mariana.

“É como se ele estivesse preocupado de que algo ruim vá acontecer com ele, mesmo que não haja nenhuma ameaça naquele contexto. Um pet ansioso, similar ao que ocorre nos humanos, apresentará postura corporal tensa, rigidez muscular, hipervigilância, salivação excessiva, taquicardia, respiração ofegante, entre outros sinais”, acrescenta.

Já a depressão é um quadro muito menos comum nos animais de companhia do que nos humanos. “Suas principais características incluem apatia, desmotivação, perda de apetite e prostração. O pet deixa de se interessar por brinquedos, petiscos, passeios e coisas que normalmente o deixariam excitado”, comenta Mariana.

O que o tutor pode fazer para oferecer uma melhor qualidade de vida ao pet?

Mariana ressalta que é de extrema importância que o tutor compreenda quais comportamentos são naturais da espécie de seu animal de estimação, como um cão, gato, entre outros.

“Quais são os sinais que essa espécie usa para se comunicar, e quais as melhores formas de se ensinar aquele pet a se comportar – sem utilizar aversivos, ou seja, sem causar medo, dor ou desconforto. Dessa forma, a comunicação entre o tutor e o pet ficará muito mais clara e eficiente”, avisa a especialista.

Além disso, reforça a veterinária, é importante que o pet tenha acesso a formas de expressar seus comportamentos naturais, como oferecer um brinquedo,  por exemplo. “Isso eleva seu nível de bem-estar, promove relaxamento e diminui o estresse.”

“O ambiente deve ser enriquecido e repleto de estímulos e desafios condizentes com a espécie, de modo a se tornar interessante e dinâmico”, completa.

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