Oferecer um lar temporário pode fazer toda a diferença na vida de um animal resgatado
Edgar Daniel Hernández Cervantes/Pexels
Oferecer um lar temporário pode fazer toda a diferença na vida de um animal resgatado

ONGs, protetores independentes e ativistas da causa animal realizam um trabalho importante na proteção dos direitos e resgate de animais abandonados, muitas vezes com abrigos que cuidam de dezenas, centenas ou, às vezes, até milhares de animais que foram resgatados de abandono e maus-tratos.

Com abrigos superlotados, com muitos animais que, por diversas razões, nunca serão adotados para lares definitivos, os lares temporários são fundamentais para casos mais específicos, como cães e gatos que precisam de cuidados especiais com a saúde, e de uma melhor socialização com humanos e a vida em um lar, para que se adaptem da melhor forma, aumentando as chances de quem encontrem um lar definitivo.

Como o nome diz, o lar temporário é como uma adoção não definitiva, quando uma pessoa se torna o tutor responsável por um pet, até que ele encontre sua família definitiva.

Muitas pessoas são especializadas nessa função, e se voluntariam para que possam manter esses pets pelo tempo necessário, cuidando de todas as suas necessidades.

Segundo a Ampara Animal, estima-se que hoje existam mais de 30 milhões de cães e gatos abandonados e vítimas de maus-tratos no Brasil. Com a superlotação, se torna impossível realizar um cuidado individualizado para esses animais que precisam de uma atenção especial, por isso a importância de lares temporários.

“O acolhimento de animais vítimas de abandono e/ou maus-tratos ou o acolhimento de filhotes sem suas mães, ajuda muito na recuperação, socialização e educação destes animais, pois oferece um cuidado individualizado, aumentando as chances de serem adotados e preparando-os melhor para a adaptação no seu lar definitivo”, de acordo com Rosangela Gebara, veterinária e gerente de projetos da  Ampara Animal.

A importância de um lar temporário para um pet em busca de adoção

Gatos em lares temporários
Iam/Pexels
Gatos em lares temporários

“Usamos o lar temporário para abrigar com conforto e segurança alguns casos que precisam de atenção especial”, diz Amanda Lopes, voluntária da ONG  Paraíso dos Focinhos , ao Canal do Pet .

“Sejam eles filhotes que ainda não tomaram todas as vacinas, ou animais com baixa imunidade e para evitar que fiquem em ambientes com risco de contaminação, por exemplo. Também animais em condições especiais e diferenciadas, como cães paraplégicos, pets gestantes, idosos, entre outros.”

Aline Sebanica , voluntária do GDC ( Gatinhos do Cemitério ), que trabalha com resgate de gatos de colônia e oferece lar temporário para filhotes que precisam de cuidados especiais, defende que o lar temporário é muito importante.

“Às vezes esse animal acaba chegando em uma situação complicada, tanto por ser vítima de maus-tratos, como pela ferocidade do animal por não ter tido contato algum com humanos, e o lar temporário faz com que este animal esteja apto a ser adotado.”

O que é necessário para se tornar um tutor temporário?

Amanda afirma que a pessoa precisa, além de gostar de animais, ter ou já ter tido um animal de estimação, para que saiba como cuidar desse pet necessitado. “É imprescindível que seja alguém responsável e maior de 18 anos, com condições de cuidar do animal e de suas necessidades.”

Para Aline, o principal é ter responsabilidade, e ter consciência de que o animal não é descartável, “e, também, é preciso ter muito amor para que ele possa chegar até um lar definitivo em plenas condições e, também, ter condição financeira, pois sabemos que, além de uma ração de qualidade, muitos exigem cuidados veterinários e isso tem um custo.”

Há diferença entre um lar temporário e um lar definitivo?

“Não, os cuidados são os mesmos, independentemente de serem animais de estimação [definitivos] ou temporários”, diz Amanda.

Aline complemente: “Não há diferença, mas, dependendo do animal, ele pode vir a casa do tutor com algum tipo de doença, por isso é sempre indicado que este animal passe por um veterinário antes.”

Há um tempo limite para esse “temporário”?

Ao oferecer um lar temporário, a relação pet e tutor pode florescer e o lar se tornar definitivo
Reprodução
Ao oferecer um lar temporário, a relação pet e tutor pode florescer e o lar se tornar definitivo

Ao se tornar um adotante temporário, o voluntário deve saber que ele será o responsável por esse pet até que ele finalmente seja adotado por uma nova família, ou esteja totalmente recuperado e possa retornar aos cuidados de um abrigo (que esteja em condições de recebê-lo).

“Vai variar de caso a caso e de acordo com as necessidades do animal ou possibilidade do lar temporário”, explica Amanda, porta-voz da Paraíso dos Focinhos.

Outro ponto, lembra Aline, é que, quanto maior o tempo, mais difícil será para que o pet se adapte ao novo lar. “Além de o animal crescer e ficar mais difícil a adoção, também corre o risco de ele acabar não se adaptando a esse novo lar”, diz Aline ao Canal do Pet .

Pode acontecer de o animal se sentir “abandonado” ao se mudar de uma casa onde já estava habituado para o novo lar?: “Acredito que sim, alguns animais se acostumam ao lar onde são acolhidos, e muitas vezes não aceitam mudar de lá”, diz Aline.

Amanda complementa que é muito importante que a transição seja bem realizada,  pois “é preciso tomar todos os cuidados para uma boa adaptação para que esse sentimento de abandono não aconteça.”

Aline, no entanto, conta que já passou por essa situação e uma gata que resgatou filhote acabou se tornando sua pet em definitivo.

“Acolhi uma gata jovem alguns anos atrás, ela estava vivendo em um bueiro e chegou em minha casa muito feroz. Porém, com muito amor e paciência, essa gata foi amansada e doada [em um primeiro momento”, conta a voluntária da GDC.

Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline
Gatos filhotes resgatados que ficaram em lar temporário com Aline

“A adotante entrou em contato comigo dizendo que desde que a gata chegou na casa dela [por uma semana], não saiu de trás do armário nem para comer, nem para fazer as necessidades e que provavelmente não queria ficar lá. Ao consultar uma veterinária, ela me disse que a gata provavelmente tinha se apegado demais a mim e não conseguiria viver em um novo lar. Com essas informações, e com a liberação da adotante, eu fui buscá-la e quando a gata chegou em casa, mudou completamente, foi correndo comer, fez as necessidades, parecia que estava grata por ter voltado ao lar, que se tornou definitivo. Não tive mais coragem de colocá-la para adoção e está até hoje comigo.”

O contrário também pode ocorrer

Cuidar de um animal de estimação é uma entrega mútua e, assim como um cachorro ou um gato podem se apegar ao humano que os resgatou, o humano irá “se apegar” a esse animalzinho.

“Isso é muito comum de acontecer”, conta Amanda. “Temos muitos exemplos, um deles é o nosso veterinário Marcelo Dantas, que deu lar temporário para dois filhotes e acabou se apegando tanto que adotou eles.”

Aline menciona outra situação que viveu recentemente, em que “sofreu” para entregar um filhote ao seu novo tutor: “Parece engraçado, mas este fato ocorreu ontem [13/12/2023]. Há um mês eu recolhi um filhote recém-nascido do cemitério, ele estava sozinho e miava muito, parece que queria ser encontrado.”

Animais resgatados podem se recuperar e serem adaptados a convivência com humanos
Kelly/Pexels
Animais resgatados podem se recuperar e serem adaptados a convivência com humanos

Ela continua: “Como ele não se alimentava, tinha que ser feito mamadeira e um leite especial algumas vezes durante o dia, pedi um tempo ao adotante até que ele começasse a comer sozinho e acabei me apegando muito a ele. Acredito que pelo fato de ele ter chegado muito novinho e requerer mais atenção.”

O lar temporário também é uma boa alternativa para quem deseja ajudar animais abandonados e ainda não está disposto a adotar um pet definitivamente. Com a experiência de conviver com um animalzinho, o próprio tutor temporário pode se tornar a família definitiva para um animal necessitado.

“Os lares temporários são fundamentais para gatos que não sobreviveriam ao parque [colônia]. Infelizmente, há muitas emergências continuamente. Todos os nossos lares temporários estão cheios, e precisamos de pessoas dispostas a cederem um mínimo espaço em suas casas para abrigar algum gatinho que necessite. Caso não seja possível oferecer abrigo, também é possível ajudar se tornando um doador, inclusive ajudando a cobrir as despesas de um lar temporário”, afirma um porta-voz da ONG Fla.Gato.

Muitas ONGs e abrigos também oferecem a opção de apadrinhamento, em que um doador ajuda a cobrir as despesas de um animal, com alimentação e cuidados médicos, podendo visitar o animal e, até mesmo, levá-lo para passeios.

Razões para oferecer um lar temporário

No blog da Ampara Animal , a veterinária Rosangela Gebara listou quatro motivos para se tornar um tutor temporário para um animal necessitado.

  1. Os Lares Temporários (LTs) salvam muitas vidas, pois aumentam a chance dos animais de serem adotados. Nos LTs os animais recebem cuidados individuais, que levam em consideração as características individuais de cada animal em um ambiente caseiro, socializando-o com outras pessoas e animais diferentes e tudo isso ajuda-os a se adaptarem a novas experiências, melhorando as chances de adaptação na família definitiva e diminuindo as chances de devolução;
  2. O acolhimento em LTs ajuda os animais que estão altamente estressados em um abrigo, principalmente os chamados “filhos únicos” (que não gostam da companhia de outros animais), os cães e gatos mais velhos, os filhotes muitos jovens e os animais que sofreram crueldade, a se recuperarem e socializarem;
  3. Os LTs liberam espaços em abrigos que já lidam com a superlotação, falta de recursos econômicos e humanos e falta de espaço para acolher todos os animais que precisam de um local para viver até terem sua adoção definitiva;
  4. Os LTs formam uma importante oportunidade de envolvimento da comunidade nos programas de manejo de populações de cães e gatos.

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