A cinofobia faz o problema com o cão parecer muito maior do que realmente é, mas tem tratamento
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A cinofobia faz o problema com o cão parecer muito maior do que realmente é, mas tem tratamento

Os cachorros são vistos como grandes parceiros de vida e até mesmo como filhos por grande parte da sociedade, o que torna até difícil se pensar que alguém sequer não goste de ter um animal por perto. No entanto, algumas pessoas passam por algum trauma envolvendo um canino, seja direta ou indiretamente e, com isso, desenvolve um forte medo relacionado ao animal.

Esse medo não necessariamente quer dizer que o individuo não goste de cachorros, mas o trauma faz com que ela sinta verdadeiro pânico quando se depara com um cão, por mais inofensivo que este seja. Esse pânico descontrolado é conhecido como cinofobia.

Ao contrário do medo comum, que é um meio natural de defesa de todos os seres vivos que ajuda a nos proteger de situações potencialmente perigosas, como explica a psicóloga Caroline Cruz: “O medo comum acaba sendo uma proteção sobre os perigos reais que nós podemos enfrentar ao longo da vida. Dessa forma, ele age como uma espécie de proteção contra algum risco real que a pessoa possa correr, seja em situações sociais, como por exemplo, andar em uma rua escura na madrugada e ter medo de ser assaltada”.

Essas, como outras questões sociais, infelizmente acontecem por existirem diversos lugares mais perigosos em nossa sociedade. Por isso, é perfeitamente normal que alguém sinta medo de andar na rua nessa situação. “Outro exemplo, a pessoa estar em uma trilha e ter medo de ser picada por uma cobra é um medo real, pois realmente podem existir animais peçonhentos no local. Em ambos os casos o medo acaba sendo adequado àquela situação, sendo compreensível”, explica.

Já a fobia se trata de um medo incontrolável e intenso, chegando a ser algo até mesmo irracional, em que a pessoa sente um medo patológico de situações absolutamente comuns, como de objetos e animais que não oferecem ao indivíduo nenhum perigo real e proporcional ao medo que sente. “É algo absurdamente grande, irracional, que não está ligado à realidade do que aquele risco, aquela situação, aquele animal, possa realmente oferecer a pessoa”, diz Caroline.

Pacientes com cinofobia

Ver um cachorro caminhando pela rua pode desencadear uma crise em um paciente com cinofobia
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Ver um cachorro caminhando pela rua pode desencadear uma crise em um paciente com cinofobia

A psicóloga explica que pacientes com cinofobia não são tão comuns, em comparação com casos de ofidiofobia – que é o medo irracional de cobras – e aracnofobia – o medo extremo de aranhas e outros aracnídeos, incluindo os escorpiões - pelo fato de que esses animais estão culturalmente marcados como parte da família e como os melhores amigos do homem.

“Sempre vemos comerciais com cachorros brincando em família, em momentos felizes e querendo ou não as patologias também acabam estando imersas em nossa cultura, então o cachorro em si é visto socialmente como um parceiro de jornada”, conta.

Contudo,  algumas situações podem fazer com que a pessoa desenvolva esse medo incontrolável por cães, mesmo que não seja algo diretamente relacionado ao animal. Uma situação, a mais comum, é quando a pessoa foi atacada por um cão, que a tenha despertado esse medo que a deixou aterrorizada ou mesmo ferida. “A partir desse fato ela passa a ter esse medo irracional de cachorros, até mesmo com animais de pequeno porte, amorosos, que não apresentam risco de um novo ataque”, diz a profissional.

Pode haver também situações traumáticas que a pessoa tenha vivenciado e que a cause muita angustia, mesmo que sem o envolvimento de um cachorro em si, como um ataque, um abuso, um acidente e que no local em que o evento traumático ocorreu existe um cachorro e que a vítima tenha observado.

“O psiquismo do indivíduo, por meio de um mecanismo de defesa, acaba deslocando todos esses sentimentos aflitivos para o animal e a partir desse fato, toda vez que a pessoa vê um cachorro ela passa a reviver o episódio, mas ela não consegue saber disso, ela só entenderá essa origem da fobia durante o processo terapêutico, onde será desvendado as questões inconscientes dela”, explica a psicóloga.

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Embora seja mais comum estar relacionado a algum trauma de infância, esse também pode ser desenvolvido na fase adulta, pois situações traumáticas podem ocorrer em qualquer fase da vida. “Não é só na infância, mas o indivíduo pode vivenciar alguma situação quando criança e levar esse medo para o resto da vida”.

Os sintomas da cinofobia são variados, ao ver um cachorro a pessoa pode começar a chorar, gritar, ter falta de ar, pode apresentar agitação, náuseas, tremedeira, sudorese, taquicardia, ficar paralisada ou até mesmo sair correndo para fugir do animal.

Medo contagioso

É possível que a pessoa tenha medo de cachorros sem ao menos saber a causa disso
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É possível que a pessoa tenha medo de cachorros sem ao menos saber a causa disso

Uma criança não necessariamente irá desenvolver uma fobia por conviver com um adulto que a tenha, contudo, de acordo com a psicóloga, é possível que a criança presencie um ataque indireto à mãe ou ao pai e fique receosa com cães. “Pode ser também que a criança seja educada a ter medo, com os pais dizendo ‘não brinque com o cachorro, cuidado é perigoso’. Mas, a partir do momento que ela tiver alguma convivência com um animal amoroso, que brinca com ela, ela pode ir quebrando esse receio inicial”.

Existem casos de crianças mais inseguras, por terem pais superprotetores que não a permitem qualquer interação que eles considerem não segura. “Então, a criança vai ficando mais insegura. Não que necessariamente ela irá desenvolver a cinofobia, mas ela pode vir a desenvolver a patologia ou até mesmo outros medos por conta dessa insegurança”, ressalta.

Inconsciência do medo inconsciente

É possível que a pessoa não saiba o que causou a cinofobia e não entenda o motivo de ter todo esse medo, já que nunca foi atacada por um cachorro, por exemplo, mas tenha passado por alguma situação inconsciente que foi deslocada para o animal.

Contudo, não é possível que alguém sofra de cinofobia sem saber, já que o gatilho para esse pânico é a presença de um cachorro. A pessoa, no entanto, não saberá o que causa todo esse medo que sente do animal.

Prevenção e tratamento

A psicóloga explica que a prevenção é possível apenas em casos de crianças superprotegidas, em que se pode utilizar algumas terapias com cães, e a criança vai sendo exposta de forma progressiva a interações positivas com o animal para que esse medo não se transforme na cinofobia.

Já o tratamento, para ambas as situações traumáticas (direta e indiretamente) que podem gerar a cinofobia o tratamento é a psicoterapia. “O psicólogo especializado entende das questões traumáticas que a pessoa vivenciou, as questões inconscientes, ele sabe que às vezes a situação não foi com um cachorro, que houve um deslocamento” explica. “A pessoa vai falando por meio da técnica de associação livre e assim o psicólogo vai conseguir auxiliar essa pessoa a elaborar a situação traumática que ocorreu o deslocamento para os cães”, conta a especialista. “Então há todo um trabalho de aprofundamento dessa situação traumática e de elaborado para que esse medo irracional de cães desapareça”.

No caso da pessoa que foi atacada por um cão, o profissional auxilia para que a pessoa consiga elaborar e lidar com a situação traumática e se fortaleça em relação às questões vivenciadas. Com esse fortalecimento pessoal, ela vai enfrentar os medos, elaborar as dores, os traumas e deixará de ter esse medo irracional de cães.

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