Além da dengue, o Aedes aegypti também transmite outras doenças, como zika, chikungunya e dirofilariose
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Além da dengue, o Aedes aegypti também transmite outras doenças, como zika, chikungunya e dirofilariose

A epidemia de dengue atingiu um patamar preocupante em vários estados do país, como no Rio de Janeiro , em que, segundo o governo estadual, o número de casos supera 80 mil. Até a última sexta (1º), 14 pessoas já haviam morrido devido a doença no estado. Com o cenário, pode surgir uma preocupação para os tutores de pets: os animais de estimação podem contrair dengue, assim como os humanos?

Harald Fernando Vicente de Brito,  médico-veterinário professor da pós-graduação em Medicina Veterinária na faculdade Qualittas, indica que não, mas faz um alerta importante.



“O que precisamos entender é que não existe evidência científica de que cães e gatos peguem dengue, mas isso não quer dizer que o Aedes aegypti [mosquito da dengue] não possa transmitir doenças para  cães e gatos ”, explica.

O especialista não descarta a possibilidade do vírus sofrer mutações com o tempo, o que pode mudar o cenário atual de não transmissão da dengue a animais: “Além disso, não quer dizer que o vírus não possa sofrer mutação e vir a causar doenças em pets domésticos num futuro próximo.”

Harald também explica que, além de dengue, zika e chikungunya, o mosquito Aedes aegypti pode transmitir uma doença chamada dirofilariose, mais popularmente chamada de “verme do coração”.

A doença, ao contrário das primeiras três, pode sim ser transmitida para cães e gatos, e até mesmo levar ao óbito do animal caso não seja tratada da forma correta.

O que é, como tratar e como se prevenir da dirofilariose?

Repelentes próprios para pets são os mais indicados para protegê-los de picadas de mosquitos
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Repelentes próprios para pets são os mais indicados para protegê-los de picadas de mosquitos

A dirofilariose, explica Harald, é um verme que tem ciclo de vida parcial dentro de um mosquito, que pode ser o Aedes aegypti. O mosquito transmite uma forma larval do verme para os animais, que evolui e se aloja geralmente na artéria pulmonar e no coração do pet. 

Os sintomas mais comuns do alojamento do verme no coração e nos pulmões são a hipertensão pulmonar, distúrbios hematológicos e insuficiência cardíaca.

O médico-veterinário alerta para o caráter silencioso da doença “com os sinais clínicos aparecendo somente quando já existem muitos vermes adultos nos pulmões e/ou no coração do animal.”

O tratamento, aponta Harald, depende da fase da doença. Há tanto um tratamento larvicida, para exterminar as larvas, quanto um adulticida, para matar os vermes adultos. Matar os vermes adultos, porém, é mais difícil e oferece riscos.

“O medicamento mais indicado para o tratamento adulticida infelizmente não é comercializado no Brasil. Além disso, o tratamento adulticida oferece risco à vida do paciente, devido à morte dos vermes dentro dos vasos sanguíneos.”

Felizmente, há várias formas de se prevenir da doença. Paloma Caleiro, médica-veterinária da equipe do Pronto-Socorro do Veros Hospital Veterinário, em São Paulo, explica que a melhor forma é o uso de repelentes.

Coleiras com repelentes também podem afastar os mosquitos e manter seu pet protegido
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Coleiras com repelentes também podem afastar os mosquitos e manter seu pet protegido


Eles podem ser usados por meio de coleiras repelentes, sprays, pipetas e odorizadores de ambiente, principalmente quando os animais vão estar em locais com alta probabilidade de contato com os mosquitos 

Segundo Paloma, as coleiras e pipetas são de farmácia veterinária e podem ser adquiridas com orientação do médico-veterinário. As coleiras podem ter uma vida útil de dois a quatro meses, e as pipetas devem ser reforçadas a aplicação tópica (aplicação diretamente na pele) a cada 30 dias.

“O uso de odorizadores e repelentes de ambiente devem sempre respeitar as indicações de uso e proteção para animais e crianças visando evitar intoxicações”, alerta.

Também é necessário tomar cuidado com repelentes comuns e de uso humano, que podem intoxicar o animal quando utilizados para afastar os mosquitos. Paloma reforça que é necessário parcimônia no seu uso, com cães e gatos por perto.

“O uso em ambiente de odorizadores e repelentes de ambiente devem sempre respeitar as indicações de uso e proteção para animais e crianças visando evitar intoxicações”, explica.

É importante ressaltar que a doença tem incidência maior no litoral do país, por conta da alta incidência de mosquitos da região, que preferem áreas úmidas e mais quentes. Então, em caso de viagem para a praia, por exemplo, deve-se redobrar a atenção nos pets.

A história de Connor

Connor é um border collie; ele foi diagnosticado com a doença no ano passado
Arquivo pessoal
Connor é um border collie; ele foi diagnosticado com a doença no ano passado


Connor, um  border collie que faz parte do Grupo de Operações de Socorro Tático da Unidade de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros do Paraná , contraiu dirofilariose em março do ano passado, em uma viagem para o litoral do estado.

médica-veterinária  cardiopneumologista de Connor, Sofia Wistuba Melo da Cunha, que trabalha no hospital Animal Clinic em Curitiba , explica que para o cão o tratamento teve de ser realizado de forma diferente, já que características genéticas da raça border collie o impedem de seguir o tratamento padrão para a doença.

“Atualmente utilizamos um protocolo multimodal que inclui o uso de antibiótico combinado com fármacos destinados à prevenção da dirofilariose e que pertencem à classe das lactonas macrocíclicas [ivermectina, milbemicina oxima, moxidectina, e selamectina]”, explica Sofia.

A especialista continua: “alguns cães da raça Collie e de outras raças deficientes em glicoproteínas são sensíveis a uma variedade de medicamentos comumente usados na medicina veterinária utilizadas no tratamento da dirofilariose. Então, para o Connor optamos pelo uso de uma lactona mais segura e em dosagem diferenciada para maior segurança durante o tratamento”, conta.

Connor é socorrista do corpo de bombeiros, e trabalha na busca por pessoas desaparecidas
Arquivo pessoal
Connor é socorrista do corpo de bombeiros, e trabalha na busca por pessoas desaparecidas


Connor foi diagnosticado na fase inicial da doença. O tratamento com medicações combinadas acontece também nesses casos e pode durar de 6 a 18 meses, a depender da gravidade do caso.

Rodrigo Espírito Santo, bombeiro que trabalha junto a Connor, conta que após um ano de tratamento, o animal finalmente leva uma vida mais saudável, mas sem deixar de ir ao veterinário.

“Agora, a princípio, ele está bem, está saudável, está correndo, está treinando, está trabalhando, e agora a gente tem que repetir o exame, né?” A gente fez o tratamento dele conforme manda a literatura e a princípio ele está 'zero bala'”, diz.

Para trabalhar nos Bombeiros, Connor foi treinado para encontrar pessoas desaparecidas em desastres e operações de busca. Hoje, ele trabalha sem guia e procura sozinho por pistas. Rodrigo afirma que é fã da companhia do border collie em sua rotina de trabalho.

“Antes de entrar nos Bombeiros, [trabalhei] 10 anos na iniciativa privada, trabalhando com gente. E, olha, não é fácil. Trabalhar com eles [os cães] é bem mais legal”, conta aos risos.

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