Recentemente houve um surto de esporotricose pelo Brasil, doença que chegou a ser classificada como uma “transmitida por gatos”, acendendo um alerta entre os protetores e ativistas da causa animal — já que os felinos, principalmente os que vivem nas ruas, são vítimas constantemente de maus-tratos, e, sendo assim, associar os gatos a uma doença tende a potencializar esse tipo de ato, movido pela desinformação.
Para esclarecer essa associação equivocada, o Canal do Pet conversou com o médico-veterinário Leonardo De Giuseppe, voluntário da ONG Fla.Gato , localizada no bairro Flamengo, no Rio de Janeiro (RJ).
A esporotricose é uma doença fúngica, causada pelo fungo da espécie Sporothrix schenckii, que pode estar presente no solo, em palha, vegetais, espinhos e madeira. Facilitando muito a contaminação de pessoas e animais ao contato com superfícies contaminadas (como ao se arranhar em um espinho, por exemplo).
O que aumenta o risco de contaminação é a dificuldade de identificar o fungo na natureza, como explica Leonardo: “A identificação desses fungos nessas superfícies é impossível a olho nu. Sendo assim, somente pela análise do solo ao microscópio.”
Vitória De Giuseppe também é voluntária da Fla.Gatos. Ela ajuda nos cuidados dos felinos das colônias, além de oferecer lar temporário para gatos que estão em busca de uma família ou necessitam de cuidados especiais, como os infectados pela esporotricose.
Para ela, a informação de que se trata de uma “doença transmitida por gatos” é algo sério e preocupante. “O gato é uma vítima, assim como as pessoas. Essa doença é conhecida como 'doença dos jardineiros' e pode ser transmitida por lascas de madeiras ou árvores”, diz Vitória ao Canal do Pet . “Eles [os gatos] já sofrem muito preconceito e nós vivemos essa experiência.”
A doença dos jardineiros
A presença do Sporothrix schenckii nessas superfícies, especialmente na terra, facilita muito a contaminação ao simples contato com o solo e diferentes tipos de vegetais, por isso era conhecida como doença dos jardineiros.
Da mesma forma que contamina seres humanos, a esporotricose afeta cães, gatos e outras espécies de animais quando estes têm contato com superfícies contaminadas pelo fungo. Por ser uma micose subcutânea — que se instala por baixo da pele —, ela deixa um mau aspecto na pele, causando feridas. No entanto, é facilmente tratável, tanto em humanos, quanto em animais.
“Para prevenção desses fungos, a melhor opção é sempre quando manipular terra ou plantas utilizar luvas de proteção, roupas compridas e sapatos fechados”, diz Leonardo. “No caso dos animais, não deixar os gatos terem acesso a rua ou a solos [terra] no geral.”
Vitória já ajudou no tratamento de pets que foram afetados pelo fungo e reforça a importância do uso de luvas no tratamento da esporotricose, "assim como para qualquer outra doença".
“É preciso medicar uma vez ao dia, sempre usando luvas, assim como se usa para cuidar de qualquer outro animal doente”, diz, acrescentando que, no caso de Pelatti — uma das gatinhas que ajudou a cuidar e que está disponível para adoção —, o tratamento durou cerca de seis meses.
Como identificar os sintomas
Leonardo De Giuseppe, veterinário voluntário da Fla.Gato, explica que os primeiros sinais nos felinos são lesões que surgem na região do focinho e das orelhas. “No focinho começa com pequenas feridas que não cicatrizam e um crescimento na região que pode gerar uma ferida de mesma natureza. Nas orelhas ocorre o aparecimento de várias feridas”, comenta.
Como é feito o tratamento
“O tratamento é feito com o uso de antifúngico específico e acompanhamento da ferida. Esse tratamento deve continuar mesmo depois que as feridas já estiverem fechadas”, orienta Leonardo, ressaltando que a duração do tratamento dependerá da avaliação de um médico-veterinário.
“Durante o tratamento o tutor deve tomar cuidado com possíveis arranhões e manipular o animal sempre usando luvas”, completa.
Caso venha a ser arranhado por um animal contaminado, ou por alguma superfície suspeita, a ferida deve ser limpa e desinfectada imediatamente. Na dúvida, busque orientação médica, finaliza o especialista.
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