O câncer em cães é uma doença que sempre existiu, e hoje a incidência só é mais notável por três principais motivos: a forma de criar animais de estimação mudou , a população e a estimativa de vida dos cães tiveram um aumento significativo e os recursos de diagnóstico e tratamento avançaram. Isso fez com que nos últimos anos, a oncologia se tornasse uma especialidade bastante requisitada no mercado veterinário.
O veterinário Rodrigo Ubukata explica que os cães passaram a viver mais tempo porque seus donos estão mais preocupados com a prevenção das doenças e fazem vacinação e vermifugação constantemente. “Em áreas mais nobres já não há mais tantas doenças infecciosas e desnutrição porque temos alimentação comercial balanceada e com isso os animais vão atingindo idades mais avançadas”, explica. E com a idade avançada, surgem as doenças relativas à terceira idade, o câncer em cães é uma delas.
Mas a doença não é exclusiva de animais idosos. “Alguns tumores carregam a questão da hereditariedade e os fatores ligados à raça. A frequência é maior em animais idosos, mas atendemos também muitos animais jovens ou até mesmo pediátricos com câncer”, alerta o especialista. Entre esses tumores, o mais frequente na rotina da oncologia veterinária no Brasil é o mamário, seguido pelos de origem sanguínea e pelos de pele.
O câncer mamário é muito comum em cadelas não castradas antes do primeiro cio. A castração precoce, por volta dos 5 ou 6 meses de idade, previne o desenvolvimento do tumor. De acordo com estudos científicos, cadelas não castradas precocemente têm chance de desenvolver câncer de mama acima de 99,95%. “Os tumores mamários têm origem genética também, mas ocorrem principalmente por questões hormonais”, diz Ubukata. Quando se retira os ovários e o útero da cadela, não há influência hormonal sobre o tecido mamário, evitando a estimulação de genes dependentes de hormônio.
Para os tumores de origem sanguínea, que aparecem em segundo lugar entre os mais comuns em cães, não há medidas de prevenção. Cerca de 80% deles correspondem ao linfoma, enquanto os 20% restantes dos casos se referem às doenças ligadas à medula óssea, como a leucemia. Já os de pele podem ter sua incidência reduzida com medidas simples como evitar a exposição dos cães à radiação solar e a utilização de protetores solares específicos para animais.
Algumas raças possuem uma predisposição maior para o câncer . De acordo com Ubukata, os linfomas são muito comuns em Labradores, Golden Retriver, Pit Bulls, Rottweiler, Poodle, Schnauzer, Teckel, Basset houd, SRDs e Terriers. Quando se fala em tumores de pele, as raças caninas mais acometidas são Boxer, Labrador, Poodle, SRDs e Teckel. “É um padrão para fazer o diagnóstico, mas não descartamos um tumor em cães que não pertençam a estas raças”, destaca.
Embora ainda não tenha cura, o câncer é uma doença que pode ser controlada, dependendo do estágio em que ela se encontra quando é feito o diagnóstico. Por isso exames de prevenção regulares são tão importante, já que é fundamental que a descoberta aconteça o mais cedo possível.
A ultrassonografista veterinária Mirian Halasc Vac diz que os donos de cães têm sido cada vez mais cuidadosos na prevenção de doenças. “Tenho feito muito ultrassom de check-up preventivo, especialmente em cães com idade acima de sete ou oito anos. Isso faz com que se descubram doenças como tumores muito mais cedo. Os equipamentos foram se modernizando ano a ano. Antigamente não enxergávamos detalhes. Hoje, conseguimos detectar nódulos de 1 mm. Vemos coisas menores mais precocemente”.
Ubukata explica que o ultrassom é um aparelho que revolucionou o diagnóstico por imagem na medicina veterinária. Junto com ele, outros exames ajudam a dar maior segurança nos resultados, entre os quais se destacam o raio X e a tomografia. Graças a todo esse avanço tecnológico é possível determinar o tipo de tumor e o que ele causou no paciente para que se faça a abordagem terapêutica necessária.
Qualidade de vida para cães com câncer
Durante o tratamento de um paciente com câncer, o principal objetivo é que a qualidade de vida do cão seja mantida. Por isso, sua rotina é pouco modificada e a orientação é que ele tenha a vida mais normal possível. “É preferível que um cão fique um mês vivendo bem ao lado do dono a um ano sofrendo e a família sofrendo junto. Os donos têm os animais como membros da família e querem algum tipo de tratamento que mantenha a qualidade de vida e que controle a doença”, explica Ubukata.
O mesmo vale para pacientes com a doença em estágio avançado. Para o especialista, o tratamento é iniciado apenas quando há chances de trazer maior qualidade de vida ao cão. “Muitas vezes, é melhor tratar a dor e minimizar o desconforto”, explica ele, justificando que pacientes com câncer são os que mais sofrem com dor crônica. Hoje, a medicina veterinária, assim como a humana, já conta com uma especialidade para tratar dores crônicas.
Tratamento padrão
A cirurgia ainda é o principal método de tratamento para maioria dos câncer em cães, com exceção dos tipos de origem sanguínea, cujo tratamento principal é o quimioterápico. Segundo Ubukata, pacientes com linfoma ou leucemia são os que melhor respondem ao tratamento quimioterápico, em que aproximadamente 90% dos pacientes apresentam respostas satisfatórias. Estes geralmente têm uma sobrevida maior dependendo do tipo do tumor e do momento do diagnóstico do câncer em cães.