Há dois meses escrevi aqui sobre o Grafite , meu gato que está com linfoma intestinal. Hoje vim dar notícias de como ele tem passado e, com sorte, ajudar um pouquinho outras pessoas que também possuem gatinhos com câncer.
Donos de gatos costumam ser extremamente apegados a seus bichanos. Eles não são apenas membros da família; são objeto de intensa adoração. Gateiros podem passar horas admirando seus gatos, maravilhados com sua beleza, inteligência e personalidade.
Por isso, para um gateiro, ver seu bichano doente é muito difícil. A gente sofre junto com eles. A ansiedade vai lá nas alturas. Os piores cenários vêm à mente. E, de fato, quando se trata de câncer, o desfecho geralmente é ruim...
Infelizmente, o Grafite não respondeu adequadamente à quimioterapia mais usada para linfoma intestinal em gatos. E fez o que talvez seja o pior pesadelo dos donos de gatos: parou de comer. Tentamos vários remédios: para enjoo, para náusea, para estimular o apetite, mas nada de comer. Recorremos, então, à colocação de um tubo esofágico, para alimentá-lo; com isso, conseguimos estabilizar o peso e ganhar um pouco de tranquilidade.
Atualmente meu filhote alterna dias bons com dias ruins, como é esperado em tais situações. Tem dias que dá umas beliscadas na ração e nos deixa felizes da vida. Em outros dias, não come nada, e aí damos a ração via tubo esofágico. Em alguns momentos, está ativo e brincalhão. Noutros, permanece encolhido, quietinho.
Às vezes olho para o Grafite e me emociono. Vejo seu rosto fino e percebo que ele emagreceu. E penso – será que chegou o momento da eutanásia? Será que ele quer partir? Converso com o meu ex-marido, com quem mantenho a guarda compartilhada dos bichanos. É ele quem segura a patinha do Grafite na foto. E ele me lembra que, apesar de tudo, o Grafite ainda mantém a sua rotina – sobe no topo da geladeira para observar a movimentação na cozinha, procura o solzinho da manhã para a sua soneca, dá banho de língua no irmão Pitoco e “amassa pãozinho” no cobertor antes de se deitar.
Tal qual na medicina, temos na veterinária escalas para avaliar a qualidade de vida de um animal doente, que são utilizadas principalmente para animais na fase final da vida. Uma das avaliações consiste em classificar os dias como bons, médios ou ruins. E o Grafite ainda tem mais dias bons do que ruins. Sendo assim, seguimos em frente com a determinação de dar a melhor qualidade de vida que um gatinho pode ter nesse final da vida, realizando todos os seus caprichos, mimando-o mais do que nunca. E vivendo um dia de cada vez.
Sobre Yumi Hirai
Yumi Hirai é médica veterinária formada pela USP e dedicada ao atendimento de felinos na Clínica Vetmasters em São Paulo. É mãe de dois gatinhos fofos, Grafite e Pitoco. Escreve quinzenalmente sobre as dúvidas que deixam os donos de gatos de cabelo em pé.