A relação entre
cães
e gatos
é um assunto muito retratado na mídia como sendo inviável
. Seja em filmes, séries, desenhos animados ou até na literatura, essas espécies são retratadas como inimigos mortais
.
Entretanto, cães e gatos não são inimigos naturais, segundo a médica-veterinária Isabella Gavioli Martins . A especialista em etologia clínica afirma que a rivalidade entre as espécies é um mito popular . A explicação está nas diferenças comportamentais e biológicas, que exigem atenção e adaptação no convívio doméstico.
Em entrevista ao Canal do Pet, Isabella explicou como a socialização correta e o ambiente estruturado podem permitir laços afetivos reais entre cães e gatos.
“ Com a socialização adequada e manejo correto, cães e gatos podem conviver harmoniosamente e até criar vínculos afetivos fortes ”, afirmou.
Diferenças comportamentais influenciam a convivência
Cães são mais sociais, caçam em grupo e usam uma comunicação mais direta. Já os gatos preferem agir sozinhos, são discretos e também desempenham o papel de presa, o que os torna naturalmente mais cautelosos e sensíveis a aproximações bruscas.
Essas diferenças podem causar ruídos na comunicação entre as espécies. Isabella explicou que “ um cão abanando o rabo pode estar feliz, mas um gato fazendo o mesmo gesto pode estar irritado ”, o que pode gerar confusão tanto para os animais quanto para os tutores .
Além da biologia , experiências passadas e o temperamento individual também interferem no relacionamento entre os pets. Cães com comportamento predatório ou gatos que viveram traumas podem reagir negativamente à presença de outro animal.
Por isso, o convívio entre as espécies exige atenção redobrada dos responsáveis e, em muitos casos, orientação especializada para evitar conflitos.
Convivência pode ser positiva desde filhotes ou na fase adulta
O ideal é promover o contato entre as espécies ainda durante a fase de socialização, entre os três e quatro meses de idade . Neste período, cães e gatos estão mais receptivos a novas experiências e formam vínculos com mais facilidade.
Mas mesmo animais adultos podem aprender a conviver bem. A adaptação exige paciência, respeito aos limites de cada um e ambiente adequado, com segurança para todos.
“ É totalmente possível! Muitos cães e gatos formam vínculos reais, dormem juntos, brincam e até demonstram comportamentos de cuidado mútuo ”, afirmou Isabella. Segundo a profissional, é necessário ficar de olho no ajuste do espaço, principalmente para os gatos.
Elementos como prateleiras, esconderijos, rotas de fuga e áreas elevadas ajudam o gato a se sentir no controle do território. Essa estrutura reduz o estresse e evita confrontos diretos com o cão.
Antes de trazer um novo animal para casa, é importante observar o perfil do pet que já vive no ambiente. Cães muito agitados podem ser ameaçadores para gatos, enquanto felinos medrosos tendem a se estressar com cães extrovertidos.
“ A orientação profissional é indicada para avaliar o cenário individual e estruturar um plano eficaz ”, explicou Isabella. Além disso, o processo de adaptação deve ser feito de forma gradual. Forçar o contato direto logo no início pode aumentar os riscos de brigas ou traumas comportamentais difíceis de reverter.
A observação constante é fundamental para notar sinais de estresse, como isolamento, alterações na alimentação ou excesso de latidos e perseguições.
Forçar convivência pode gerar problemas emocionais
Uma introdução mal planejada ou um ambiente inadequado pode gerar impactos negativos na saúde emocional dos animais. Cães e gatos podem desenvolver quadros de ansiedade, agressividade ou até depressão .
“ Eles podem desenvolver ansiedade, medo, comportamentos agressivos, alterações no apetite, sono e eliminação, além de quadros de depressão ”, alertou Isabella. Gatos, em especial, tendem a internalizar mais o estresse do que os cães.
Por isso, o processo de adaptação deve respeitar o tempo de cada espécie. Oferecer espaços seguros e permitir que o gato escolha quando se aproximar são estratégias fundamentais.