
Há onze anos, Simone Gatto, uma mineira de Poços de Caldas que hoje vive em São Paulo, deparou-se com uma cena que mudaria sua vida para sempre. Em uma visita a um hospital público animal, ela conheceu Paçoca, um gatinho de apenas dois meses que havia sido abandonado dentro de uma caixinha de sapato por um tutor agressivo. O homem ameaçava jogar o filhote em um bueiro caso o hospital não o aceitasse. Naquele momento, uma senhora que já cuidava de mais de 50 animais decidiu levar o gato para casa, mas, sem condições financeiras ou emocionais para cuidar dele, acabou passando-o para Simone. Foi amor à primeira vista.
“Quando nossos olhos se cruzaram, soube que tinha que levá-lo”, relembra Simone, hoje com 60 anos. Na época, ela não imaginava que aquele gesto de compaixão a levaria a uma jornada de aprendizado, superação e inspiração para milhares de pessoas. Paçoca chegou em casa paraplégico e com problemas de saúde graves, incluindo intestino preso e infecção urinária. Sem experiência, Simone buscou ajuda de profissionais e dedicou-se a aprender tudo o que podia para cuidar do gatinho. “Foi difícil no começo, mas ele me ensinou a ser paciente e persistente”, conta.
A experiência com Paçoca abriu as portas para um novo propósito na vida de Simone. Ao frequentar hospitais veterinários, ela percebeu que muitas famílias enfrentavam dificuldades para cuidar de animais deficientes. Decidiu, então, compartilhar seu conhecimento e ensinar tutores a realizar o manejo domiciliar. “Vi muitas pessoas desesperadas, sem saber o que fazer. Queria ajudá-las a dar uma vida digna a esses animais”, explica.

Ao longo dos anos, Simone adotou e resgatou diversos animais com deficiências e condições graves de saúde. Cada um deles trouxe lições únicas. Amora, uma gatinha com feridas profundas que expunham seus ossos, ensinou-a a aperfeiçoar técnicas de curativos e a utilizar ozonioterapia. Banguela, resgatado após ser brutalmente espancado, mostrou a importância de cuidar não apenas das feridas físicas, mas também das emocionais. “Ele tinha medo de humanos, mas hoje é meu ‘grudinho’”, diz Simone, orgulhosa.
Denise, uma gata tetraplégica resgatada de um lar de acumuladora, foi um dos casos mais desafiadores. Com múltiplas fraturas na coluna, infecções e convulsões diárias, os veterinários duvidavam que ela sobreviveria. No entanto, Simone não desistiu. “Ela viveu até os 20 anos, amada e respeitada. Foi uma lição de resiliência”, emociona-se. A história de Denise inspirou muitos tutores a reconsiderar a eutanásia e a lutar pela vida de seus animais.
Outro caso marcante foi o de Thor, um gatinho resgatado com apenas 4 meses e menos de 80 gramas. Com apenas um olho, uma narina e lábios leporinos, ele enfrentou diversas patologias, incluindo convulsões. “Os veterinários não acreditavam que ele sobreviveria, mas hoje ele está com 9 anos e é um gatão saudável”, comemora Simone.

Atualmente, Simone cuida de 12 animais em sua casa, entre paraplégicos, gatos e cachorros. Sua rotina é intensa, mas repleta de amor e gratidão. Além disso, ela trabalha como voluntária na aldeia indígena do Jaraguá, onde já atendeu mais de 800 animais em situação de vulnerabilidade. Seu sonho é ampliar seu impacto: “Quero um espaço físico para receber tutores e seus animais, ensinar tratamentos e contar com veterinários e fisioterapeutas voluntários. Se já ajudo pessoas do mundo todo pelas redes sociais, imagine o que poderíamos fazer pessoalmente”.
Simone também atua como ativista, criando petições e apoiando leis em defesa dos animais. Sua dedicação já resultou em conquistas significativas, como a aprovação de uma lei relacionada ao transporte de animais domésticos em ônibus do serviço municipal de transporte coletivo de São Paulo, a Lei 16.125/15. “Acredito que podemos mudar a realidade desses seres tão especiais”, afirma.

A mineira, que hoje é aposentada, dedica sua vida a cuidar daqueles que muitos consideram “imperfeitos”. Para ela, no entanto, são justamente essas imperfeições que tornam os animais tão especiais. “Eles me ensinaram que o amor verdadeiro não tem limites. Cada um deles é uma lição de superação e gratidão”, finaliza Simone.