
O focinho dos cães abriga uma microbiota rica em bactérias e outros microrganismos, mas isso não significa que seja “ sujo ” ou perigoso para humanos . Segundo médicas-veterinárias, o risco de transmissão de doenças é baixo quando o animal está saudável, vacinado e com higiene em dia . Ainda assim, cuidados básicos são fundamentais para prevenir doenças, especialmente em crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa.
Em entrevista ao Canal do Pet, a veterinária Bruna Martins, do grupo PetCare e a veterinária Bruna Garcia, da Petlove explicaram a composição dessa microbiota, alertaram sobre riscos em comportamentos naturais dos cães.
O que é a microbiota do focinho do cachorro?
Segundo Bruna Martins, o focinho do cachorro não deve ser chamado de “ sujo ” no sentido de ser impróprio ou perigoso. “ Na verdade, o focinho do cachorro não é ‘sujo’, mas sim naturalmente colonizado por uma série de microrganismos, como acontece com qualquer parte do corpo — tanto em animais quanto em humanos ”, explica.
A médica-veterinária detalha que essa microbiota é composta por bactérias como Staphylococcus, Pasteurella e Porphyromonas . Elas convivem de forma equilibrada e, na maioria dos casos, não causam doenças. O problema surge quando esse equilíbrio é rompido, algo que pode acontecer se o cão estiver doente ou tiver contato com ambientes contaminados.
Essa composição muda bastante entre os cães. Idade, dieta , ambiente, rotina de passeios e cuidados veterinários influenciam diretamente na quantidade e no tipo de bactérias presentes. “ Cães com higiene bucal adequada e cuidados veterinários regulares tendem a ter uma microbiota mais equilibrada e menos patogênica ”, explica Bruna Martins.
Bruna Garcia acrescenta que o focinho é comparável às mãos humanas. “ O focinho dos cães não é ‘sujo’ por natureza, mas também não é estéril. Ele é a principal ferramenta de exploração do mundo para o cachorro: ele toca, cheira e investiga tudo com o focinho, e cada um tem até um desenho único, como a nossa impressão digital ”, afirma. Essa função exploratória, porém, aumenta a probabilidade de contato com microrganismos diversos.
Para ambas, a microbiota natural não deve ser encarada como algo negativo. Em cães saudáveis, ela é parte de um sistema equilibrado que ajuda até na defesa contra microrganismos nocivos. O risco real está em animais que não recebem cuidados básicos de saúde ou frequentam locais com alta carga de contaminação.

Como o comportamento natural do cachorro pode transmitir doenças?
Cheirar objetos, lamber partes íntimas ou explorar locais durante passeios faz parte do instinto do cão. No entanto, esse hábito pode expô-lo a parasitas e bactérias capazes de provocar doenças. “ O contato com fezes de outros animais, restos de comida, lixo ou secreções pode ser uma porta de entrada para parasitas intestinais, bactérias ou vírus ”, alerta Bruna Martins.
Esses riscos não afetam apenas o pet. Quando há contato com mucosas humanas, como olhos e boca, ou feridas abertas, pode ocorrer transmissão de doenças. Crianças pequenas, idosos e pessoas com imunidade baixa devem ser especialmente cuidadosas, evitando esse tipo de contato direto.
Bruna Garcia explica que os maiores perigos surgem quando o animal tem acesso a lixo, água parada ou fezes. “ Para o cão, há risco de contaminação por parasitas, fungos e bactérias (como giárdia, leptospira ou dermatófitos), especialmente se lamber água parada, fezes ou urina de outros animais. Para humanos, o risco aumenta se houver contato direto com mucosas ou feridas abertas, podendo causar zoonoses, como leptospirose, salmonelose ou micoses ”, afirma.
As duas veterinárias explicam que o risco é muito menor quando o cão está vacinado, vermifugado e recebe acompanhamento veterinário frequente . Ainda assim, hábitos simples, como higienizar as mãos após brincar com o pet e não permitir lambidas no rosto, ajudam a prevenir problemas.
Outro ponto importante é supervisionar os passeios. Impedir que o animal tenha contato com áreas conhecidamente contaminadas, como terrenos baldios e lixo urbano, é uma das formas mais eficazes de evitar que ele leve microrganismos perigosos para dentro de casa.
Saliva do cachorro cura feridas humanas?
A crença de que a saliva canina acelera a cicatrização é antiga, mas não encontra respaldo científico. Bruna Martins é categórica: “ Esse é um clássico mito. A saliva dos cães tem, de fato, algumas enzimas com leve ação antibacteriana — como a lisozima —, mas também carrega uma grande quantidade de bactérias, inclusive potencialmente perigosas ”.
Segundo ela, permitir que o cachorro lamba uma ferida humana pode atrasar a cicatrização e até causar infecções graves, especialmente em pessoas com baixa imunidade. Isso vale tanto para cortes e arranhões quanto para lesões cirúrgicas.
Bruna Garcia concorda e explica que, nos próprios cães, lamber feridas pode trazer uma sensação temporária de alívio, mas não substitui tratamento médico ou veterinário. “ Permitir que o cão lamba feridas humanas pode aumentar o risco de infecções, principalmente em pessoas com imunidade baixa ”, reforça.
Além disso, as duas especialistas alertam que, ao lamber feridas, o cão também pode se contaminar, ingerindo microrganismos presentes no sangue ou nas secreções humanas. Isso pode gerar problemas de saúde para o próprio animal, criando um ciclo de risco duplo.
Higiene do focinho e da boca do cachorro
Manter a higiene da boca e do focinho do cão é uma das formas mais simples e eficazes de reduzir riscos de doenças. Bruna Martins recomenda escovação regular com creme dental próprio para pets, uso de petiscos que auxiliem na limpeza bucal e limpeza suave do focinho com gaze ou pano úmido, especialmente em raças com dobras faciais.
Ela também destaca a importância de visitas periódicas ao veterinário para avaliar gengivas e dentes. “ Esses cuidados ajudam a manter a microbiota equilibrada e reduzem muito o risco de doenças ”, afirma. A atenção à saúde bucal também contribui para prevenir mau hálito e problemas mais graves, como a periodontite .
Bruna Garcia acrescenta outras medidas importantes, como higienizar o focinho e as patas após os passeios e evitar que o cão tenha acesso a lixo, urina ou fezes. “ Check-ups regulares no veterinário e limpeza dental quando indicada são cuidados que ajudam a manter não só a boca e o focinho limpos, mas a saúde geral do pet em equilíbrio ”, afirma.
As especialistas também lembram que a prevenção de doenças não depende apenas da higiene, mas de um conjunto de ações. Vacinação, vermifugação e controle de ectoparasitas devem estar sempre em dia para reduzir o risco de zoonoses.