No dia 4 de outubro é celebrado o Dia Internacional dos Animais, data escolhida por ser também o dia em que se celebra São Francisco de Assis, o santo padroeiro e protetor dos animais, segundo a Igreja Católica.
Conforme explica a escritora Luciana do Rocio Mollon, o “Dia dos Animais” se originou em 1931, durante uma conferência de ecologistas que ocorreu em Florença , na Itália . A data foi criada para sensibilizar a sociedade em relação à necessidade de proteger e preservar a natureza, e todas as espécies de animais.
“Há uma lenda que conta que um dos membros [da conferência] teve uma visão do santo, então decidiram celebrar o Dia Internacional dos Animais na data de 4 de outubro, o mesmo dia em que é celebrado o dia de São Francisco”, diz Luciana ao Canal do Pet .
A celebração ganhou ainda mais força após 1978, quando foi criada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, pela Unesco. O documento afirma que os animais têm direito à proteção e respeito por parte do ser humano.
São Francisco de Assis era conhecido por sua forte ligação com a natureza e todas as suas criaturas, a quem ele considerava como irmãos – todos filhos de Deus.
“No momento em que ele se elevou [espiritualmente], ele percebeu que a natureza e os animais eram todos criações de Deus, portanto, eram como irmãos. Por isso, se referia a todos como tal: irmão sol, irmã lua, irmão lobo. Ele, como nós hoje, era irmão da natureza”, diz Henrique Machado, devoto do santo e fundador do santuário de proteção a animais abandonados Anjinhos da Rua .
Segundo a historiadora e especialista em Idade Média e história da Igreja, Chiara Frugoni (1965-2022), autora do livro “Vida de um Homem: Francisco de Assis”, o santo levava uma vida de total abnegação de bens materiais, se doando inteiramente não apenas à natureza e aos animais, mas também às pessoas, especialmente aos mais pobres.
São Francisco renunciou a todos os valores mundanos, para que assim pudesse levar uma vida singela, simples e despojada, como a dos animais. Sem possuir nada, ele teria a liberdade como a de “uma ave no céu”. Por toda a sua ligação e comunhão entre natureza e animais, o santo passou a ser considerado como o grande padroeiro de todos os animais.
Quem foi São Francisco de Assis
Francisco Bernardone nasceu na cidade de Assis, na Itália, em 1182. Era filho de Pietro di Bernardone, um rico comerciante de tecidos, e Pica de Bourlemont, membro de uma família nobre da Provença, na França.
Em sua juventude, Francisco teve uma vida de ostentação, esbanjando o dinheiro de sua família, sem mostrar interesse pelos negócios ou mesmo para os estudos. Vivia na companhia de boêmios, até que, aos 20 anos, foi preso.
Depois de liberto, Francisco que já não tinha interesses pelos negócios do pai, passou a se desinteressar também pelo dinheiro. Com o tempo, se converteu e abraçou a de vez uma vida desligada dos bens materiais.
“Ele começou a sentir um chamado”, diz Henrique. O chamado ocorreu quando Francisco tinha 25 anos de idade, enquanto rezava sozinho na Igreja de São Damião, em Assis. Na ocasião, o jovem católico sentiu como se o crucifixo o chamasse: “Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas.”
A partir daí, Francisco vendeu todos os seus pertences e doou o dinheiro para a igreja, pedindo permissão ao padre para que pudesse viver com ele. Pietro, seu pai, ficou furioso e o levou de volta para casa, chegando a acorrentá-lo pelos pés.
Contudo, na ausência do pai, sua mãe o libertou. Foi então que Francisco optou por renunciar a sua herança, deixando até mesmo a roupa do corpo que, segundo ele, também pertencia a seu pai.
“Até agora tu tens sido meu pai na terra, mas agora poderei dizer: ‘Pai nosso, que estais nos céus”, disse ele após se despir e entregar toda a roupa que vestia ao pai.
Francisco dava tudo o que tinha aos pobres, até mesmo as próprias roupas, chegando a andar nu pelas ruas. Tudo o que preservava em vida se resumia a uma túnica e uma corda. “Para Francisco, foi aquilo um chamado de amor. Amor pela natureza, pelas pessoas, e por Cristo”, diz Henrique.
Mesmo com sua vida constantemente cercada por guerras e cruzadas, relata o livro de Chiara, Franscisco jamais se referiu diretamente à guerra ou mesmo pronunciou uma única palavra agressiva. São Francisco morreu no dia 3 de outubro de 1226, e foi canonizado dois anos depois, em 1228, pelo Papa Gregório IX.
As lendas de São Francisco de Assis
Em 1223 São Francisco foi o responsável pela criação do primeiro presépio com animais vivos, uma tradição que se mantém até hoje nos dias de Natal. Para ele, foi uma forma de homenagear o Criador.
“Algumas pessoas dizem que os animais que formam esses presépios não são mortos para comer”, diz Luciana. “Há uma lenda que diz que um bando de andorinhas formava uma cruz atrás de São Francisco, como uma forma de proteção”. “Irmãs andorinhas, agora eu tenho que falar comigo”, teria dito o santo durante uma pregação em Alvino, ocasião relatada na lenda.
São Francisco também teria amansado um lobo selvagem que invadiu um vilarejo, como uma forma de proteger os moradores e o próprio animal. Ao lobo, Francisco disse: “Venha até mim, irmão Lobo, mando-te da parte de Cristo, que não faças nenhum mal a mim nem a ninguém.”
“Outra lenda diz que o santo encontrou uma pomba com a asa machucada pelo caminho, a curou e a ave posou sobre sua mão em agradecimento. Aliás a pomba também é símbolo da paz e das mensagens. Por isso a imagem de São Francisco com a pomba é muito popular”, conta Luciana.
Os milagres de São Francisco
Muitos devotos de São Francisco de Assis atribuem a cura de seus amados animais de estimação ao santo protetor. Gabriel Paixão, presidente da Ong Cia de São Francisco de Assis , agradece ao santo padroeiro por tudo o que conquista em prol dos animais abandonados.
“Podemos contar que grande parte dos nossos feitos são providência de muitas preces que pedimos a intercessão de São Chiquinho, como intimamente todos os protetores da Ong o chamam”, diz Gabriel ao Canal do Pet . “Desde animais em complexos tratamentos, até pedidos de resgate, sempre pedimos pela intercessão de Chiquinho!”
“Onde há São Francisco, há milagre”, complementa Henrique. “Nós tivemos no Anjinhos da Rua vários casos de animais curados graças a São Francisco. Para mim, a própria existência do Santuário é um milagre. Estamos aí, lutando pelos milagres, pelo bem aos animais, pelo bem às pessoas, e que todos um dia tenham a mesma oportunidade que nós temos de vivermos e sentirmos de verdade o amor que São Francisco sentiu pelos animais.”
Para Luciana o milagre ocorreu de forma mais específica. Ela conta que durante a infância sonhava em ter um animal de estimação. “Meus pais nunca deixaram”, recorda a professora que, há cerca de 20 anos, foi à Igreja do Rosário para rezar.
“Eu rezava para Santo Antônio, até que uma senhora me falou que para conseguir um animal de estimação eu deveria rezar para São Francisco e me aconselhou a rezar na igreja de São Francisco, no mesmo bairro, no Largo da Ordem. Então foi o que eu fiz”, conta ela, recordando que rezou por 15 dias, até que apareceu em seu quintal uma gata de rua, já idosa e sem um dos olhos.
“Três anos depois, apareceu um filhote de gato e a minha gata caolha sumiu. Foi quando resolvi pesquisar mais sobre São Franscisco. Posteriormente me tornei professora de Folclore e Literatura”, diz.
A professora conta ainda sobre a Igreja do bairro Largo da Ordem, em Curitiba, no Paraná, que “é um local onde cachorros, gatos e até pássaros frequentam de forma maravilhosa”. “Lá muitas vezes animais entram e ficam olhando para a imagem do santo, bem perto, como se estivessem rezando.”
Ela se recorda ainda de um famoso felino que vivia pelo bairro: “O Gato Bóris é uma lenda de Curitiba, sempre aparecia nessa igreja”, diz Luciana. Bóris vivia em um sebo local [loja de discos e livros antigos], e morreu em fevereiro de 2016, após ser atacado por um cachorro.
Na época, Marcos Hadlich, o tutor do felino, contou em suas redes sociais que Boris foi capturado por um cachorro de rua enquanto passeava, algo que fazia costumeiramente.
“[O ataque ocorreu] no estacionamento ao lado da Casa Hoffman. [Bóris] se escondeu em um quartinho onde acabou sucumbindo, provavelmente do coração pelo súbito do acontecido, já que não havia grandes marcas. Depois de algumas horas buscando por ele, recebemos uma ligação dos funcionários do estacionamento que o encontraram já sem vida e nos relataram parte da história”, contou Marcos em sua página no Facebook.
O felino foi enterrado aos fundos da loja, no local onde gostava de se deitar todos os dias para tomar sol. Bóris já vivia no sebo antes de a loja passar aos cuidados de Marcos. O animal era conhecido pelos moradores da região, a loja foi fechada em 2017, de acordo com publicação da página “Centro Histórico de Curitiba”.
Bóris, no entanto, continua vivo no imaginário popular e, segundo a crença, pode estar ao lado de São Francisco de Assis, o santo padroeiro e protetor de todos os animais.
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