Já estamos acostumados a ver histórias emocionantes de animais em obras de ficção, seja em livros ou no cinema. Contudo, muitas dessas histórias realmente aconteceram e os cachorros exerceram papéis importantes na história, alguns se tornaram até mesmo verdadeiros heróis para os seus amigos humanos.
Três deles, Stubby, o primeiro cão a se tornar sargento no exército americano; Smoky, a cadelinha que se tornou o primeiro cachorro de terapia da história e Judy se tornou herói de guerra e viveu dias difíceis como prisioneira de guerra.
O sargento Stubby
Stubby foi o primeiro cão de guerra da história, atuando ainda na Primeira Grande Guerra Mundial. Adotado ainda filhote, pelo soldado J. Robert Conroy, em 1917, o cão era um vira-lata, nascido do cruzamento entre um Pitbull e um Terrier. O cão foi encontrado na região do campus da Universidade Yale, em Connecticut (EUA), enquanto observava um treinamento do exército.
Robert Conroy ensinou ao amigo alguns truques e o cãozinho, que era muito inteligente, logo foi aprendendo a atender às chamadas de corneta, fazer exercícios e até a fazer saudações do exército levantando a pata direita. Mandado em Infantaria para a linha de frente, na França, Robert não quis abandonar o cãozinho e o levou escondido no navio. Ao ser encontrado por um comandante, Stubby “bateu continência” com a patinha, o que conquistou imediatamente a simpatia do oficial, que permitiu que ele os acompanhasse.
A presença de Stubby foi se mostrando mais útil do que se poderia imaginar quando, em um ataque de bombas de gás (no qual ele e seu tutor sobrevieram graças ao uso de máscaras de proteção), o cãozinho passou a identificar, pelo olfato, novos ataques, podendo assim avisar aos companheiros de exército com antecedência, os salvando de ataques alemães.
A proeza do animal o rendeu a primeira condecoração, se tornando primeiro cabo do exército. Foram inúmeras batalhas em que Stubby participou e ajudou seus companheiros. Ele participava de patrulhas e encontrava soldados feridos e mortos em campo de batalha. Mas sua maior honraria veio quando ele conseguiu identificar um espião alemão, que estava tentando mapear as trincheiras americanas. O cão saltou sobre o espião, o mordendo e imobilizando com seus dentes, o soltando apenas quando seus companheiros americanos chegaram.
Após esse novo ato heroico, Stubby foi promovido pelo comandante da 102ª Infantaria ao posto de sargento, se tornando o primeiro cachorro da história a atingir esse posto militar. Com a vitória americana, o cãozinho recebeu de presente um casaco de camurça, com diversas medalhas e condecorações de reconhecimento por sua bravura.
Durante os conflitos, Stubby chegou a ser ferido por uma granada alemã, mas sobreviveu aos estilhaços que o feriram no peito e na perna. Com o fim da guerra, Robert Conroy levou seu cachorro de volta para casa, nos Estados Unidos, onde participou de desfiles, conhecendo os presidentes Woodrow Wilson, Calvin Coolidge e Warren G. Harding.
Em 1921, Conroy entrou para a Universidade de Georgetown, e Stubby se tornou a mascote do time de futebol da faculdade, divertindo o público durante os jogos. Dois anos depois, o cachorro e herói de guerra morreu enquanto dormia. Em 2018 a história foi contada em um filme de animação, chamado “Sargento Stubby: Um Herói Americano”.
A Yorkshire que salvou 250 vidas
Em março de 1944, Smoky, uma cachorrinha da raça Yorkshire Terrier foi encontrada por um cabo do exército americano, durante os conflitos da Segunda Guerra Mundial, na Nova Guiné. Após se certificar de que a cadelinha não teria dono, o homem logo decidiu que iria vende-la, foi então que o soldado, chamado Bill Wynne, de 22 anos, que viveu com animais de estimação, decidiu pagar o preço exigido pela cachorrinha, passando a cuidar da nova amiga.
Durante os conflitos, vários aviões japoneses atacavam o campo de aviação aliado, no Golfo de Lingayen, em Luzon. O ataque estava afetando as comunicações e os comandantes americanos precisavam urgentemente passar linhas telefônicas por um tubo que se estendia por cerca de 21 metros de profundidade, ligando a base até três esquadrões separados, no entanto, não haviam equipamentos adequados.
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O tubo tinha apenas 20 centímetros de diâmetro, e a única forma de colocar os cabos no lugar seria fazê-lo manualmente, com isso, centenas de homens se colocariam em risco cavando trincheiras para colocar os fios no subsolo, o que os deixaria expostos aos ataques inimigos. Foi então que todas as esperanças daqueles homens foram depositadas em uma pequena cachorrinha. Bill Wynne se posicionou na outra extremidade, para encorajar que Smoky atravessasse por todo o caminho, com um fio que levava o cabo de comunicação preso à coleira.
Smoky conseguiu completar sua missão, sendo responsável por salvar cerca de 250 homens e 40 aviões naquele dia. Contudo, as façanhas da pequena Yorkshire não pararam por aí. Algum tempo depois, Bill Wynne pegou dengue e foi enviado para a 233ª Estação Hospitalar, onde ficou internado. Alguns dias depois, os amigos de exército levaram Smoky para vê-lo, as enfermeiras se encantaram com a cachorrinha e pediram para leva-la para visitar outros pacientes feridos na invasão da Ilha Biak.
Smoky passou cinco dias no hospital, onde dormia com seu tutor, Wynne, durante à noite e visitava outros pacientes durante o dia, se tornando assim um dos primeiros cães de terapia da história.
Smoky faleceu alguns anos depois, aos 14 anos, e, em 2005, uma escultura em sua homenagem foi feita, sendo instalada no mesmo local em que foi enterrada. Bill Wynny veio a falecer em abril de 2021, aos 99 anos. A história da dupla é contada no “Yorkie Doodle Dandy: A Memoir”, livro de autoria do próprio Wynny.
Judy, a prisioneira de guerra
Uma Pointer inglês, nascida na China, foi adotada pela tripulação de um navio da Marinha Real Britânica, em 1942. Época em que os navios adotavam animais, como cães e gatos, para ajudar na segurança dos navios e no controle de pragas.
Contudo, Judy logo se tornou mascote da tripulação, sendo tratada como um dos marinheiros, chegando a cair no mar em uma ocasião. O apreço pela cadelinha era tanto, que seu acidente foi registrado como “homem ao mar”.
Tudo ia bem, até que o navio fora atacado pelo exército japonês e sua cerca de 50 homens sobreviveram ao ataque, ficando perdidos em uma ilha do Mar da China Meridional. Com a ajuda de Judy, os marinheiros conseguiram encontrar água potável. Contudo, algum tempo depois, foram encontrados pelo exército japonês e levados até um campo de prisioneiros, localizado na Indonésia, e lá estava Judy.
Já no campo de prisioneiros, a cadelinha conheceu o aviador Frank Williams, que passou a alimentá-la. Todos os prisioneiros a tratavam muito bem, mas Frank temia que ela sofresse maus-tratos por parte dos soldados japoneses e, com um acordo, ele conseguiu que Judy fosse registrada como mais uma das prisioneiras, assim podendo receber a mesma proteção que os demais internos.
Algum tempo depois, os prisioneiros seriam transferidos para outro campo, em Singapura, mas, novamente, o navio em que estavam foi atacado. Frank Williams foi resgatado pelos japoneses e levado para o campo, contudo ele conseguiu salvar Judy, a jogando no mar. A cadela escapou, junto a outros prisioneiros. Judy ajudou que os homens conseguissem encontrar o caminho de volta à terra firme, onde ela reencontrou seu tutor.
Em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial, os prisioneiros foram libertados e seriam levados de volta para casa. Frank Williams precisou contar com a ajuda de alguns amigos para distrair os guardas e conseguir embarcar a amiga de quatro patas, já que o navio não aceitava animais a bordo.
Já em terras britânicas, Judy foi reconhecida como heroína de guerra e condecorada em 1946, com a Medalha Dickin, condecoração britânica especial para animais que serviram na guerra. Judy e Frank viveram uma vida pacata até 1950, quando Judy precisou ser sacrificada, aos 13 anos, devido a um tumor. A história de Judy foi contada em um livro, de Damien Lewis, lançado em 2017.