Quer entender o motivo dos pets fazerem cara de culpado? Imagine a cena: você chega em casa, uma mão segura uma bolsa pesada, na outra estão posicionadas diversas sacolas de compras. O celular está tocando e você não consegue encontrar a bendita chave para abrir a porta. Aula de malabarismo. Até que, finalmente e com muito esforço, consegue, mas onde está seu cão que não veio te lambuzar de baba?
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Sua percepção, então, fica mais aguçada. Ao longe, enxerga que alguns pedaços de papel higienico estão espalhados pelo corredor, pelo sofá, pelo tapete e no piso da cozinha. Mentalmente reza para que não estejam sujos, para que desta vez ele tenha pego o rolo limpo. Centraliza toda a sua força na corda vocal e chama o nome do pet. Ele vem até você com o semblante mais culpado - e lavado.
Sem nem ao menos perceber, você assumiu uma expressão brava, e um tom de voz ameaçador e é daí que surge a reação culpada dos cães.
Chegamos ao ponto chave! Toda a encenação do cãozinho: orelhas baixas, corpinho curvado, rabo entre as pernas e olhinhos brilhantes tristonhos, não estão ali por um ápice de remorso, mas sim por saber que essa postura vai, aos poucos, acalmar sua conduta nervosa e até minimizar as broncas e o tom de voz alto. Ele se sente ameaçado com base na sua reação e por isso age dessa maneira.
Dois estudos, um liderado por Alexandra Horowitz, cientista que estuda a cognição do cão e autora de vários livros, e outro por Julie Hecht, pesquisadora de comportamento animal e escritora de ciência, descobriram que quando um cachorrinho é colocado, ou provoca uma situação em que o tutor está bravo e irritado, ele pode apresentar uma postura de culpado, independente se fez o que não devia ou não.
Para comprovar isso os dois estudos pediram aos tutores que ordenassem que o cão não comesse os petiscos que ali estavam. Após a ordem, os donos saiam da sala. Independente do verdadeiro desfecho (se comeram ou não), para alguns foi informado que seu cãozinho havia cumprido seu comando e para outros tutores que ele havia comido os petiscos.
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Percebeu-se, então, que os cães mostravam-se culpados se os donos assumiam uma postura nervosa, tom de voz alto ou braveza, mesmo os que não haviam comido os petiscos. Concluiu-se que a carinha de culpado não estava atrelada à arrependimento, muito menos à ciência de que haviam feito algo errado, mas se dava, exclusivamente, pelo fato de serem reepreendidos por seu dono.
Por serem tão próximos a nós, criamos a falsa ilusão de que essa postura de culpa -tão parecida com a nossa vergonha de quando estamos arrependidos- demonstra, de alguma maneira, ciência dos atos ou redenção. Os cachorrinhos não conseguem racionalizar um evento assim como nós e saber disso é importante para o convívio com o animal.
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Portanto, não compare a postura de culpado com a efetividade de um ensinamento. Não é porque ele fez um olhar de culpa, que entendeu que aquilo é errado. A melhor maneira de ensiná-lo é recompensando as atividades corretas com petisquinhos, por exemplo, e sendo firme quando ele fizer algo fora do combinado. A melhor maneira de adestrá-lo é conhecê-lo!