Olá, amigos do Canal do Pet, tudo bem?
A realidade de muitos abrigos de cães abandonados é a mesma: lotação esgotada. Eles aguardam uma oportunidade de ter um novo lar, às vezes, por anos a fio. O abandono de animais no Brasil ainda se encontra em um nível crítico e, muitas vezes, é desencadeado por problemas comportamentais que o animal apresenta ao longo da vida, ou por uma compra por impulso. Hoje eu quero contar um pouco para vocês de uma recente experiência com o treino de cachorros em um abrigo, eles apresentavam um quadro de agressividade muito grave.
Isso estava acontecendo por conta do número elevado de animais nos abrigos, o que fez com que a agressividade entre eles e em relação aos tratadores se tornasse uma situação comum. Esse comportamento é tão frequente e grave que acaba atrapalhando a realização de atividades simples do dia a dia, como a limpeza dos canis, a troca de água e a alimentação.
Eu e a minha equipe da Cão Cidadão estivemos na ONG Clube dos Vira-Latas, que fica em Ribeirão Pires, São Paulo, /SP, para a gravação de um dos programas que apresento na TV. Atualmente, eles estão com 600 animais e três deles estavam dando um baita trabalho.
O Pirulito, por exemplo, é cadeirante e não passeava ou recebia carinho porque não deixava ninguém chegar perto sem avançar. Já o Chris não permitia que a limpeza do canil fosse feita, enquanto a Pastora se mostrava muito possessiva com a ração e atacava quando alguém a encarava. Foi um trabalho intenso, que durou meses, de reeducação dos animais e orientação aos tratadores da ONG.
Agressividade tem cura?
Antes de qualquer coisa, é preciso saber que a agressividade pode ser motivada por diversos fatores e precisamos identificar o que está sendo o gatilho do comportamento, para realizar o treinamento mais adequado ao caso concreto.
Um cão pode se tornar agressivo por não ter limites, – o que chamamos de agressividade por dominância. O medo também pode desencadear um comportamento desse tipo, pois o cão ataca para se defender. A possessividade por comida, objetos ou mesmo por uma pessoa é outra razão que pode levar o cão a ter atitudes do tipo. Aliás, esse é o tipo mais comum em abrigos, em razão da competição pelos recursos disponíveis.
O trabalho de um especialista em comportamento animal pode ajudar, e muito, a tornar o convívio entre os animais e os tratadores desses locais mais harmonioso. Um estudo científico já demonstrou que treinos de adestramento efetuados dentro dos abrigos aumentam as chances de adoção. Outro sugeriu que um contato mais próximo com humanos diminui o estresse de cães abrigados.
Em situações como as contadas acima, é preciso garantir, sempre e em primeiro lugar, a segurança. Outro ponto é não permitir que haja qualquer tipo de violência contra os animais, pois essa atitude só vai piorar o quadro. Casos como esses exigem paciência, amor e carinho, além de técnica para que o animal sinta novamente confiança e segurança nas pessoas ao redor.
O resultado que tivemos na ONG Clube dos Vira-Latas foi ótimo. Os cães estão muito melhor agora, sendo possível uma convivência mais tranquila. Ou seja, é possível, sim, ao menos manter um maior controle e uma convivência saudável com cães com histórico de agressividade. E o que me deixou muito feliz foi saber que, nesse caso, os tratadores da ONG estão aplicando os conhecimentos que adquiriram durante o período em que estivemos lá com os outros cães. Ou seja, nosso trabalho terá reflexos na vida de outros animais.
Um abraço,
Alexandre Rossi.