
Para muitas pessoas, a morte de um bicho não é apenas a perda de um animal de estimação — é a despedida de um membro da família, um companheiro de vida, um amigo fiel.
Em alguns casos, o luto é tão profundo que os tutores não conseguem sequer considerar a ideia de adotar outro pet. A simples possibilidade soa como uma traição, uma tentativa de substituir o que jamais será substituído.
Renata Silva, de 47 anos, perdeu recentemente Bob Roberto, seu companheiro de sete anos. Desde então, ainda vive o processo de luto, marcado por saudade, culpa e lembranças intensas.
"O momento foi um dos mais terríveis que já vivi", conta. "Ele era nosso companheiro em todos os momentos — e olha que foram muitos."
A ausência repentina virou a rotina de cabeça para baixo. “Desde o amanhecer até o anoitecer tínhamos nossos rituais. Eu abria a porta e lá estava ele, pulando de alegria. Saía para trabalhar e ele ficava me olhando. No almoço, me esperava. À tarde, aquela alegria de nos reencontrarmos... Como não afetar o emocional sem mais ter aquele ser que te espera como se dissesse: ‘estou aqui’? Saber que nunca mais vou vê-lo é devastador.”
Com a dor, surgem também dilemas difíceis de encarar — entre eles, a possibilidade de adotar outro animal. Para Renata, essa ideia ainda soa distante. “ Não, no momento não. Tenho a sensação de que estaria substituindo. Esse luto é só nosso. Mais pra frente, quem sabe. Mas agora, tudo o que eu queria era o Bob Roberto de volta.”

Ela também relata como algumas pessoas ao redor tentam apressar sua recuperação. “Uns entendem minha posição, outros não. Aconselham a arrumar outro logo, dizem que animaria a casa. Concordo que será uma alegria, mas neste momento... só queria ele de volta.”
A dor, segundo ela, ainda é constante. “Lembro dele o tempo todo, vejo fotos, vídeos, a casinha dele... Me pego lembrando da bundinha gordinha e linda dele, o olhar que ele me deu quando fiz minha mastectomia. Tive câncer de mama, e ele olhava pra mim como se dissesse: ‘estou aqui com você’. Isso me conforta. Vivemos momentos incríveis juntos.”
Apesar da dor, ela acredita que, no futuro, poderá abrir o coração novamente. “Com toda certeza. Agora é recente, mas todos nós precisamos de um animal dócil e companheiro. Se as pessoas soubessem o amor que eles têm por nós, jamais deixariam de adotar um cãozinho.”
A despedida carregada de saudade da Renata reflete um sentimento comum entre tutores que vivenciam o luto profundo pela perda de um pet. Essa sensação é mais comum do que se imagina.

A veterinária Graziella Lava, que acompanha de perto o vínculo entre tutores e animais, também vê esse processo como delicado — e necessário. Para ela, a forma como lidamos com a morte tem raízes profundas.
“ Algumas pessoas encaram a morte como parte do ciclo da vida. Outras têm mais dificuldade com perdas, e isso inclui a perda de um animal.”
Segundo ela, não se trata tanto de medo de substituição, mas da intensidade da dor: “É uma dor na alma para quem ama. Então, o coração fica abalado, a tristeza domina. Não dá vontade de ter outro logo em seguida. Mas eu não acho que seja medo de substituir e sim pelo próprio sofrimento."
A especialista costuma orientar seus clientes com palavras simples e acolhedoras:
“Vivam o luto. Isso dói, isso machuca, e precisa ser vivido. Com o tempo, a dor passa e vira saudade. E é nesse vaziozinho que fica no coração que você pode abrir espaço para amar de novo.”
E quando abrir novamente esse espaço para amar outro animal novamente, também é necessário fazer escolhas conscientes no momento de uma nova adoção.
“Se for da mesma raça, escolha uma cor diferente. Porque a semelhança pode reforçar a ausência, e a expectativa de que o novo pet tenha os mesmos comportamentos pode gerar frustração”, finaliza.
