Darley e Clarck
Instagram/@darleyoliveira_
Darley e Clarck

Na última quarta-feira (24), foi comemorado o Dia Internacional do Cão Guia , data que visa trazer maior visibilidade e conscientização para os animais que desempenham essa função. A data é sempre comemorada na última quarta-feira do mês de abril. Entretanto, neste ano, o dia foi ainda mais festejado em uma casa na região metropolitana de São Paulo. Para Darley Oliveira, o dia 24 de abril é conhecido como o aniversário da Clark, uma  Golden Retriever que é seu cão guia.

O comerciante farmacêutico, de 29 anos, compartilha com seus mais de 240 mil seguidores no Instagram a rotina com a parceira de caminhada, sendo considerado “o maior  tiktoker cego do Brasil”. No TikTok, inclusive, Darley soma mais de 328 mil seguidores e quase 7 milhões de curtidas, fazendo jus ao título. 

O influenciador digital conversou com o Canal do Pet e explicou como foi o processo para adoção de Clark e o que o motivou a buscar um cão guia aos 23 anos.


A busca por um cão guia

Darley perdeu a visão quando tinha um ano, em decorrência de um câncer. Desde então, fazia o uso da bengala para se locomover. Entretanto, algo dentro dele sempre ansiava por ir em busca de um cão para estar ao seu lado. 

“Eu sempre quis ter um cão guia, desde quando eu era pequeno, porque sou apaixonado por bichos. Eu cresci na fazenda tendo muito contato com cavalos, bois, cachorros, galinhas e etc. Porém, eu tinha muito medo da separação, porque eles têm um tempo ‘útil de trabalho’”, explica o comerciante.

Entretanto, tudo mudou quando Darley conheceu um amigo que tinha um cão guia, ficando apaixonado no mesmo momento. A partir daí, procurou saber o que era preciso para conseguir um. 

Foi então que Darley descobriu que se tratava de um processo de  adoção extremamente concorrido, principalmente no Brasil. “Vale lembrar que você não paga para ter o cão guia. Geralmente eles são treinados por alguma escola ou instituição que doa o cão pra gente. Aqui no Brasil, há poucas escolas que treinam, então existe uma fila muito grande, porque tem todo um treinamento que demora e existem muitas pessoas nessa fila de espera”, explica.

Em suas buscas e depois de uma dica do seu amigo, Darley descobriu que algumas instituições em outros países abriam esporadicamente candidaturas para o Brasil, quando a demanda estava baixa. Assim, ele enfrentou um processo de cerca de 11 meses para conseguir conhecer quem viria a ser sua melhor amiga: Clark.

Match ideal

Darley e Clark
Instagram/@darleyoliveira_
Darley e Clark

No dia 6 de setembro de 2018, Darley viajou para Columbus, em Ohio, para iniciar um treinamento de 4 semanas com Clark. Ele descreve a experiência como um “match” instantâneo entre ele e sua Golden Retriever.

“Se o cachorro anda rápido, a pessoa que vai guiar também tem que andar rápido. Se o cachorro é agitado, naturalmente ele vai ter que ter uma pessoa agitada com ele. Então a escola busca fazer esse match entre os perfis dos cães e da pessoa cega”.

Sobre o treinamento, a presidente da Escola de Cães-Guias Helen Keller, Elis Busanello, explica que são seguidas as seguintes etapas: 

  • Dessensibilização, de 03 dias a 05 meses; 
  • Socialização na sequência, por 15 a 18 meses, é quando famílias voluntárias socializadoras, apresentam o mundo ao futuro cão-guia;
  • ⁠Exames e avaliações pré-treino;
  • ⁠Treinamento de 04 a 06 meses, para aqueles que são aprovados nos exames físicos e comportamentais 
  • Adaptação que é o período de 30 dias, quando o instrutor orienta a dupla, pessoa cega e cão guia.
  • Depois que o cão é entregue, continua o acompanhamento e suporte técnico para a dupla.

Darley fez o treinamento que, além de lhe ensinar os sinais que Clark estava passando, também mostrava como ele deveria cuidar da sua parceira, desde saber quando deve levá-la ao banheiro até como escovar o pelo. Quando chegou ao Brasil, ele afirma que foi natural, com ele confiando nela e ela nele. 

“Hoje, eu entendo pelos movimentos corporais da Clark o que ela quer me mostrar: se ela quer mostrar um obstáculo aéreo, um degrau, se ela viu alguém que ela gosta, eu consigo sentir no movimento corporal dela as mensagens que ela quer me passar, mas é um processo de maturidade”, explica o influencer.

Entretanto, ao chegar ao Brasil, ele afirma que algumas coisas acabaram sendo mais complicadas por questões culturais. Em um primeiro momento, toda a experiência que havia tido era em um lugar controlado, com instrutores a postos para ajudá-lo e em um país onde a presença de cães guias é um pouco maior. No Brasil, no entanto, ele afirma que além do alto número de cães na rua que distraiam Clark, as pessoas não sabiam que não se deve brincar com um cão em trabalho. 

Darley diz que os seis anos juntos fizeram com que Clark conseguisse se adaptar bem e hoje consiga fazer seu trabalho tranquilamente. Ele brinca que ela “é cria de Osasco”. “Ela gosta de baderna. Para ela, o legal da vida é guiar no metrô cheio, porque têm muitos desafios. Guiar em locais tranquilos, ela não gosta”, afirma.

A presidente da Escola de Cães-Guias afirma que algumas coisas acabam dificultando a disseminação maior de cães guias no Brasil: “ Os custos altos de equipe, infraestrutura, consultas, ração, medicamentos, etc; uma falta de conhecimento e empatia de pessoas que não cumprem a lei federal que garante o acesso dos cães guia em locais públicos; e a pouca adesão da sociedade para contribuir com projetos que visam a inclusão e qualidade de vida das pessoas cegas e outros PCDs, são alguns dos motivos”.

 ‘Eu escolheria a Clark mil vezes’

Darley e Clark
Instagram/@darleyoliveira_
Darley e Clark

Para o comerciante, a chegada de Clark em sua vida foi uma contribuição para sua independência e autonomia. “Eu confio nela e ela confia em mim. Então a gente vai junto para todos os lugares. Por exemplo, quando saio para ir ao trabalho. Eu faço todo caminho sozinho e assim, se eu não tivesse a Clark, seria um pouco mais complicado para fazer de bengala, mas claro que dá para se fazer de bengala. Mas com a Clark se torna mais fácil e mais seguro”.

Darley explica ainda como a presença de Clark auxiliou na questão social. “Costumo brincar quando a galera te vê de bengala, acha que você está com um Fusquinha. Mas com o cão guia, você tá de Ferrari. Todo mundo quer saber como funciona. Todo mundo acha bonito e isso ajuda a quebrar os paradigmas quando se fala de pessoas com deficiência visual”, explica.

Há cerca de um ano, ele começou a compartilhar suas experiências com Clark no TikTok, lhe rendendo o primeiro milhão de visualizações em 15 dias. “Eu não esperava a repercussão que a gente tem e o carinho que as pessoas nos trazem. A galera nos reconhece na rua e eu fico super feliz, porque o pessoal nos reconhece e se comporta super bem, sabe que não pode fazer carinho quando ela está me guiando”, afirma Darley que identifica seu conteúdo como algo didático.

Além disso, ele se vê como inspiração para as pessoas cegas e com deficiência visual, sendo a referência que não teve quando pequeno. 

“Ter um cão guia é uma escolha. Às vezes vai te gerar desconforto, às vezes vai te causar percalços e faz parte da vida. Mas eu escolheria a Clark mil vezes. Fico triste porque sei que não é algo para todo mundo ainda. A gente tem poucos cães guias em atividade no Brasil por diversos fatores. Mas tento trazer conteúdo e informação para que cada vez mais a gente tenha mais pessoas usuárias de cães guias e para cada vez mais a gente ter o nosso direito respeitado”, finaliza o influencer.

Acompanhe o Canal do Pet também nas redes sociais: InstagramX (Twitter) e Facebook .


Quer ficar por dentro das principais notícias do dia?  Clique aqui e faça parte do nosso canal no WhatsApp


    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!