Freya é uma cadela de quatro anos e deu à luz a quatro filhotes há cerca de seis meses, em Leiria, Portugal. Em fevereiro, a família foi abandonada na porta do Canil Municipal de Ansião e desde então, passaram a cuidar deles.
“Estavam em mau estado, muito sujos e com parasitas”, conta à PiT Sara Batista, voluntária da Pêlo da Venta, uma associação de proteção animal em Ansião, Portugal. Freya tinha uma “coleira velha” com restos de corrente agarrado, o que indicava que chegou a ter uma família — embora vivesse acorrentada. No entanto, os filhos “estavam todos bastante receosos como se nunca tivessem tido contato com pessoas”.
A mamãe chamou atenção dos voluntários que logo perceberam que tinha um comportamento incomum. “Havia ali alguma coisa para além do medo que é algo que já vimos em tantos animais”, afirma.
Com o tempo, acabaram descobrindo que Freya era cega e também sofria de um abcesso junto ao ânus, um deslocamento da retina e glaucoma em ambos os olhos. “Isto para além da cegueira causava-lhe muita dor”, diz.
A cadela foi avaliada por um médico veterinário que descobriu que a cegueira era irreversível e os problemas nos olhos corriam o risco de se evoluírem para um cancro. Como resultado, foi aconselhado que ela tivesse os olhos retirados para evitar problemas futuros. Na época, a associação foi vítima de críticas e difamação, mas os voluntários que diariamente estavam com Freya logo perceberam que fizeram o melhor por ela.
“Acabou por ser a opção certa e notamos logo que ela ficou mais confortável”, contou. “Antes, ela passava imenso tempo imóvel com a cabeça encostada à parede e deixou de fazer isso”, acrescentou.
Por outro lado, enquanto a mamãe passava por tratamentos, três dos seus filhotes foram rapidamente adotados. Porém, Ragnar ficou ao lado da sua mãe. “Decidimos mantê-lo com ela para a ajudar a ser mais confiante e facilitar a adaptação numa nova casa”, explicou Sara.
Embora ainda esteja aprendendo a confiar nas pessoas, Freya encontrou um refúgio em Ragnar, que é os olhos da mãe e uma das suas alegrias diárias. E o contrário também acontece. A cria assumiu naturalmente o papel de “cuidador” e está sempre ao lado da progenitora, encontrando toda a segurança e amor que lhe é oferecida em troca.
Freya está gradualmente aprendendo a viver livre e feliz. Ainda assim, precisa de cuidados extras. “Ela aparenta ter tido uma vida sem estímulos e com pouco contato com pessoas”, completa Sara. “Vivia acorrentada e achamos que uma má socialização, pouca estimulação juntando as dores e a cegueira fez com que ela se isolasse num mundo só seu”, enfatiza.
Freya e Ragnar, porém, estão em busca de uma “superfamília” que esteja disposta a dar o seu tempo, amor e paciência para ajudar na adaptação da dupla.
“A Freya é uma cadela que não procura as pessoas, reage pouco ao contato físico, não pede festas. Mas se estiver dentro de algum lugar, também não foge propriamente”, explica a voluntária, acrescentando que no exterior, a cadela tem mais medo e “corre para dentro” quando vê desconhecidos se aproximando.
Sara, que está acolhendo a dupla em casa, pontua que só agora, três meses após o seu resgate, Freya ganhou a confiança de passar tempo um tempo na rua. Antes, a patuda só saía para “breves passeios”. Mas apesar de tudo, não deixou o trauma tirar-lhe a alegria. “Ela é feliz, terna e doce, à sua maneira”, frisa.
Acostumada a viver no seu próprio mundo, a mamãe procura alguém que a ajude a expandi-lo ao lado do seu filhote. Freya continua a tratar o abcesso no ânus, mas já está disponível para conhecer os futuros tutores.
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