Cachorro no veterinário
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Cachorro no veterinário

Se por um lado a crise do coronavírus aumentou o número de animais de companhia nos lares brasileiros, por outro, o cuidado com a saúde dos animais e o poder de compra dos tutores diminuiu, revela a pesquisa Radar Vet 2022, publicada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). 

Dentre os 732 veterinários de cães e gatos entrevistados, quando questionados sobre as mudanças negativas e positivas no comportamento do consumidor durante a pandemia, foram destacados mais comportamentos negativos (62%) do que positivos (45%). Destacam-se 37% que observaram um orçamento limitado dos cuidadores. Ainda, 23% identificaram uma diminuição no número de consultas e internações e 11% uma queda nos cuidados com os animais de modo geral.

“Comparando esse dado com o Radar Pet 2021, pesquisa realizada com os tutores, os respondentes indicaram uma atenção maior com a saúde dos animais de companhia no primeiro ano da pandemia, mas podemos afirmar que esse comportamento não foi percebido pelo veterinário”, analisa Andréa Castro, coordenadora da Comac.

Houve uma grande divergência entre os respondentes quanto à demanda por atendimento nos último 12 meses. Em todas as especialidades, não há consenso sobre o nível de demanda. As especialidades que apresentaram maior índice de redução no crescimento foram a cardiologia e a endocrinologia. A modalidade que mais cresceu foi a fisioterapia.

Por este motivo, o Canal do Pet resolveu falar com alguns veterinários e tutores neste dia, que é comemorado o Dia do Veterinário, para tentar entender melhor como a saúde do pet e a pandemia afetaram suas vidas.

A médica veterinária Claudia Galli, 52, especializada em clínica e cirurgia geral, medicina integrativa, ayurveda, ozonioterapia e saúde pública, conta que durante a pandemia houve aumento de atendimentos. “Não posso dizer que fui afetada pela pandemia, mas o poder econômico realmente baixou”.

Na clínica em que atua, localizada no condomínio Villa São Francisco, em São Paulo, o primeiro condomínio veterinário do Brasil com uma estrutura hospitalar. “No nosso caso, estamos trabalhando com a mesma demanda, embora saiba que o movimento caiu em outros lugares”, adiciona Galli que atende pessoas de diversas camadas sociais.

"Não julgo que baixando meus valores atinja um maior público, mesmo porque existem profissionais e público para todo tipo de custo e benefício. Depende realmente do que as pessoas buscam”, enfatiza.

Embora Claudia não tenha sentido diferenças enquanto veterinária, a estudante Ayumi Sato, de 22 anos, tutora de uma gata, percebeu sim. Principalmente pela questão financeira. Isso porque, sua gata Ada, de dois anos, foi  diagnosticada com o vírus da FeLV.

“Tentávamos levar ela ao veterinário apenas uma ou duas vezes ao ano, pegamos ela pouco antes de ter o surto da Covid-19, porém em junho descobrimos a doença e ela estava com dois linfomas. Foi neste momento que começamos o protocolo CHOP de quimioterapia”.

Ela e seu marido dividem as despesas médicas, mas mesmo assim continua difícil, devido ao preço e idas mais recorrentes ao veterinário, o que não ocorria antes da pandemia. "Usei reservas de emergência para pagar o tratamento, mas, em geral, as consultas são pagas por meio de seguro pet. Apesar disso, há outros gastos”.

“Considerando que ela passa com a oncologista, só a quimioterapia é R$ 200, sem contar o quimioterápico e os medicamentos do dia a dia. Todavia, o trabalho remoto permite ter mais cuidados com ela, especialmente quando ela estava com sonda para alimentação. O custo de vida está maior e pagar por remédios e complementares médicos, como seringa, gaze e esparadrapo, se torna um ‘peso’ a mais no orçamento”.

Ayumi tenta lidar com os outros gastos comprando os acessórios hospitalares em lojas de artigos médicos para conseguir melhores preços. “Comprar alguns itens pela internet e em grande volume ajuda”, pontua.

“Antes da FeLV, pulei algumas consultas periódicas e posterguei exames. Mas quando precisei escolher entre a vida da minha gata e uma reserva de emergência, não pensei duas vezes. Muitos conhecidos e familiares deixaram de levar seus pets por causa do aumento do preço das contas”.

Assim como Ayumi, a estudante Letícia dos Anjos, de 22 anos, também posterga algumas consultas médicas de seu cachorro Luke, de seis anos. Ela opta por consultas anuais, sendo uma consulta de rotina mais as vacinas.

Ela conta que só faz anualmente porque acha caro a consulta para seu orçamento. “Gasto R$ 300 em uma consulta, mas, mesmo assim, as consultas anuais continuam, mesmo que atualmente seja um pouco difícil financeiramente”.

Nos anos de pandemia, a jovem diz que não levou seu cachorro ao veterinário por causa do isolamento, mas percebeu que houve um aumento dos preços das vacinas e das consultas após a flexibilização do isolamento.

“No mês de novembro, quando tenho que levar ele ao veterinário, eu não gasto mais com nada além disso, porque sei que será um gasto grande. Mesmo assim, nunca ponderei parar de levar ele ao médico, porque, infelizmente, já acho irresponsável levar ele apenas uma vez ao ano, mas é o que eu consigo financeiramente”.

“Conheço pessoas que também sofrem com os gastos veterinários e discutem isso comigo, mas nunca conheci ninguém que parou de levar seu animal”, completa.

As falas das estudantes enfatizam a pesquisa Radar Pet realizada em 2021, em que evidenciou que não houve diminuição com os cuidados de saúde dos pets por parte dos tutores. 

“No começo da pandemia teve um boom de atendimento, houve muita vacina, muita adoção. Isso devido várias pessoas, por estarem realizando home office, se sentirem sozinhas e acabavam adotando ou adquirindo um pet. Por isso teve um crescimento muito grande de atendimento. Agora, eu sinto que estamos sentindo um impacto financeiro da pandemia. E aí, tem caído alguns atendimentos na clínica. Por isso decidi atender em domicílio”, argumenta o médico veterinário Victor Vilar, de 31 anos, clínico geral e pós-graduando em Medicina de Felinos.

“O público que eu atendo é a classe média e classe média alta. Eles não fazem muitas consultas mensais, mas estão sempre vacinando e realizando consultas em datas alternadas”.

“As pessoas culturalmente não vacinam seus animais, que é uma vacina de R$ 90, por exemplo. As pessoas não fazem isso. E aí, quando o cachorrinho pega uma doença, a pessoa tem que gastar horrores. É por isso que sempre tento conscientizar meus clientes da importância de uma vacina e de uma consulta. Nunca precisei abaixar meu valor de consulta, nem quando atendia em estabelecimento e nem em domicílio”, adiciona o profissional.

Victor enfatiza que, no geral, todos os lugares estão bem parados e também por isso saiu de seu consultório físico. “Estou atendendo em domicílio porque os clientes estão preferindo também que eu vá à casa deles porque já se adaptaram a fazer tudo em casa: trabalhar de casa, pedir comida para entregar em casa. Eles preferem que o veterinário também vá até às suas casas”, conclui Vilar. 

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** Julio Cesar Ferreira é estudante de Jornalismo na PUC-SP. Venceu o 13.º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão com a pauta “Brasil sob a fumaça da desinformação”. Em seus interesses estão Diretos Humanos, Cultura, Moda, Política, Cultura Pop e Entretenimento. Enquanto estagiário no iG, já passou pelas editorias de Último Segundo/Saúde, Delas/Receitas, e atualmente está em Queer/Pet/Turismo.

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