O termo "zoonoses" é usado para caracterizar doenças originárias de animais e que podem ser transmitidas para seres humanos (ou o contrário). Geralmente essa transmissão é feita por meio de bactérias, fungos, vermes ou vírus. Algumas zoonoses foram responsáveis pelas maiores epidemias do mundo, como a peste negra, e são um constante problema de saúde pública. 

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Devido sua facilidade de transmissão e o perigo que tais doenças representam, centros de controle de zoonoses cresceram no mundo todo, tendo como objetivo monitorar as infecções e tomar medidas de tratamento. Entretanto, as pessoas ainda precisam tomar cuidados básicos e, acima de tudo, conhecer as doenças para evitar a sua transmissão. 

Botulismo

Também conhecida como "doença da vaca caída", o botulismo se alastra facilmente em rebanhos bovinos. Esse fato torna a infecção uma doença "econômico-sanitária", por conta do  potencial que uma epidemia teria em degradar a economia de um país.

A infecção é causada pela ingestão de uma toxina oriunda da bactéria Clostridium botulinum, que se desenvolve na carcaça de plantas e animais e decomposição. Tais toxinas entram em contato com o solo e água e acabam passando para o sistema gastrointestinal dos animais que as ingerirem, facilitando assim o alastramento.

Nos humanos a doença chega pela ingestão de carne infectada e mal preparada ou por meio de ferimentos. Os sintomas costumam incluir visão turva, sensação de cansaço, dificuldade para falar, fraqueza dos braços, dos músculos do peito e pernas.

Antraz (ou Carbúnculo)

A bactéria que causa o Antraz pode ser encontrada facilmente na natureza, sendo animais herbívoros (tanto selvagens quanto domésticos) mais suscetíveis a elas.

A transmissão para seres humanos se dá por meio do contato com objetos ou animais contaminados, que são geralmente vacas, cabras e ovelhas. Dependendo do método de contaminação  (pelo contato com a pele, ingestão de carne infectada ou respiração) a doença pode se manifestar de três formas:

Antraz cutâneo:  se a infecção tenha começado pelo contato com a pele, são formados caroços e bolhas vermelho-acastanhadas que podem estourar causando  úlceras escuras e dolorosas acompanhadas de inchaço. Outros sintomas são dores musculares, dor de cabeça, febre, enjoo e vômito.

Antraz pulmonar: quando a bactéria chega aos pulmões por meio da respiração ela causa o equivalente a um resfriado comum. Entretanto, conforme a doença se espalha no órgão e atinge as correntes sanguíneas o quadro pode evoluir para febre grave, dificuldade respiratória e coma

Antraz gastrointestinal: caso a bactéria seja ingerida as toxinas causam uma inflamação aguda nos intestinos, provocando sangramento, diarréia, vômitos, dor abdominal e febre.

Em todos os casos a bactéria pode chegar ao cérebro após atingir a circulação sanguínea, causando infecções e meningites que quase sempre são fatais.

Dengue

O mosquito Aedes aegypti é responsável pela transmissão de uma série de zoonoses.
Reprodução/ Flickr
O mosquito Aedes aegypti é responsável pela transmissão de uma série de zoonoses.


Comum no Brasil e em outros países tropicais, a dengue é transmitida por várias espécies de mosquito do gênero Aedes, principalmente o Aedes aegypti. Ela atinge tanto humanos quanto outros primatas e, apesar de não possuir vacinas disponíveis no mercado, o tratamento é possível por meio de reidratação e transfusão de sangue.

Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores musculares e articulares e manchas na pele similares às causadas pelo sarampo.

Febre Tifóide

A febre tifóide pode ser transmitida por através de água e alimentos contaminados, além do contato direto com fluídos de pessoas infectadas, podendo levar a morte.  Hoje em dia casos da doença são raros nos grandes centros urbanos, tornando a epidemia comum apenas em áreas com péssimo saneamento básico.

Os principais sintomas são diarreia, vômito e inchaço abdominal; levando o hospedeiro a sofrer uma série desidratação - que muitas vezes é a causa da morte. O tratamento se dá pela ministração de antibióticos e a reidratação do paciente.

Leishmaniose

Transmitida principalmente por insetos, a Leishmaniose pode afetar até mesmo animais domésticos! No Brasil a doença afeta principalmente cachorros, raposas e alguns animais silvestres.

Existem duas manifestações do protozoário:

Leishmaniose visceral: afeta os órgãos internos, geralmente baço, fígado e medula óssea. Algumas pessoas não apresentam sintomas, já outras podem ter febre, perda de peso e inchaço do baço ou fígado. Se não tratada pode levar à morte.

Leishmaniose tegumentar: causa feridas pequenas na pele, com fundo granuloso e purulento e bordas avermelhadas que vão aumentando de tamanho e demoram para cicatrizar. Esses sintomas podem vir acompanhados de febre, calafrios e mal-estar.

Malária

A falta de saneamento básico contribui para o alastramento de zoonoses como a malária.
Reprodução/ Wikimedia
A falta de saneamento básico contribui para o alastramento de zoonoses como a malária.


A Malária ainda é uma doença muito comum em países pobres da faixa tropical. O motivo para isso é a falta de saneamento básico e o calor dessas regiões; dois fatores que possibilitam que os mosquitos que transmitem a doença se alastrem.

O quanto mais cedo a enfermidade for diagnosticada, melhor as chances de recuperação do paciente. Isso se dá por conta que, conforme o tempo passa, ela se alastra para os órgãos vitais e até mesmo o cérebro do hospedeiro. Dentre o muitos sintomas da doença é possível encontrar dor de cabeça, febres, tremedeiras, náuseas e vômito, suor intenso, diarreia, dor abdominal, falta de apetite, tontura, calafrios e ataques de tremedeira e fadiga.

Raiva

Transmitida pela saliva, a raiva é uma das zoonoses que afetam mamíferos homeotérmicos (ou de "de sangue quente") e uma das principais preocupações daqueles que têm animais domésticos . Por ser fatal em praticamente todos os casos, essa infecção gera grandes gastos para os órgãos de saúde pública.

Os sintomas da doença incluem confusão mental, desorientação, agressividade, alucinações,  paralisia, espasmos musculares e salivação excessiva. Em seu estágio final, quando o vírus se aloja no cérebro, o hospedeiro desenvolve um quadro de encefalite (inflamação do encéfalo).

Doença de Chagas

Comum em países tropicais, a doença de chagas é transmitida por um parasita encontrado nas fezes do inseto barbeiro. A doença pode ser leve, causando inchaço e febre; ou pode ser mais grave e se estender por muito tempo. Caso não seja tratada, o quadro pode evoluir, causando insuficiência cardíaca.

Ela pode ser transmitida pela forma oral, pela ingestão de alimentos contaminados, da mãe para o filho (caso a doença se manifeste durante a gravidez), transfusões de sangue e transplante de órgãos.

Febre amarela

A febre amarela atinge primatas em geral - tanto homens como macacos. O seu transmissor é o mosquito Aedes aegypti, responsável por muitas outras doenças, como a malária e dengue.

No início a doença causa febre, tonturas, fortes dores pelo corpo, vômitos alimentares biliosos e hemorragia pelo nariz. Após esse estágio a febre pode passar, causando a impressão de cura. Porém logo em seguida a febre volta novamente, apresentando pele amarelada, hemorragias cutâneas e vômitos negros. Já existem vacinas para a doença e o tratamento consiste em repouso absoluto e alimentação exclusivamente líquida, além da hidratação do enfermo por meio da aplicação de soros.

Leptospirose

A urina do rato transmite a leptospirose, uma das zoonoses mais presentes em ambientes urbanos.
Reprodução/ Shutterstock
A urina do rato transmite a leptospirose, uma das zoonoses mais presentes em ambientes urbanos.


A principal forma de transmissão da  leptospirose é a urina de rato, fato que contribui para o seu alastramento pelo ambiente urbano - principalmente em regiões com saneamento básico precário.

Apenas 10% dos casos tem consequências graves. Febre alta, dor de cabeça, sangramento, dor muscular, calafrios, olhos vermelhos e vômitos são alguns sintomas. Não existe um tratamento específico para a doença, entretanto antibióticos podem ser usados para combater a infecção.

Peste Bubônica

A peste bubônica é reponsável por uma das piores epidemias que já existiram, causando em 1347 a dizimação de cerca de 1/3 da população europeia. Ela é transmitida ao homem pela pulga do rato preto. Apesar de ser uma doença extremamente controlada hoje em dia, ainda são registrados cerca de 2 mil casos por ano em todo o mundo.

Os sintomas podem incluir calafrios, mal estar, febre alta, dores musculares, inchaço, alteração da cor da pele para um tom rosado, convulsões, dificuldade respiratória, vômito de sangue e tosse.

As hemorragias causadas pela doença formam manchas escuras, de onde vem o nome no qual a doença ficou conhecida: Peste negra.

Febre de Chikungunya

Outra doença causada pelo mosquito Aedes aegypti, sendo que não é possível transmitir a enfermidade de pessoa para pessoa. O vírus foi reconhecido oficialmente em 1950, quando começou a se espalhar por diversas regiões da África. Pesquisadores constataram que a doença sofreu uma mutação em 2006, facilitando a sua transmissão e a possibilitando se espalhar pelos Estados Unidos e o sul da Europa.

Os primeiros casos no Brasil foram em 2014, sendo que em um mês quase mil pessoas foram infectadas. A doença se manifesta por meio de febre alta, mal estar, dores corporais, pequenos pontos vermelhos na pele, dor de cabeça, cansaço, diarreia, vômitos, conjuntivite, dor de garganta e dor abdominal. Não existe um remédio que atue diretamente no vírus, sendo que o seu tratamento consiste basicamente na reidratação do paciente e o controle das dores corporais.

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A grande maioria das zoonoses está sendo mantida sob controle pelas autoridades. Mesmo assim, é preciso tomar algumas medidas de precaução básicas, como preparar os alimentos corretamente e não manter água parada, evitando assim a proliferação de mosquitos.

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