
A forma como alguns cães exercem dominância sobre outros não depende de tamanho ou força física . O comportamento é inato e pode ser observado desde o nascimento, segundo o adestrador Fernando Lopes, que atua há 25 anos na área. Ele explica que a liderança canina surge ainda na amamentação, quando alguns filhotes já se destacam na disputa pelo espaço na ninhada .
Em entrevista ao Canal do Pet , o especialista conta que a postura e a energia são determinantes na hierarquia entre cães. Lopes afirma que, mesmo entre animais de porte pequeno, a liderança pode ser evidente e respeitada por outros integrantes da matilha.
“ Não existe, o cão já nasce com essa vocação, ele já começa na teta da mãe. O cão dominante normalmente acaba se tornando mais dominante na teta da mãe. Então ele já demonstra esse comportamento ”, afirmou.
O adestrador esclareceu que a dominância não pode ser estimulada por terceiros. Segundo ele, um animal submisso não se transforma em líder apenas pelo convívio.
Lopes reforçou que a liderança não se traduz em agressividade. O comportamento dominante é marcado por posturas específicas, como rabo erguido, orelhas em alerta e marcação de território por meio da urina . Esses sinais funcionam como forma de comunicação e organização do grupo.
“ Ele compõe-se da maneira postural. Então, ele vai para cima do cão, ele cheira o cão, ele passa a cabeça dele em cima do pescoço do outro cão já para submeter e ele consegue com isso mostrar para esse cão que está ali tendo um cão que é líder, tem liderança ”, explicou.

Energia e postura contam mais do que o porte físico
O especialista afirmou que a dominância não está ligada ao tamanho do animal.
“ Não, o tamanho não quer dizer nada. Eu já tive cães de porte pequeno que tive experiência com alguns, até um da raça maltês recentemente, que ele era dominante. E ele era um cão pequeno e no meio dos outros cães, os cães sentiam a energia ”, relatou.
Segundo Lopes, a liderança costuma ser exercida por machos, embora haja exceções com fêmeas. O fator determinante, no entanto, é a energia transmitida pelo cão, que influencia diretamente a forma como outros animais o reconhecem dentro do grupo.
O adestrador também afirmou que o domínio é permanente. Mesmo em idade avançada, cães líderes mantêm a posição, ainda que novos integrantes tentem desafiá-los. Ele citou como exemplo um cão sem raça definida que permaneceu líder da matilha até os 12 anos de vida.
“ Teve alguns que tentaram tomar a liderança dele, mas ele se postou e continuou sendo líder até o fim da vida dele. Esse caso é muito icônico que eu convivi junto aqui ”, contou.
Apesar disso, disputas pela liderança podem acontecer, especialmente quando animais jovens percebem fragilidade em um líder mais velho. Nesses casos, o tutor deve intervir para evitar brigas e ferimentos.
Disputas e equilíbrio na matilha
Fernando Lopes ainda explicou que, em algumas situações, é necessário apartar os cães e depois observá-los novamente.
“ Você tem que separar, interceder, se for o caso, tiver um começo de uma briga, soltar de novo e observar, ver o que vai acontecer ”, orientou.
Ele alertou que, quando um líder é desafiado, a própria matilha pode se unir contra o cão que tenta disputar a posição. Segundo o especialista, a figura do líder tem papel fundamental para manter a harmonia.
“ O cão dominante também é um equilibrador da matilha. Às vezes outros cães estão entrando em algum momento de confronto, normalmente ele entra no meio para separar isso, antes de acontecer uma agressividade ”, afirmou.
Lopes lembrou ainda que, em situações de risco, o cão dominante pode se impor fisicamente, colocando outro animal no chão ou sobre o ombro, mas sem recorrer a mordidas graves. O objetivo não é ferir, mas reforçar a hierarquia.
“ O intuito dele não é agredir, o intuito dele é pacificar e, ao mesmo tempo, entender que ali tem regras impostas por ele ”, destacou.
Liderança como fator de pacificação
O adestrador ressaltou que a autoridade não exige atitudes espalhafatosas. Muitas vezes, a energia e a postura são suficientes para que o cão dominante seja respeitado pelos demais.
“ O líder não precisa ser espalhafatoso, ele não precisa sair rosnando, latindo. É a postura e a energia que comandam a situação ”, disse.
Ele recordou que esse comportamento pode ser observado em diferentes contextos, inclusive em cães conhecidos do público.
“ Pode observar esse cachorro que as pessoas até deram um título para ele, o Fiapo de Manga. A primeira coisa que ele faz, ele vem correndo e já faz a postura, entendeu? Ele se estica para parecer maior, ele levanta, ele vem por cima do outro cachorro, ele abre os dentes, ele mostra o poder dele .”
Segundo Lopes, mesmo sem ser o mais forte fisicamente, o cão dominante consegue transmitir confiança e controlar a situação. O adestrador reforçou que esse papel ajuda a manter a ordem e evitar brigas dentro da matilha.
Para ele, entender esses sinais é essencial para que tutores identifiquem líderes naturais em grupos de cães e saibam como lidar com as interações.