Pote de petiscos sempre cheio, restos de comida oferecidos como “agrado” e poucos minutos de brincadeira ao longo do dia.
Parece inofensivo, mas esse combo tem contribuído diretamente para o aumento da obesidade entre cães e gatos, um problema que cresce silenciosamente e já atinge quase metade dos pets no Brasil.
“Ambientes sem rotina alimentar, com excesso de petiscos e pouca atividade física, além da escolha errada ou quantidade inadequada de alimento, favorecem a obesidade de forma silenciosa e progressiva”, alerta a veterinária Mayara Andrade.
O alerta surge em meio ao Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, comemorado neste sábado (11), e levanta uma reflexão importante: o estilo de vida dos tutores está moldando diretamente a saúde dos seus animais de estimação.
Ambiente obesogênico
O termo pode soar estranho, mas o conceito é simples. Um ambiente obesogênico é aquele que, mesmo sem intenção, estimula o ganho de peso por hábitos desregulados, falta de estímulo físico e recompensas alimentares em excesso. E isso vale tanto para humanos quanto para os pets que dividem o mesmo teto.
“A forma como a gente vive influencia diretamente a saúde do nosso pet. Se temos uma rotina sedentária e cheia de excessos, é comum que o animal entre no mesmo ritmo”, explica Mayara.
Segundo ela, muitos tutores demoram a reconhecer que o sobrepeso não é "fofura", mas sim um risco real à saúde.
A obesidade é considerada uma doença crônica e multifatorial. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por entidades veterinárias internacionais, a condição está associada a doenças articulares, respiratórias, cardiovasculares, metabólicas, além de câncer e diabetes tipo 2, especialmente nos gatos.
No Brasil, a situação é preocupante: dados do Banfield Pet Hospital revelam que o número de cães com sobrepeso ou obesidade cresceu 108% desde 2011.
Entre os gatos, o salto foi ainda maior: 114%. Em São Paulo, um estudo da USP aponta que mais de 40% dos cães da capital e da região metropolitana estão acima do peso ideal.
Como saber se seu pet está acima do peso?
Alguns sinais são sutis, outros nem tanto. “Respiração ofegante, dificuldade para subir escadas, desaparecimento da cintura e aumento do abdômen são sinais claros”, orienta Mayara.
A famosa “barriguinha” pode parecer inofensiva, mas é um indicativo de que algo não vai bem.
A recomendação é clara: check-ups regulares e avaliação profissional são indispensáveis. “Somente um médico-veterinário pode avaliar a condição corporal e indicar um plano alimentar e de atividade física adequado.”
A reeducação alimentar e física do pet depende de comprometimento coletivo.
“Não adianta um tutor seguir o plano e outro continuar oferecendo restos da mesa. A mudança precisa ser para todos”, reforça a veterinária.
Entre os principais cuidados, Mayara destaca:
- Estabelecer horários e quantidades fixas para a alimentação;
- Limitar petiscos a no máximo 10% das calorias diárias;
- Estimular o pet com brinquedos, passeios e atividades físicas;
- Enriquecer o ambiente, especialmente no caso dos gatos.
A escolha do alimento também deve ser feita com orientação profissional. Rações light são indicadas para pets com tendência ao ganho de peso, enquanto alimentos específicos para obesidade são formulados para auxiliar na perda de peso de forma segura e gradual.
“Pets com sobrepeso (até 30% acima do ideal) se beneficiam dos alimentos light. Já os obesos (mais de 30% acima) precisam de alimentos coadjuvantes, com restrições calóricas e formulação especial”, explica.
A perda de peso em pets não é imediata. Envolve ajuste de dieta, rotina de exercícios, visitas ao veterinário e, acima de tudo, consistência e paciência.
“O tratamento é gradual e exige acompanhamento contínuo. É fundamental que o tutor tenha uma comunicação clara com o veterinário”, finaliza Mayara.