Capivaras bebês protagonizam cena de carinho no Pantanal
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Capivaras bebês protagonizam cena de carinho no Pantanal

As capivaras ganharam a internet com vídeos fofos e comportamento tranquilo. Esses roedores gigantes têm virado sensação em redes sociais, especialmente em vídeos em que aparecem ao lado de humanos.

No entanto, especialistas alertam: apesar da aparência dócil, capivaras não são animais de estimação e o contato direto pode gerar riscos. A busca por fotos e interações próximas aumentou nos últimos anos, especialmente em áreas urbanas, onde os bichos estão cada vez mais presentes.

Em entrevista ao Canal do Pet, o professor  Vlamir José Rocha do Laboratório de Fauna da Universidade Federal de São Carlos   explicou por que esse comportamento representa um perigo — tanto para humanos quanto para os próprios animais. Segundo ele, o contato exagerado e a tentativa de domesticação passam uma ideia equivocada sobre a natureza das capivaras.

“Capivaras naturalmente são roedores pacíficos em relação a humanos nos diferentes ambientes que ocorrem desde que respeitado os limites”, explicou. “Em áreas alteradas por humanos, como os ambientes urbanos, elas tendem a ser mais tolerantes com a presença de pessoas, isto não significa serem dóceis.”

Já o pesquisador clínico associado da Fortrea, o biólogo Bruno Sampieri, explica que como os animais se moldam dependendo dos diferentes meios em que vivem, podemos encontrar "indivíduos nessas populações 'urbanizadas' de capivaras que apresentem um comportamento dócil, ou próximo do que se considera domesticado, não apresentando riscos imediatos ao contato com pessoas", mas que isso não que dizer que são "domesticáveis".

"É sempre importante lembrar que esses animais vivem num ambiente 'de transição' entre áreas preservadas, meio rural e áreas densamente urbanizadas, mas não são animais domesticáveis, pelo contrário, o contato direto com animais como a capivara podem gerar problemas legais, pois são animais nativos do Brasil e protegidos por leis federais", explica.

Rocha reforça que a fama de animal amigável é um mito impulsionado por redes sociais. “As redes sociais passam uma falsa impressão de que capivaras podem ser pets quando, na verdade, não são.”

Sampieri, por sua vez, explica: "Qualquer romantização de problemas sócio-ambientais sérios e que apresentam riscos deve ser desencorajada, pois aproxima questões relevantes e que merecem atenção a brincadeiras tolas ou sem importância. Resumindo, eu acho péssimo!"

Quando incomodadas, as capivaras emitem um “latido” e fogem para a água. No entanto, se não houver rota de fuga, podem morder em um ato de defesa. “Batem os dentes, salivam e algumas vezes eriçam os pelos. Isto significa ‘se afaste ou posso morder’", diz Rocha.

"As capivaras podem ser bastante agressivas, e os machos em fase reprodutiva e fêmeas com cria, além de serem de grande porte, possuem dentes de roedor bem grandes e ficam muito agressivas e protetivas nessas fases", afirma Sampieri.

Capivaras e carrapatos: o risco da febre maculosa

Sampieri explica que, assim como outros animais selvagens, as capivaras possuem um potencial de reservatório de doenças gigante: "Pense num rato, um pequeno roedor que se adaptou muito bem ao crescimento dos ambientes urbanizados ao redor do planeta, possui um potencial imenso como reservatório e/ou transmissor de doenças, como raiva e peste. Agora lembre-se que uma capivara é um roedor, ou seja, pegue esse potencial dos ratos e multiplique por...sei lá, 100x!". 

Com isso, surge a preocupação com a disseminação de doenças e parasitas, como a presença de carrapatos nas capivaras, especialmente os do tipo conhecido como carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa. Essa doença pode ser fatal se não diagnosticada rapidamente.

“A febre maculosa brasileira é muito recorrente no Brasil, principalmente na região sudeste, onde o principal transmissor é o carrapato-estrela do gênero Amblyomma ”, afirmou Rocha. Segundo ele, os sintomas se confundem com gripes e viroses, o que dificulta o diagnóstico.

Os especialistas explicam que os sintomas iniciais incluem febre, dor de cabeça intensa, vômitos, diarreia, dor muscular e manchas vermelhas na pele. Casos graves podem levar à paralisia, gangrena e até parada respiratória.

Apesar de servirem como hospedeiras de carrapatos, as capivaras não são as únicas. “Carrapatos também podem ser encontrados em antas, gambás, cavalos, cães e até gado bovino", afirma Rocha.

Capivaras
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Capivaras


Crescente da população de capivaras

Rocha aponta que o desequilíbrio ambiental favorece a proliferação das capivaras em áreas urbanas e rurais. A falta de predadores naturais, o cultivo de alimentos como cana-de-açúcar e a presença de açudes e gramíneas criam um habitat ideal para os roedores.

A adaptação aos centros urbanos ocorre principalmente pela abundância de comida, abrigo e ausência de predadores. “A presença de lagos urbanos e gramíneas nas margens oferecem abrigo, alimento e proteção", explica Rocha.

Apesar da aproximação crescente, o professor é enfático: não se deve tocar ou alimentar as capivaras. “Humanos não devem querer tocar nos animais, nem persegui-los. O animal pode se sentir ameaçado e se defender.”

O especialista alerta que atitudes como alimentar esses bichos favorecem o crescimento descontrolado da população e aumentam o risco de conflitos com humanos.

Rocha recomenda que a observação das capivaras seja feita à distância. “Respeitar o animal, não invadir o espaço, não alimentar e nem chegar perto com cães.”

Capivara fofíssima ama todos os animais em sua fazenda
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Capivara fofíssima ama todos os animais em sua fazenda


Capivaras domesticadas

Imagens de capivaras domesticadas vêm, em grande parte, de fora do Brasil e criam uma falsa ideia de que o animal pode ser criado em casa. “ No Brasil, é proibido ter capivaras como pet ”, destacou o Rocha.

Por outro lado, o especialista vê um aspecto positivo no fenômeno da “febre das capivaras”: a oportunidade de trazer informações corretas e ampliar o debate sobre questões ambientais.

“Se não fosse a repercussão do momento nas mídias sociais, não estaríamos conversando sobre os diversos assuntos relacionados às capivaras como aspectos sanitários, ambientais, importância ecológica, etc.

Rocha encerra o alerta lembrando que criar uma capivara em casa compromete o bem-estar do animal. “São animais que precisam de ambiente aquático, grande área de deslocamento, alimentação adequada e vida em grupo.”

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