
O lobo-terrível, espécie extinta há aproximadamente dez mil anos, voltou a ser tema de debate entre especialistas do ramo da biotecnologia após a Colossal Biosciences afirmar que teria usado técnicas de engenharia genética para um processo de desextinção que trouxe estes animais de volta à vida.
Rômulo, Remo e Khaleesi são os três lobos. Contudo, o trio seria semelhante ao lobo-terrível, mas não da mesma espécie, conforme explicam especialistas ao "Jornal da USP no Ar". Segundo eles, o material genético usado é em maior parte do Canis Lupus.
"A maioria da origem do material genético deles é do Canis lupus, e não desse lobo-terrível. Das amostras das quais eles estudaram, só conseguiram recuperar 0,1% da sequência do DNA”, comenta Marcelo Goissis, docente do Departamento de Reprodução Animal na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.
“Através de uma espécie filogeneticamente mais próxima à atual, que, no caso do lobo-terrível, seria o lobo-cinzento, que é uma espécie que hoje existe, você encontrar nestes genomas — sequências completas de informações contidas no DNA — semelhanças e, principalmente, diferenças”, completa Ernesto Goulart, docente do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva no Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo.
Por isso, Marcelo enfatiza que Rômulo, Remo e Khaleesi estariam mais próximos do lobo-cinzento do que do lobo-terrível, que, para ele, segue extinto. “Na hora que você olha, tem-se a impressão de estar olhando para o outro animal, como ele teria sido, dos registros que se tem. Mas, se for fazer uma análise genética, ele é muito mais próximo do lobo-cinzento do que do lobo-terrível”, esclarece.
“Você tem que ter dados fortes o suficiente para embasar uma afirmação tão forte e isso a gente ainda não tem, porque esse é um trabalho que ainda não foi publicado em revistas, com revisão de pares, são só anúncios que foram feitos pela empresa”, complementa Goulart.
Como foram extintos?
Segundo um artigo publicado em 2021 na revista científica Nature, os lobo-terríveis teriam enfrentado desafios em relação à alimentação. A alta estatura deles teria sido um dos fatores, já que, seres menores tiveram mais facilidade para conseguir caçar as presas. Além disso, os animais que serviam de alimento para os estes lobos também devem ter sido extintos, pontua o estudo.
Entenda o processo
Para o procedimento, a Colossal Biosciences utilizou a edição gênica seguida de clonagem, semelhante ao experimento com a ovelha Dolly, em 1996. Depois disso, o material modificado geneticamente foi inserido em um óvulo de um animal filogeneticamente próximo, que poderia tanto ser uma cadela quanto uma loba.