
No Brasil, a convivência com a natureza revela encontros que podem ser tão fascinantes quanto perigosos. Em diversas regiões—especialmente no Cerrado, Caatinga, Amazônia e Mata Atlântica—moradores, trabalhadores rurais e visitantes se deparam com cerca de 370 espécies de serpentes, das quais aproximadamente 55 possuem veneno.
Quando essas espécies entram em contato com pessoas, o reconhecimento imediato de suas características, o preparo para agir rápido e a busca por atendimento médico tornam-se imprescindíveis para evitar consequências graves.
Como identificá-las
As serpentes, pertencentes à classe Reptilia e à ordem Squamata , destacam-se pela ausência de membros e pálpebras. No caso das peçonhentas, sua capacidade de inocular veneno se deve a presas especialmente adaptadas para esse fim.
Muitas delas possuem fossetas loreais – estruturas sensoriais capazes de detectar variações de temperatura, que auxiliam na caça.
Por exemplo, as cascavéis podem ser facilmente reconhecidas pelo chocalho na cauda, enquanto as jararacas e surucucus exibem essas fossetas para localizarem suas presas.
Essa identificação é fundamental para que, em uma situação de risco, evite-se a aproximação e as medidas adequadas sejam tomadas.
Cascavel (Crotalus durissus)

Habitante de áreas abertas e secas, como o Cerrado e a Caatinga, a cascavel, também conhecida em algumas regiões como boicininga, utiliza o chocalho na cauda para advertir possíveis ameaças.
Seu veneno, que atua no sistema nervoso e muscular, está presente em cerca de 7% dos casos de picadas.
Jararaca (Bothrops jararaca e outros do gênero)

Envolvida em aproximadamente 90% dos acidentes com serpentes no país, a jararaca se camufla muito bem em ambientes variados.
Seu veneno hemotóxico pode interferir na coagulação do sangue, causar forte dor, inchaço e até necrose dos tecidos — e sua pesquisa ajudou no desenvolvimento do medicamento Captopril.
Coral Verdadeira (Micrurus corallinus e similares)

Embora sejam as mais venenosas, os encontros com corais verdadeiras são raros por seu comportamento reservado e habitat menos acessível.
A coloração com anéis vivos serve como alerta para predadores, enquanto seu veneno neurotóxico pode levar à paralisia respiratória.
Surucucu (Lachesis muta)

Reconhecida como a maior serpente peçonhenta das Américas, a surucucu pode ultrapassar os quatro metros de comprimento e habitar florestas tropicais, como partes da Amazônia e Mata Atlântica.
Seu veneno atua de maneira dupla, sendo tanto hemotóxico quanto neurotóxico.
Cuidados e prevenção
Para reduzir a chance de acidentes, é recomendável adotar algumas medidas simples:
- Utilize proteções: Use botas e perneiras ao caminhar por áreas com vegetação densa;
- Evite áreas de risco: Não mexa em tocas, buracos ou áreas onde haja grande presença de roedores;
- Mantenha o ambiente limpo: Reduza atrativos para as serpentes ao redor de residências.
Em caso de encontro inesperado ou acidente, mantenha a calma, tente registrar (por foto ou descrição) as características do animal e procure assistência médica imediatamente. Acionar o Centro de Controle de Zoonoses ou o Corpo de Bombeiros pode ser decisivo para a identificação da espécie e o tratamento adequado.
Tratamento e mitos
O principal tratamento contra as picadas é o soro antiofídico, cuja produção é liderada pelo Instituto Butantan. Existem diferentes tipos, como:
- Soro antibotrópico: para acidentes com jararacas;
- Soro anticrotálico: para picadas de cascavel;
- Soro antielapídico: para corais verdadeiras;
- Soro antibotrópico-laquético: para surucucus.
É importante destacar que práticas como sugar o veneno ou aplicar torniquetes não são recomendadas, pois podem agravar o quadro clínico.
Cobra ou serpente?
No dia a dia, o termo “ cobra ” costuma ser usado para designar todos esses répteis, mas, tecnicamente, “ serpente ” é o nome correto para as espécies da subordem Serpentes. Ou seja, enquanto todas as cobras são serpentes, o uso popular nem sempre reflete essa distinção científica.