
O resgate de um filhote de onça-pintada em Santo Antônio de Içá, no Amazona — a 879 km de Manaus — gerou questionamentos nas redes sociais sobre o local para onde o animal foi transferido. O filhote, chamado Golias Goes, foi inicialmente colocado em uma estrutura improvisada, o que gerou críticas de internautas.
Comentários como "Dentro da lama?", "Vai direto para a jaula" e "Daí para o cativeiro" foram publicados em redes sociais como Instagram e Facebook. O animal ficou sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente após ser resgatado pela Polícia Militar do Amazonas (PM-AM).
Sem um espaço adequado no município, Golias foi devolvido temporariamente à família que o encontrou. Dias depois, foi retirado novamente e alocado em um abrigo provisório.

Na sexta-feira (7), uma lancha transportou o filhote para Tefé, também no AM. A equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e do Instituto Mamirauá organizou a transferência do animal para a capital amazonense. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, foi utilizada uma caixa adaptada para o transporte.
A repercussão do caso levou a família a criar um perfil no Instagram, @goesgolias, para compartilhar a rotina do filhote. O perfil, criado na quinta-feira (6), já conta com milhares de seguidores e exibe imagens do animal, incluindo momentos com familiares.
A legislação ambiental brasileira proíbe a criação de animais silvestres sem autorização. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) prevê penalidades para quem captura, transporta ou mantém espécimes da fauna nativa sem permissão das autoridades competentes.
Especialistas alertam que manter um animal silvestre em ambiente doméstico pode trazer riscos. Além do impacto no comportamento do filhote, há perigo para a comunidade, já que uma onça adulta pode representar ameaça em áreas urbanizadas.
O biólogo e influencer Henrique Abrahão Charles comentou o caso e criticou a permanência do animal com a família. "Você está falando de um filhote de onça, você não está falando de uma capivara. Uma coisa é do tipo ‘Ah poxa, o Agenor morava lá no interior, no meio do mato, a capivara já estava ali, ela tinha acesso livre…’. Ok, você pode até discutir sobre isso, outra coisa é um filhote de onça no meio da vizinhança. Onde vocês estão com a cabeça?“, disse. “A família não pode ficar com a onça, então tirem essa história da cabeça“.
O especialista continua: "Onça é um gato, cara, e gato pula muro. Imagina aí na vizinhança uma onça perambulando. O que vai acontecer é que pode acabar atacando uma pessoa porque ela vai estranhar, e aí pode tanto matar um cachorro quanto até mesmo acabar causar um acidente muito grave, então é uma irresponsabilidade muito grande que uma família crie uma onça“.
Relembre o caso
Na última terça-feira (4), a Polícia Militar do Amazonas, por meio da 3ª Companhia de Polícia Militar (CPM), resgatou o filhote, nomeado pela família como Golias. A ação foi feita em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
"O animal foi encontrado em uma residência na Rua do Porto das Pedras, no bairro Independência. No local, os policiais conversaram com o responsável, que relatou ter encontrado o filhote durante uma caçada há cerca de oito meses e decidido levá-lo para casa. Com o tempo, a onça se tornou dócil e recebeu o nome de 'Golias'. Após ser informado sobre a ilegalidade da posse de animais silvestres, ele optou por entregá-lo voluntariamente e assinou um termo de entrega", explica a PMAM.
"A onça foi levada à Secretaria de Meio Ambiente, onde passou por uma avaliação veterinária. O exame confirmou que se trata de um macho, com aproximadamente oito meses de idade, pesando cerca de 38 kg e com uma envergadura de 1,58 m. Devido ao longo período de convívio com humanos, o animal precisará passar por um processo de readaptação antes de ser reintroduzido à natureza", acrescenta.
O bicho voltou para o lar onde era criado. Isso porque a cidade não tem estrutura para abrigar o filhote. Golias ficará na residência até ser resgatado pelo Ibama ou por outro órgão responsável. Fora a multa, a guarda e posse de animais silvestres, sem a devida autorização, pode resultar em detenção de 6 meses a 1 ano. Isso porque as práticas são consideras criminosas, segundo a Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998).