Maria Angela cria próteses para animais silvestres, evitando que sejam sacrificados; conheça o trabalho da ortopedista
Reprodução/Instagram
Maria Angela cria próteses para animais silvestres, evitando que sejam sacrificados; conheça o trabalho da ortopedista

A médica veterinária e zootecnista Maria Angela Panelli, de Barretos, interior São Paulo, decidiu fazer a diferença, salvando a vida de animais que seriam sacrificados. Especialista em ortopedia animal, ela começou a trabalhar com pets convencionais, como cachorros e gatos, até ter seu caminho cruzado com um animal diferente que precisava de ajuda.

Uma maritaca foi levada até seu consultório por agentes da Polícia Ambiental para eutanásia. A ortopedista lembra que a ave estava com as partes superior e inferior do bico quebradas, então pediu autorização para que pudesse usar seus conhecimentos para tentar resgatar o animal, e deu certo.

"A permissão [da Polícia Ambiental] foi concedida, e foi aí que tudo começou", conta Maria ao Canal do Pet . "Até então eu não trabalhava com [animais] silvestres, mas começaram a chegar muitos para a eutanasia."

Eram levados para eutanasiar animais com lesões, como uma pata ou uma asa quebrada, algo que Maria, uma amante dos animais, não conseguiu aceitar. Desde então, foram salvos mais de 10 mil animais silvestres. "O que mais me marcou foi um veadinho campeiro, que a gente teve que colocar uma prótese e ficou tudo bem", relembra.

Um trabalho por vocação

A paixão pela ortopedia veterinária veio ainda na faculdade. "A partir do momento em que a matéria me foi apresentada, eu já sabia que era aquilo que eu queria. Porque eu adoro trabalhos manuais, e na ortopedia você tem que ter planejamento e muita criatividade com trabalho manual", afirma.

E toda essa criatividade é colocada em prática para criar as mais diversas próteses para esses animais, de diferentes espécies e tamanhos, o que não é um trabalho simples ou barato - mas que Maria Angela faz totalmente de graça.

"Eu não cobro porque fico com pena dos animais e, é claro, são animais sem tutor, de vida livre, que são resgatados pela Polícia Ambiental, por populares, e eu não consigo fazer a eutanasia, simplesmente falar: 'Mata! Não tem mais jeito!'. Eu não consigo!", conta a zootecnista.

Apesar de não cobrar pelo trabalho, a veterinária garante: "Esse trabalho voluntário foi uma semente que eu plantei. Porque depois que esse trabalho ficou conhecido nas redes sociais, muitas pessoas vêm do Brasil inteiro em busca de ajuda para seus animais de estimação, dos quais eu posso cobrar corretamente pelo meu trabalho", diz a veterinária, destacando que todos os animais silvestres tutoriados que atende são devidamente legalizados.

Maria Angela diz não receber nenhuma ajuda externa de orgãos públicos, sejam federais, estaduais ou municipais. "A única ajuda vem de alguns seguidores [nas redes sociais], que entram em contato direto comigo e fazem alguma doação, que são super bem-vindas."

Muitos animais salvos

Entre os mais de 10 mil animais resgatados, que foram salvos da eutanasia graças às próteses elaboradas pela ortopedista, estão as mais variadas espécies.

Entre as aves, muitos psitacídeos (grupo que inclui aves como papagaios, periquitos e araras) e columbiformes (grupo que inclui pombas e rolinhas). Já entre os mamíferos, são animais como veados, bugios (espécie de primata), cachorros do mato, onça, onça-parda, gato-do-mato, tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, quatis, entre outras. "São realmente muitas as espécies", comenta a veterinária.

Um trabalho contínuo

Após colocar as próteses, a veterinária afirma que é necessário manter um cuidado com a manutenção com o passar do tempo.

"As próteses consistem em uma 'alma de titânio', quer dizer, o que vai dentro do osso, dentro da medula óssea, é feito com metal titânio, totalmente sob medida", detalha a especialista. "Já a parte externa, que chamamos de exoprótese, é feita com resina acrílica."

"As próteses em bicos, por exemplo, se a gente pega fraturas de bidiais para distais, na ponta do bico, o bico pode crescer, e ir empurrando a prótese", explica. "Com isso, a prótese se torna um molde para que o bico cresça corretamente. Mas é importante fazer sua manutenção, sim!"

A polêmica dos animais silvestres

O tratamento com animais silvestres costuma gerar muita polêmica, e Maria Angela afirma que não está livre disso, recebendo críticas até mesmo de outros veterinários.

"Bota polêmico nisso! Eu sou muito criticada, até por alguns colegas [de profissão], que falam: 'Poxa! Mas você vai colocar uma prótese num gavião? Um gavião sem uma pata, não consegue segurar a presa para poder dilacerar com o bico!'".

A ortopedista explica que animais que recebem qualquer implante, prótese, ou tiveram uma fratura de osso, não podem voltar para a natureza. Uma vez resgatados, esses animais são levados para os cuidados de ONGs, santuários, ou zoologicos.

"Esses animais não podem voltar para a natureza, além de terem sua vida em risco, eles colocariam em risco a vida de um possível predador", ela exemplifica. "Se um animal desses for predado por um lobo, por exemplo, o lobo vai engolir uma placa de metal, um parafuso, e esse lobo pode vir a óbito por causa disso. Então, ele [animal com protese] não é solto na natureza."

Depois de salvos com a proteses, Maria Angela explica, "eles são encaminhados pela Polícia Ambiental para outros lugares, como zoológicos, ONGs, santuários". A veterinária pontua que é fundamental preservar a vida desses animais - lembrando que alguns correm até mesmo risco de extinção.

"Um animal desse é um banco genético vivo. Porque ele tem todo o sistema reprodutivo perfeito. E outra, fazendo a eutanásia, a gente está matando mais um exemplar daquela espécie. Então, com certeza [salvá-los] só traz benefício", aponta a veterinária.

Apesar de ajudar na preservação das espécies, a veterinária ressalta ainda que enfrenta muitos críticos. "Existem pessoas que são contra e me criticam. Mas eu acho que estou fazendo o certo, tenho a minha consciencia limpa, de que eu estou preservando aquela espécie, com bancos genéticos vivos. Mesmo com uma prótese, ele pode se reproduzir."

Um trabalho como o de Maria Angela ainda é incomum no Brasil. "Existem colegas profissionais que também fazem isso aqui no Brasil, não sou só eu", ela diz. "Contudo, realmente não é tão fácil de encontrar. Nós já demos alguns cursos de próteses de bico e membros em aves, e já estamos organizando a quinta edição", finaliza.

Maria Angela Panelli com um de seus pacientes Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Maria Angela Panelli com um de seus pacientes Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Maria Angela Panelli com um de seus pacientes Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Maria Angela Panelli com um de seus pacientes Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de pé em Pássaro Preto! Procedimento realizado no @bestvetcmv em São Paulo Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de pé em Pássaro Preto! Procedimento realizado no @bestvetcmv em São Paulo Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de pé em Pássaro Preto! Procedimento realizado no @bestvetcmv em São Paulo Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de pé em Pássaro Preto! Procedimento realizado no @bestvetcmv em São Paulo Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de rinoteca (bico superior) em Arara Canindé Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de rinoteca (bico superior) em Arara Canindé Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de bico em Calopsita Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de bico em Calopsita Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de membro inferior em Rosela! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Prótese de membro inferior em Rosela! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Galo com problemas locomotores! Foram adaptadas órteses corretivas temporárias nos pezinhos! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Galo com problemas locomotores! Foram adaptadas órteses corretivas temporárias nos pezinhos! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Galo com problemas locomotores! Foram adaptadas órteses corretivas temporárias nos pezinhos! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Galo com problemas locomotores! Foram adaptadas órteses corretivas temporárias nos pezinhos! Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli
Jabuti atropelado teve fraturas no casco e na coluna provocando sua paraplegia! O animal recebeu rodas para a vida continuar com conforto Reprodução/Instagram/Maria Angela Panelli

Quer ficar por dentro das principais notícias do dia?  Clique aqui e faça parte do nosso canal no WhatsApp 

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!