Estudo chinês aponta gatos mais suscetíveis ao Covid-19; especialistas rebatem

Pesquisadores brasileiros observaram falhas no estudo chinês; um deles chegou a afirmar que não publicaria os resultados

Hong Kong e Bélgica relataram casos de gatos infectados com o novo coronavírus. Além disso, cachorro e tigre foram diagnosticados com o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Isso causou um alerta no mundo todo e estudos começaram a ser realizados. Um deles, feito pelos cientistas do Instituto de Pesquisa Veterinária de Harbin, na China, na semana passada apontou os gatos como os animais de estimação mais propensos a ter Covid-19. 

Cientistas chineses apontam que os gatos são os animais de estimação mais suscetíveis ao novo coronavírus
Foto: shutterstock
Cientistas chineses apontam que os gatos são os animais de estimação mais suscetíveis ao novo coronavírus

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Os testes foram conduzidos em pares de animais e mostraram que, os felinos, além de terem os sistema respiratório e o intestino infectados, são capazes de transmitir o coronavírus pelo ar para outros indivíduos da mesma espécie, ou seja, de gato para gato e não de gato para humano. 

Ainda de acordo com as pesquisas do instituto chinês, cães não são totalmente imunes ao novo coronavírus. Contudo, eles têm uma suscetibilidade muito baixa. De sete animais utilizados no estudo, apenas dois chegaram a produzir anticorpos contra o vírus. Os cientistas também fizeram testes em porcos, frangos e patos, mas todos obtiveram resultados negativos para o Covid-19.

Porém, especialistas brasileiros observaram falhas no estudo chinês. Em reportagem publicada no Jornal da USP, Paulo Eduardo Brandão, do Laboratório de Zoonoses Virais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ/USP), afirmou: “Se eu fosse revisor e recebesse esse artigo, negaria a publicação”. O medo do professor é que as pessoas tirem conclusões precipitadas sobre o assunto. 

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Fernando Zacchi, assessor técnico da presidência do Conselho Federal de Medicina Veterinária, explica que, estatisticamente, os casos confirmados são isolados e, epidemiologicamente, esses animais não representam fonte de infecção significativa, com potencial de disseminação da doença.

Cristiano Nicomedes, presidente da Associação Brasileira de Clínicos de Felinos (Abfel), diz que "a validade dos testes em animais torna-se, no mínimo, controversa, já que saber que o animal possui o vírus, pelo menos no estágio de conhecimento que possuímos agora, não significa que essa possa ser uma informação útil”. Isso porque existe uma grande diferença entre encontrar o agente infeccioso no organismo do animal e ele ser capaz de desenvolver e transmitir qualquer doença. 

Diante desse cenário, no qual não há nada comprovado, o mais indicado é que os animais de estimação não tenham contato com pessoas infectadas.  “O tutor infectado, ao espirrar ou tossir, poderá espalhar partículas com vírus na pelagem do animal. Se o pelo estiver contaminado e outra pessoa o tocar, não há garantia de que não haverá transmissão”, explica o veterinário Fernando.