No Dia Nacional de Combate à Leishmaniose, campanha alerta o avanço da doença

Antes a doença ficava mais restrita à zona rural, mas casos foram registrados em grandes cidades como Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS)

A Leishmaniose é uma doença extremamente perigosa, já que não tem cura e pode matar. Para se ter uma ideia, ela é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das seis doenças parasitárias mais importantes do mundo, principalmente por ser uma zoonose - que atinge tanto humanos como animais. 

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Transmitida apenas pela picada de um mosquito contaminado, a Leishmaniose não é contagiosa. Contato direto com uma pessoa ou animal contaminado não propaga a doença. Mas, mesmo assim, no Brasil, quando um cachorro adquire a enfermidade, na maioria dos casos, passa por eutanásia. 

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A Leishmaniose tem tratamento e o cachorro contaminado não precisa sofrer eutanásia

O que poucos sabem é que existe um tratamento que pode controlar os parasitas e manter o cachorro vivo, sem que os humanos corram risco. Para evitar esse problema maior, a prevenção é, sem dúvidas, a melhor opção. 

Esta sexta-feira (10) é o Dia Nacional de Combate à Leishmaniose e a campanha "Não mate, trate" tenta conscientizar as pessoas em relação a enfermidade que antes estava restrita à zona rural e ao nordeste e agora começa a ser registrada em grandes centros como Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS). 

Confira alguns pontos que você precisa saber. 

Conhecendo melhor a Leishmaniose

A Leishmaniose Visceral é causada por um parasita e está presente no mundo todo: Ásia, Europa, Oriente Médio, África e Américas. Ela é uma zoonose, podendo atingir tanto animais (caninos, felinos, roedores, marsupiais, primatas), quanto o ser humano. 

A transmissão acontece a partir da picada de um mosquito palha, que pica um animal contamido e depois um humano, ou vice-versa. 

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A Leishmaniose é transmitida apenas pelo mosquito palha e não pelos cachorros ou outros animais

Nos cães, a doença é silenciosa em 60% dos casos. Os principais sinais são a perda de peso, machucados na pele, muita fadiga e crescimento exagerado das unhas. 

Para evitar a  morte dos animais por eutanásia algumas ações são tomadas. A segunda semana de agosto, por exemplo, é conhecida como a Semana de Combate à Leishmaniose Visceral Canina, já que o dia 10 do mesmo mês foi instituído pelo Ministério da Saúde como o Dia Nacional de Combate à doença.

A data celebra a luta pela vida animal. Após serem infectados pela picada do mosquito palha, muitos deles não morrem por conta das complicações, mas por que são eutanasiados. Isso ocorre devido à falta de informação. "Muitos animais ainda são levados à eutanásia sem que as pessoas sequer sejam informadas sobre a possibilidade de tratamento", alerta o médico veterinário da Virbac, Ricardo Cabral.

Tratamento

Hoje em dia já foram desenvolvidos medicamentos que tratam a doença. Não há cura, mas o parasita é inibido e sua reprodução controlada, impedindo que o mosquito que picou o cachorro contaminado transmita a doença. Em outras palavras, o animal poderá obter a cura clínica e epidemiológica, reduzindo significativamente a quantidade de parasitas em seu organismo e, com isso, deixar de ser transmissor da doença.

Além de ser pouco conhecido, a eficácia do remédio é também ainda muito questionada. Tanto que o Centro de Zoonoses das cidades sempre seguem com a eutanásia em casos de contaminação de animais. 

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Normalmente, esse medicamento possui a miltefosina em sua composição, um princípio ativo que age na membrana do parasita, provocando sua morte e evitando sua reprodução. O produto só pode ser adquirido mediante a prescrição de um veterinário e deve administrado em uma dose diária única de 2 mg/kg durante 28 dias consecutivos.

"Os animais devem ser reavaliados a cada quatro meses, pois, embora não sejam infectantes, permanecem parasitados pelo resto da vida. Essa reavaliação indicará se há necessidade de um novo ciclo de tratamento", explica Ricardo Cabral. 

Foto: reprodução shutterstock
O medicamento melhora as condições do cachorro com Leishmaniose


Prevenção, a grande aliada

Para evitar que o cachorro seja contaminado com a Leishmaniose Visceral Canina o dono pode praticar algumas prevenções. 

O combate à proliferação do mosquito palha é fundamental para reduzir a incidência da doença. "A Leishmaniose Visceral Canina não é transmitida por mordida, arranhão, lambedura, urina ou fezes do cachorro. O animal é apenas um 'reservatório' para os mosquitos. A transmissão ocorre quando as fêmeas do mosquito palha picam cães ou outros animais infectados e depois picam o homem", esclarece Cabral.

Para impedir a proliferação do inseto é necessária a adoção de medidas simples, que vão desde o uso de repelentes até a limpeza periódica dos quintais e da casa, como retirada das frutas em decomposição, do material orgânico e das folhas que caem das árvores.

Além disso, a vacina é comercializada no Brasil desde 2004. O ideal é que seja dada aos cães no quarto mês de vida em 3 doses separadas. A promessa de eficácia gira em torno dos 98%. 

Rumo às grandes cidades

De acordo com um artigo publicado, em junho, no portal da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), a doença antes restrita à zona rural e à região Nordeste, avança para as grandes cidades. As cidades de Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS) registraram os primeiros casos em humanos no ano passado.

Além disso, um estudo elaborado pela Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) e divulgado em fevereiro deste ano, revela que a Leishmaniose Visceral Humana segue rumo à capital paulista. Segundo esse trabalho, o primeiro caso foi registrado no estado de São Paulo, em 1980, no município de Araçatuba. De lá até 2016, mais de 2,7 mil pessoas moradores de cerca de 100 municípios do interior e do litoral paulista contraíram a doença – no Guarujá, duas crianças morreram no final de 2016. 

Por isso, cada vez mais é importante conhecer a Leishmaniose e tudo que existe por trás dela. Praticar a prevenção e optar pelo tratamento dos cães e outros animais é sempre a melhor solução.