O médico-veterinário Léo Duarte hoje é conhecido como
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O médico-veterinário Léo Duarte hoje é conhecido como "o pai da Vitória"

Meu nome é Leonardo, mais conhecido como Leo Duarte, às vezes como “o cara dos dogs”. Sou médico-veterinário de formação e atuei na área por seis anos em uma multinacional do ramo de ração. Hoje me dedico às redes sociais para mostrar como os pets podem (e devem!) ser incluídos em hotéis, restaurantes, bares, mercado etc.

Tenho dois cachorros Border Collie e sempre tive vontade de adotar um outro , mas me batia uma insegurança quando pensava em pegar um pet adulto. Na minha vida, sempre criei meus cachorros desde filhotinhos, que cresciam comigo, e adotar um adulto poderia vir com seus costumes, vivências, traumas e eu achava que não saberia lidar com essa situação, mas a vida me deu uma lição dois anos atrás.

Nessa época, eu tinha uma namorada, morava em Campinas, interior de São Paulo, e ia a cada 10 ou 15 dias a Piracicaba (a 1h20 dali) para visitar meus amigos e curtir um rolê com eles. Certo dia, eu estava voltando para Campinas de carro para viajar com minha namorada para Campos do Jordão. Peguei a rodovia Dom Pedro por volta das 9h12 da manhã e, quando passava no km 137, percebi que os carros estavam desviando de algo. Quando me aproximei, logo avistei um cachorro deitado na faixa no meio. Fui chegando próximo e parei meu Jeep verde do lado do animal, abri a porta do carro para sinalizar e não deixar que nenhum carro a atropelasse. Ela estava viva, estava lúcida, porém muito assustada.

A cada carro que passava do nosso lado no meio da rodovia, ela virava a cabeça assustada. Como ainda era cedo, o chão ainda estava fresco e o sol quente não estava quente. Comecei a acenar na pista para que todos os carros parassem e uma família parou do meu lado esquerdo, outra menina parou do lado direito e toda a rodovia parou.

A Vitória foi atropelada e abandonada na estrada
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A Vitória foi atropelada e abandonada na estrada

Olhei para a cachorrinha, que estava ali com a cabeça ensanguentada, e percebi um corte em formato de V na testa. Eu tirei uma camisa polo branca que estava vestindo (lembro muito bem), cheguei por trás dela, o pessoal a distraiu e em um só golpe eu a segurei para que não pudesse se machucar. A menina que parou do lado direito abriu minha mala que estava na traseira do carro, pegou uma toalha, estendeu no porta-malas e eu coloquei a cachorra lá. Neste lugar ela estaria bem segura porque o Jeep é um carro cinco portas, ou seja, o porta-malas é conectado com o interior do carro e tinha muita passagem de ar.

Eu não sabia o que tinha acontecido, a cabeça dela aberta, ela tentava se rastejar de medo e eu só sabia que ela tinha sido atropelada.

Imediatamente, agradeci a todas as pessoas que me ajudaram nesse resgate, me despedi, entrei no carro e rodei por volta de 1 km até que parei no acostamento e comecei a falar com Deus:

- Estou indo viajar. Minha namorada está vindo de São Paulo pra me encontrar pra irmos pra Campos do Jordão, temos horário marcado... o que eu vou fazer?

Desci do carro, tirei uma foto da cachorra, mandei pra ela, que também era da causa animal. Ela falou:

- Cara, eu vou ficar aqui, corre com ela, depois a gente vê a nossa viagem.

Liguei para um amigo de Piracicaba, o Tiago, que tem o maior hospital veterinário da cidade, ele pediu que levasse o animal até lá e assim o fiz. Estabilizamos a cachorra, demos medicações para cessar a dor que estava sentindo, ela ficou calma, fechamos o corte da cabeça dela, entramos em contato com uma clínica de raio-X, ultrassom e exame de sangue para ver o que ela tinha. Quando percebi que estava tudo bem, meu amigo me disse “Leo, vai viajar agora”.

Passei o fim de semana com a namorada em Campos do Jordão, mas aquela cachorrinha não me saía da cabeça. Na segunda-feira pela manhã já voltei a Piracicaba para vê-la e descobri que ela passaria por uma cirurgia na terça-feira. Ela estava com a coluna quebrada, fratura na vértebra L7, na altura do quadril. Como veterinário, eu não realizei a cirurgia dela, mas auxiliei. Pinçamos a medula dela, que não teve nenhum tipo de reação, mas o cirurgião falou “tem risco de ela não voltar a andar”. Depois de 24 horas, já estava dando os primeiros passinhos.

Dei o nome de Vitória porque realmente ela é uma vitoriosa de ter saído viva de um atropelamento e porque na cabeça tinha um corte em formato de V. Eu falei “vai chamar Vitória”.

Eu queria muito participar da vida dela e decidi que ela seria minha. Na casa onde eu morava, em Campinas, não tinha piscina, mas eu queria me responsabilizar pela fisioterapia e hidroterapia dela. Na mesma semana, comecei a procurar casa em Piracicaba e estava certo que queria mudar minha vida em função dela. Depois de uns 15 ou 20 dias, eu já consegui mudar para lá, aluguei uma chácara onde tinha grama, piscina, foi quando eu realmente a adotei.

Ela ainda estava debilitada, não andava direito, e comecei o processo de hidroterapia. Consegui fazer a Vitória andar depois de dois ou três meses. Assim começou nossa história: gravamos vídeos, mostrei a história dela, todos os procedimentos dela e as portas começaram a se abrir pra gente.

A Vitória apareceu na minha vida por acaso, um veterinário passando na rodovia, naquele momento, que encontrou um cachorro que tinha acabado de ser atropelado. O ser humano é muito triste porque ele não para. Se deixasse, ela morreria ali. Hoje penso na loucura de parar a rodovia, no desespero mesmo de ser atropelado, de piorar a situação dela, mas agi por instinto e agi como veterinário. Fui incapaz de passar e não prestar um socorro.

Desde pequeno minha vida é pet. Agi pelo amor.

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