Cães têm a capacidade de processar o que falamos e como falamos
Alexandre Rossi fala sobre a habilidade comprovada por um estudo feito na Hungria e publicado na revista científica Science
Olá, amigos do Canal do Pet, tudo bem?
Hoje, eu gostaria de contar um pouco sobre um recente estudo que demonstrou a capacidade dos cães de processar o que falamos e como falamos. Na semana passada, notícias sobre essa pesquisa científica foram muito divulgadas em vários meios de comunicação no mundo e o estudo foi comentado em programas de TV aqui e lá fora.
Mas, o que foi esse estudo?
A pesquisa foi publicada na renomada revista científica Science e foi conduzida pelo grupo do Dr. Adám Miklósi, da Universidade de Eötvös Loränd, na Hungria. Ele é chefe de uma das equipes que mais estuda e publica artigos científicos sobre o comportamento dos cães. No estudo eles conseguiram analisar quais regiões do cérebro dos cachorros são ativadas quando eles processam a fala e a entonação daquilo que é dito pelos seres humanos.
Para isso, 13 cães foram treinados especialmente para permanecerem totalmente imóveis dentro de uma máquina de ressonância. Essa primeira etapa foi muito importante, pois só quando os animais estivessem imóveis é que poderiam ser feitas imagens válidas. Se houvesse contenção física, certamente as respostas cerebrais seriam diferentes, o que invalidaria o objetivo do estudo.
Após a primeira fase foram feitas imagens das reações do cérebro dos cachorros diante de gravações dos treinadores falando algumas palavras, em vários tons, para verificar quais áreas do cérebro se mostravam mais ativas de acordo com as diferentes palavras e entonações. Os cães ouviram palavras conhecidas que significavam elogios, em uma entonação bem animada e neutra, e palavras que não significavam nada em entonações também animadas e neutras.
Resultados
A conclusão após a análise das imagens foram surpreendentes: o lado esquerdo do cérebro dos cães é ativado diante de palavras conhecidas e o lado direito processa a entonação. Ou seja, regiões distintas do cérebro processam duas formas de comunicação também distintas. E o mais bacana: juntando as duas situações (palavras conhecidas e entonação), ou seja, um elogio bem animado, é ativada a parte do cérebro relacionada à recompensa .
A relevância da capacidade
Esse foi o primeiro estudo conhecido a procurar entender como os cães interpretam a linguagem humana, mostrando que a entonação com que são ditas palavras conhecidas pode fazer a diferença para o entendimento correto de uma mensagem que queremos passar aos peludos. Os resultados podem ajudar, portanto, a tornar a comunicação entre humanos e cães ainda mais eficiente do que já vem sendo ao longo de milhares de anos dessa parceria que deu tão certo.
A descoberta pode ser também uma nova luz para entendermos a evolução da linguagem em nós mesmos, já que as mesmas áreas cerebrais ativadas nos cães são utilizadas por nós durante o processo de comunicação, quando nosso cérebro avalia o significado e a entonação das palavras.
Além disso, constatar em outra espécie, diferente da nossa, que mecanismos cerebrais analisam separadamente o significado das palavras e entonação, mas integram as duas, sugere que a capacidade de comunicação pode evoluir mesmo sem a existência de linguagem propriamente dita.
Mais uma vez, é a ciência trazendo conhecimentos sobre a capacidade dos cães que podem nos ajudar a melhorar a nossa relação com os nossos queridos melhores amigos.
Um abraço a todos,
Alexandre Rossi.