Como a cannabis pode melhorar a qualidade de vida dos cachorros

Uso terapêutico avança no país; especialista explica aplicações, cuidados e resultados

Especialista explica como cannabis pode ajudar na vida de cães
Foto: Instagram/@hubdogoficial
Especialista explica como cannabis pode ajudar na vida de cães

A cannabis medicinal começa a ocupar um espaço cada vez maior na rotina de tutores que buscam alternativas seguras e eficazes para tratar seus pets.

Gucci, uma cadela conhecida por entrar em pânico em dias de chuva, hoje enfrenta tempestades de forma bem mais tranquila. A mudança no comportamento é resultado de um acompanhamento veterinário baseado no uso medicinal da planta.

Daniel Tozzo, veterinário especializado em cannabis, explicou ao Canal do Pet que a substância, já regulamentada no Brasil e amparada por estudos, tem mostrado resultados importantes no tratamento de cães. 

Indicações que vão além da dor

A cannabis entra como alternativa terapêutica em casos complexos. O veterinário explica que ela pode auxiliar em doenças inflamatórias, dores persistentes, artrite, displasia, hérnia, pós-operatórios dolorosos e  quadros de ansiedade.

Daniel enfatiza ainda que há respostas positivas em epilepsia, distúrbios gastrointestinais, problemas imunológicos, além de sinais promissores no controle de pressão e frequência cardíaca.

“A cannabis age no sistema endocanabinoide, presente em todos os mamíferos. Esse sistema regula a homeostase, então fazemos um ajuste amplo do organismo”, diz.

Apesar de atuar no organismo de forma parecida com a que ocorre com os humanos, o veterinário alerta que nem todo produto pode ser usado em animais.

“O óleo precisa de um carreador adequado. Alguns, como o de abacate, podem ser tóxicos para cães”, explica.

Por isso, a prescrição veterinária é indispensável: “Um óleo errado pode prejudicar o fígado e causar o efeito oposto ao esperado”.

Benefícios visíveis 

Os avanços são perceptíveis na qualidade de vida. O veterinário conta que a melhora costuma aparecer não apenas no cão, mas também no núcleo familiar:

“É emocionante ver o alívio da família ao perceber que o cachorro finalmente relaxa, dorme, convive bem. Aquele vídeo da Gucci mostra exatamente isso”.

Cada protocolo, no entanto, é individualizado. Há casos de ansiedade de separação, por exemplo, que exigem histórico detalhado e análise do comportamento para que o óleo seja integrado ao manejo adequado.

Riscos e mitos

Embora tenha toxicidade menor que remédios tradicionais, como gabapentina, fluoxetina e amitriptilina, a cannabis ainda enfrenta preconceitos.

“O problema é a falta de informação. Muita gente reduz tudo a ‘maconha’, sem entender que falamos de uma molécula estudada, regulamentada e segura quando usada corretamente”, aponta.

Ele lembra que a popularização do tratamento não surgiu da indústria farmacêutica, mas da própria sociedade: famílias que buscaram na Justiça o direito de produzir ou importar os óleos.

Mas nem todos os cães podem usar cannabis. Animais com insuficiência hepática, por exemplo, precisam de protocolos muito restritos, especialmente quanto ao THC.

“Doses altas podem danificar células hepáticas. Sem orientação veterinária, o risco é grande”, explica.

Daniel Tozzo, veterinário especializado em cannabis
Foto: Arquivo pessoal/Divulgação
Daniel Tozzo, veterinário especializado em cannabis

O cálculo da dose é feito após anamnese completa, idade, peso, condições clínicas, histórico e objetivo terapêutico.

“Não é igual dipirona: tantos quilos, tantas gotas. Cada animal responde de um jeito” , reforça.

Outro ponto crítico é o uso de óleos caseiros ou extraídos sem controle de qualidade. “A pessoa planta em casa, faz um óleo sem padrão, não sabe o que está administrando e depois diz que não funciona. Funciona, mas precisa ser feito corretamente”, afirma.

Ansiedade

Por trabalhar com comportamento, o veterinário observa que a ansiedade é o problema que mais responde ao tratamento.

“A rotina humana estressada afeta diretamente os cães. A cannabis ajuda a regular o sistema endocanabinoide, mas precisa estar associada ao manejo correto”, explica.

Ele relata também bons resultados em dor crônica e convulsões. “Tenho um paciente em que reduzi 80% da medicação anticonvulsivante depois da introdução da cannabis”.

Além dos óleos, no uso humano há sprays, pomadas e outras formas de aplicação. 

Embora a Anvisa regulamente o uso da cannabis , a área veterinária segue protocolos diferentes da medicina humana. Não há venda livre para pets, e o acompanhamento profissional é indispensável para garantir que o tratamento seja feito da forma correta e mais segura possível.